Prefeitos de dez cidades pedem ao governo Merkel que permita entrada de migrantes desabrigados após incêndios em campo na Grécia. Ministro do Interior diz que país receberá apenas 150 menores desacompanhados.
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Em carta conjunta ao governo federal da Alemanha, prefeitos de dez grandes cidades do país se mostraram dispostos a receber refugiados que ficaram desabrigados após incêndios destruírem o campo de migrantes de Moria, na ilha grega de Lesbos, nesta semana.
Segundo informou a imprensa alemã nesta sexta-feira (11/09), o documento inclui apelos para que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o ministro do Interior, Horst Seehofer, abram caminho para permitir o acolhimento dessas pessoas pelas cidades.
A carta foi assinada pelos prefeitos de Bielefeld, Colônia, Düsseldorf, Freiburg, Giessen, Göttingen, Hannover, Krefeld, Oldenburg e Potsdam. Com a iniciativa, eles visam "fazer uma contribuição humanitária para a acomodação de pessoas que buscam proteção na Europa".
Ao mesmo tempo, os líderes municipais se disseram "consternados com o fato de que a União Europeia, apesar dos vários alertas, não foi capaz de evitar essa escalada em Moria, e que persistem as condições desumanas nos campos nas fronteiras externas da Europa".
Municípios e estados alemães não têm autoridade para acolher refugiados por decisão própria, precisando assim do consentimento do governo federal. Mas Berlim tem evitado tomar uma decisão em nível nacional sobre os migrantes de Moria, enquanto tenta traçar uma iniciativa conjunta com outros países da União Europeia (UE).
Sob forte pressão política interna, Seehofer anunciou nesta sexta-feira um acordo entre dez nações europeias, incluindo Alemanha e França, para acolher 400 menores desacompanhados do campo incendiado em Lesbos.
A Alemanha deve receber entre 100 e 150 menores, enquanto a França se comprometeu a acolher o mesmo número. Segundo o ministro alemão, os números exatos serão divulgados assim que as negociações com todos os países participantes forem concluídas.
Seehofer também disse que a Grécia repassou propostas sobre como a Alemanha pode ajudar os migrantes desabrigados em Lesbos. E o governo em Berlim deve manter conversações com organizações humanitárias alemãs sobre como fornecer assistência a esses refugiados.
Novo pacto migratório europeu
O anúncio foi feito em entrevista ao lado do comissário europeu para Promoção do Modo de Vida Europeu, o grego Margaritis Schinas, que declarou que o desastre na Grécia traz uma nova urgência ao bloco europeu por uma reforma em suas políticas migratórias.
"Moria é uma forte lembrança para todos nós sobre o que precisamos mudar na Europa", disse Schinas, por teleconferência, confirmando que a Comissão Europeia apresentará propostas para um novo pacto sobre migração e refúgio em 30 de setembro.
O acordo deve estabelecer medidas de gerenciamento ao longo de toda a rota migratória, desde os países de origem e de trânsito às nações que receberão os refugiados na UE.
Em entrevista à DW, a comissária de Assuntos Internos da União Europeia, Ylva Johansson, disse estar otimista de que todos os países-membros do bloco apoiarão o novo pacto.
"Passei muito tempo conversando com Estados-membros, parlamentos e outras partes interessadas, e eu acho que podemos apresentar propostas holísticas que podem ser aceitas por todos os Estados-membros", afirmou Johansson.
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O incêndio em Lesbos
Mais de 12 mil migrantes, incluindo aproximadamente 4 mil crianças, viviam no campo de refugiados de Moria, o maior da Europa. Dois incêndios destruíram o local entre terça e quarta-feira e deixaram milhares de refugiados desamparados.
Os migrantes passaram agora a terceira noite dormindo ao ar livre sem qualquer tipo de abrigo, a maioria ao longo de uma rodovia que liga o antigo campo ao porto da cidade mais próxima, Mitilene, a sete quilômetros do centro de acolhimento, mas também em estacionamentos ou postos de gasolina.
"Perdemos tudo. Estamos sozinhos, sem água nem medicamentos", lamentou Fatma al-Hani, refugiada síria que se encontra na estrada com uma filha de 2 anos.
Enquanto isso, aumenta a revolta entre os migrantes desamparados, que passaram a realizar protestos contra as condições degradantes. Batendo palmas e entoando canções, milhares de refugiados se reuniram nesta sexta-feira para exigir que sejam autorizados a deixar a ilha e acolhidos por outros países. A fim de controlar os atos e impedir que os refugiados cheguem ao porto de Mitilene, a Grécia reforçou a presença policial no local.
Também nesta sexta-feira, forças de segurança gregas chegaram em massa à ilha de Lesbos para ajudar a construir um novo abrigo substituto para os milhares de migrantes.
Segundo a agência da ONU para refugiados (Acnur), cerca de 11,5 mil requerentes de refúgio, incluindo 2.200 mulheres e 4.000 crianças, ficaram sem abrigo adequado após os incêndios no campo de Moria.
EK/afp/ap/dpa/lusa/epd/dw
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac