Cidades alemãs sofrem com perda de impostos da Volkswagen
Chris Cottrell (ca)2 de setembro de 2016
Wolfsburg, cidade-sede da Volks, não é a única a sentir as consequências do escândalo de emissões de carros a diesel. Outros municípios alemães que abrigam unidades da montadora também estão revendo seus orçamentos.
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Para muitas cidades alemãs, era uma bênção abrigar uma das unidades de produção da Volkswagen. Acompanhando o vertiginoso aumento dos lucros da montadora, a arrecadação fiscal desses municípios disparava. Esse superávit era saudado pelos moradores, que desfrutavam de benefícios fiscais e generosos subsídios para todo tipo de coisa, de cuidados infantis a custos de sepultamento.
Mas tudo isso está mudando, agora que o maior fabricante europeu de automóveis enfrenta tempos de vacas magras. Em 2015, a Volks registrou um prejuízo líquido de 1,6 bilhão de euros (5,8 bilhões de reais). Foi a primeira vez, desde 1993, que a montadora de Wolfsburg registrou um ano completo de perdas.
Além disso, a Volks teve que reservar 16,4 bilhões de euros para cobrir indenizações e custos adicionais relativos ao escândalo de manipulação de dados de emissões de CO2 dos automóveis a diesel. De acordo com pesquisa da agência alemã de notícias DPA, as cidades que antes confiavam na receita fiscal proveniente da Volks se veem agora forçadas a aumentar vários impostos para compensar o déficit em seus orçamentos.
Receita em falta
A municipalidade de Wolfsburg, por exemplo, registrou uma queda de 80% na receita líquida de impostos sobre a atividade comercial. Em vez dos 253 milhões de euros arrecadados pela administração fiscal em 2014, quando a Volkswagen ainda equipava seus carros com dispositivos defeituosos, somente 52 milhões foram registrados no ano passado.
Embora as autoridades fiscais não revelem quanto dessa queda é resultado direto da precária situação financeira da montadora alemã, elas admitem que a fabricante de automóveis é um pilar central da economia local.
Para os contribuintes de Wolfsburg, a receita faltante está se manifestando num acréscimo das despesas para cuidados infantis, dos impostos sobre a propriedade e das taxas de estacionamento. Mesmo ter um cachorro vai ficar mais caro: o assim chamado "imposto canino" vai aumentar 20% para o primeiro animal doméstico e 24% para um adicional.
Um aperto de cintos similar também está acontecendo em Ingolstadt, onde está sediada a Audi, subsidiária da Volks. Em Osnabrück e Salzgitter, a situação não é diferente. Ali se encontram unidades da montadora que produzem, respectivamente, o SUV Tiguan e os caminhões TGS e TGX da subsidiária MAN.
Até morrer ficou mais caro
Na cidade de Weissach, no estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, a Porsche, subsidiária da Volks, opera um centro de pesquisas com cerca de 5,5 mil funcionários. Ali, as autoridades fiscais falam de uma "perda completa dos impostos comerciais da Volkswagen".
Enquanto em 2014 o município arrecadou 70 milhões de euros da Volkswagen, essa quantia baixou para 38,8 milhões de euros em 2015, e se espera que caia ainda mais. Este ano, Weissach espera arrecadar reles 1,5 milhão de euros em impostos sobre a atividade comercial da montadora.
Com a perda de receita, muitos subsídios também foram cortados em Weissach. Até mesmo o preço de uma cremação fúnebre saltou de 145 para 420 euros.
Dez coisas que você talvez não saiba sobre a VW
Abalada por recente escândalo de manipulação de emissões, Volkswagen reúne uma série de fatos curiosos em sua trajetória – de Adolf Hitler ao Fusca e aos lucros bilionários.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Wagner
Carro popular
Você sabia que Volkswagen (carro popular, em alemão) foi uma ideia de Adolf Hitler, desenvolvida por Ferdinand Porsche, fundador da marca homônima? Em 1938, Hitler chegou a construir uma cidade inteira para abrigar a fábrica e seus trabalhadores nas proximidades de Fallersleben, no estado da Baixa Saxônia. Em 1945, a cidade recebeu o nome de Wolfsburg, onde até hoje se situa a sede da Volks.
Foto: DW/J. Dumalaon
Sucesso mundial
Conhecido na Alemanha como "Käfer" (besouro), o Fusca liderou durante muito tempo a lista dos carros mais vendidos no século 20. Antes de a produção ter sido encerrada em 2003, mais de 21,5 milhões de Fuscas foram vendidos no mundo todo.
Foto: DW/E. Schuhmann
As muitas faces da Volks
A empresa percorreu um longo caminho desde a década de 1930. Atualmente, o Grupo Volkswagen engloba 12 marcas. Os carros da Audi, Bentley, Lamborghini, Porsche e Skoda estão entre as mais comercializadas, respondendo por 37% das vendas de 2014.
Foto: Audi AG
Domínio de mercado
Hoje, a Volkswagen realmente faz jus ao nome "carro popular". Mais de um em cada três carros vendidos na Alemanha é do Grupo Volks, com a montadora detendo uma parcela de 36% do mercado alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Um em cada dez
Mundialmente, mais de 10% de todos os carros vendidos no ano passado levava o símbolo de uma das marcas do Grupo Volkswagen. A companhia vendeu mais de 10,2 milhões de veículos em 2014. Por volta de 70% desse total foi comercializado fora da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/Z. Junxiang
EUA: mercado difícil
O cobiçado mercado americano tem mostrado ser uma "pedra no sapato" da montadora alemã. Apenas 6% dos carros produzidos mundialmente pela companhia, por volta de 600 mil, foram vendidos nos EUA no ano passado. Apesar de investimentos imensos, a parcela da Volks nesse disputado mercado gira em torno de 2%, muito atrás de concorrentes como GM, Ford e Toyota.
Foto: picture-alliance/dpa
Primeira posição em jogo?
Em julho, a Volks ultrapassou a Toyota como a maior vendedora de carros do mundo. A montadora alemã também lidera o ranking das montadoras em termos de receitas. Em 2014, a companhia registrou um volume de vendas de 202,5 bilhões de euros. Descontados os impostos, o lucro foi de 11,1 bilhões de euros. Mas, depois do escândalo de emissões, analista alertam para o risco de perda da "pole position".
Foto: picture-alliance/dpa
Empregador global
Até 31 de dezembro de 2014, o grupo empregava aproximadamente 600 mil trabalhadores, tornando-se assim um dos maiores empregadores em todo o mundo. Desses, mais de um terço, cerca de 270 mil empregados, trabalha na Alemanha.
Foto: picture alliance/dpa
Maior indústria alemã
A indústria automobilística é o maior setor da economia alemã, sendo impulsionada pelas chamadas "três grandes": Daimler, BMW e Volks. A indústria emprega cerca de 800 mil trabalhadores, quase 2% da força de trabalho alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Sucesso de exportação
A receita total da indústria automotiva alemã chegou a quase 370 bilhões de euros no ano passado. O setor respondeu por quase um quinto das exportações do país e cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha.