1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
VariedadesEuropa

Cientistas desafiam tese da África como berço da humanidade

30 de agosto de 2023

Novas pesquisas sobre o fóssil do Anadoluvius turkae, de 8,7 milhões de anos, põem em cheque consenso sobre a origem dos primeiros humanos ao sustentar que os macacos antropomorfos evoluíram na Europa antes de migrar.

Três fragmentos fossilizados do crânio do Anadoluvius turkae, exemplar de 8,7 milhões de anos encontrado na Turquia.
Três fragmentos fossilizados do crânio do Anadoluvius turkae, exemplar de 8,7 milhões de anos encontrado na Turquia.Foto: David Begun

Um fóssil de ao menos 8,7 milhões de anos encontrado na Turquia pôs em cheque a famosa hipótese de que os símios e os humanos vieram da África, sugerindo que os hominídeos, na verdade, teriam sua origem na Europa.

A conclusão é de um estudo publicado recentemente na revista especializada Communications Biology, que coloca o chamado Anadoluvius turkae como parte da árvore evolutiva que gerou chimpanzés, bonobos, gorilas e humanos.

Embora a tese sobre a origem dos primeiros símios e humanos no continente africano seja amplamente aceita, os autores do estudo sustentam que os antepassados de ambos vieram da Europa e do Mediterrâneo oriental antes de migrar para a África cerca de 7 milhões a 9 milhões de anos atrás.

"Nossos achados sugerem ainda que os hominídeos não só evoluíram na Europa ocidental e central, como passaram mais de 5 milhões de anos por lá, espalhando-se pelo leste do Mediterrâneo antes de finalmente se dispersarem pela África, provavelmente devido a mudanças ambientais e à diminuição das florestas", afirmou o coautor do estudo, David Begun, em um comunicado da Universidade de Toronto.

Fósseis em bom estado 

Os restos do A. turkae – um crânio parcial bem conservado, incluindo a maior parte da estrutura facial e a parte frontal do cérebro – foram encontrados em 2015 em um local próximo à cidade de Chanquere, onde foram descobertos os povoados humanoides mais importantes da Eurásia.

"A integridade do fóssil nos permitiu realizar uma análise mais ampla e detalhada, utilizando muitos características e atributos que estão codificados em um programa projetado para calcular as relações evolutivas", acrescentou Begun, que também é professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Toronto.

Do tamanho de um chimpanzé macho grande

Segundo os pesquisadores, A. turkae vivia em um ambiente de floresta seca, provavelmente passava muito tempo no chão e tinha o tamanho aproximado de um chimpanzé macho relativamente grande – entre 50 e 60 quilos – e uma gorila fêmea de tamanho médio – entre 75 e 80 quilos.

"Não temos ossos de seus membros, mas a julgar pelas mandíbulas e dentes dele, pelos animais encontrados ao seu lado e pelos indicadores geológicos do entorno, Anadoluvius provavelmente viveu em condições relativamente abertas, diferentemente dos ambientes de floresta habitados pelos grandes símios vivos", explicou a principal autora da pesquisa, Ayla Sevim-Erol.

Argumentos contra a hipótese africana

Os autores estão cientes de que os achados batem de frente com o consenso de que o berço dos símios e da humanidade é a África. "Ainda é uma das propostas favoritas entre os que não aceitam a hipótese da origem europeia", comenta Begun, para depois argumentar que "enquanto os restos dos primeiros hominídeos são abundantes na Europa e na Anatólia, eles estão completamente ausentes na África até que o primeiro hominídeo apareceu lá, há cerca de sete milhões de anos".

O cientista afirma que essas novas evidências "sustentam a hipótese de que os hominídeos se originaram na Europa e se dispersaram pela África junto com muitos outros mamíferos", mas ressalta que elas não a demonstram em caráter definitivo; para isso, será necessário "encontrar mais fósseis da Europa e da África com idades entre 8 milhões e 7 milhões de anos, para estabelecer uma conexão definitiva entre ambos os grupos".

ra (DW)

Pular a seção Mais sobre este assunto