1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Nobel de Química

5 de outubro de 2011

Daniel Shechtman foi reconhecido pela Academia Real das Ciências da Suécia por ter descoberto um novo padrão de disposição atômica em 1982, causando alvoroço na comunidade científica.

Daniel Shechtman levou o Nobel de Química aos 70 anos
Daniel Shechtman levou o Nobel de Química aos 70 anosFoto: Department of Materials Engineering/Haifa

O vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2011 é o israelense Daniel Shechtman. Nesta quarta-feira (05/10), a Academia Real das Ciências da Suécia homenageou em Estocolmo o cientista pela descoberta de quase-cristais, uma estrutura em forma de mosaico antes considerada impossível.

Shechtman verificou em 1982 que, nesses cristais, os átomos estão dispostos em padrões que nunca se repetem. O pesquisador precisou afirmar sua descoberta perante a oposição da comunidade científica, justificou a Academia Real, e mudou a maneira como os químicos veem a matéria sólida.

"É maravilhoso", declarou Shechtman após a revelação do prêmio. O cientista israelense nasceu em Tel Aviv em 1941 e atua no Technion, o Instituto de Tecnologia na cidade de Haifa.

Aos 70 anos, o vencedor do Nobel de Química receberá cerca de 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de euros) na cerimônia de premiação a ser realizada em 10 de dezembro em Estocolmo – data do aniversário de morte do iniciador do Prêmio, Alfred Nobel, falecido em 1896.

Esse foi o terceiro Nobel anunciado em 2011, após o de Medicina e o de Física. Em 2010, o Nobel de Química havia sido concedido ao pesquisador norte-americano Richard Heck e aos cientistas japoneses Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki.

Desafiando as leis da natureza

Em termos químicos, um cristal é um arranjo regular e repetitivo de átomos em um material e esse padrão de átomos influencia suas propriedades físicas. Ao estudar uma mistura de alumínio e manganês no microscópio, Shechtman descobriu um padrão similar aos mosaicos islâmicos, que nunca se repetia e aparentemente contrariava as leis da natureza.

Quase-cristal: novo modelo de disposição atômicaFoto: public domain

Cristalógrofos sempre acreditaram que os cristais possuíam uma simetria rotacional, de modo que, quando são girados, têm a mesma aparência. No dia 8 de abril de 1982 – quando passava um ano no Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia, em Washington –, Shechtman observou cristais de dez pontas, com uma simetria pentagonal. "As pessoas riram de mim", conta o cientista israelense.

Nancy B. Jackson, presidente da Sociedade Americana de Química, chama a descoberta de Shechtman de "uma dessas grandes descobertas científicas que vão de encontro às regras", que causou desconfiança por parte de especialistas.

Ajuda de colegas

Durante meses, Shechtman tentou convencer seus colegas de sua descoberta, até ser convidado a se retirar de seu grupo de pesquisa. O cientista voltou a Israel, onde encontrou um colega preparado para produzir com ele um artigo descrevendo o fenômeno. O trabalho foi inicialmente rejeitado, mas finalmente publicado em 1984, para alvoroço da comunidade científica.

Entre os críticos estava o duas vezes vencedor do Nobel Linus Pauling. Shechtman conta que o colega dizia que ele estava falando besteiras, afirmando que "não existem quase-cristais, apenas quase-cientistas".

Finalmente, em 1987, amigos de Shechtman na França e no Japão conseguiram produzir cristais grandes o suficiente para realizar raios-x e verificar o que ele havia visto no microscópio.

Desde a descoberta de Shechtman, quase-cristais têm sido produzidos em laboratórios. Uma empresa sueca também encontrou-os em um dos tipos de aço mais duráveis que existem, agora utilizado em produtos como lâminas de barbear e agulhas finas específicas para cirurgias oftalmológicas.

Cientistas também estão experimentando utilizar quase-cristais em revestimentos de frigideiras, isolamento térmico em motores, e em dispositivos emissores de luz (LEDs). De acordo com a Academia Real das Ciências da Suécia , os quase-cristais foram descobertos na natureza pela primeira vez na Rússia, em 2009.

Estrutura em mosaico descoberta por Shechtman nos quase-cristaisFoto: public domain

Prêmio merecido

Para especialistas, o Nobel para Shechtman é mais do que merecido. "Esse foi um prêmio que na verdade já deveria ter sido concedido há algum tempo", diz o alemão Gerhard Ertl, vencedor do Nobel de Química em 2007.

"É realmente um novo tipo de estrutura e matéria", afirma Ertl sobre a simetria dos quase-cristais. O cientista alemão explica que se tratam de estruturas artificiais, "produzidas através de métodos de preparação especiais de ligas."

"A princípio, esta é uma pesquisa fundamental em primeiro plano". Porém, a partir daí, diz Ertl, tenta-se obter novos materiais, que são particularmente resistentes ou bons condutores.

Para a integrante da Academia Real das Ciências da Suécia, Sara Linse, o padrão descoberto por Shechtman pode ser considerado arte. "Os humanos criaram padrões similares em escala macroscópica, em cerâmica e em colchas de retalho. A novidade foi encontrá-los também no universo das moléculas e átomos", declarou.

"Sua batalha acabou forçando os cientistas a reconsiderar sua concepção da própria natureza da matéria", destacou a Academia.

LPF/dpa/ap/afp
Revisão: Carlos Albuquerque

Pular a seção Mais sobre este assunto