Distante do Sol e sujeito ao frio extremo, módulo espacial que está na superfície de um cometa não envia sinais à Terra há mais de sete meses, e pesquisadores abandonam esperanças de contato.
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Após sete meses sem notícias do módulo Philae, que se encontra na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, cientistas europeus anunciaram nesta sexta-feira (12/02) que pararam de tentar fazer contato com o robô espacial.
"É hora de dizer adeus", afirmou o Centro Aeroespacial Alemão (DLR). "Infelizmente, a probabilidade de Philae restabelecer contato com o nosso centro de controle no DLR é praticamente nula, e não enviaremos mais qualquer comando", disse o diretor do projeto, Stephan Ulamec.
Ele afirmou ainda que o recebimento de um sinal seria uma grande surpresa. O último contato do módulo com o centro ocorreu no dia 9 de julho de 2015, e todas as tentativas posteriores de se estabelecer uma conexão com o robô falharam.
De acordo com o DLR, o cometa está extremamente frio, com temperaturas chegando a 180 graus Celsius negativos à noite. Essa situação pode ser a causa de o robô, que é do tamanho de uma máquina de lavar roupa, não estar funcionando.
Além disso, o 67P/Churyumov-Gerasimenko se afasta cada vez mais do Sol, e o módulo depende da energia solar para recarregar suas baterias. Nesse ponto, "há pouca esperança de haver um sinal", reforçou Ulamec.
Mas os cientistas ainda não perderam totalmente as esperanças de receber notícias do Philae. Em comunicado, a agência espacial francesa lembrou que a sonda Rosetta, que orbita em torno do cometa, continuará à escuta do módulo por mais um ou dois meses.
Missão para desvendar as origens
Depois de uma viagem de dez anos pelo espaço, o Philae aterrissou em novembro de 2014 no seu destino, tornando-se o primeiro robô a pousar em um cometa. A dramática aterrissagem foi acompanhada por milhares de espectadores e transmitida ao vivo pelas redes sociais.
O módulo, no entanto, acabou se fixando em uma área de sombra, dificultando a captação de energia solar e a recarga de sua bateria. Antes de "apagar", porém, o Philae conseguiu trabalhar cerca de 60 horas e enviar uma grande quantidade de informações sobre o cometa, que os cientistas levarão anos para analisar.
Na medida em que o 67P/Churyumov-Gerasimenko se aproximava do sol, o módulo foi acordando. E, depois sete meses de hibernação, em meados de junho de 2015, ele retormou o contato. Porém, as interações foram sempre irregulares.
A Rosetta continuará acompanhando o cometa até setembro, quando deve se juntar ao módulo na superfície do Churyumov-Gerasimenko. Pouco antes, ela tentará localizar o Philae, o que permitirá aos cientistas determinar a sua localização exata e precisar alguns dos dados por ele enviados.
Atualmente, o cometa se encontra a cerca de 222 milhões de quilômetros da Terra, entre Marte e Júpiter.
"Não devemos ficar triste pelo que não conseguimos, mas felizes com o que conseguimos. Sabíamos que a missão teria um fim", disse Ulamec. O objetivo era aprofundar os conhecimentos sobre o surgimento do Sistema Solar.
CN/afp/lusa/ap
Momento histórico no espaço
Depois de dez anos, a missão Rosetta finalmente chega ao ápice: o pouso do robô Philae num cometa. Agora, o dispositivo capta dados e imagens que podem dar pistas sobre as origens do sistema solar.
Há dez anos, essa dupla — a sonda Rosetta, com o pequeno robô Philae a tiracolo — iniciou o caminho para o seu destino: o cometa 67P Churyumov-Gerasimenko, apelidado de Chury. Em meados de 2014, a Rosetta alcançou o cometa e foi voando ao seu redor em órbitas cada vez menores.
Foto: picture-alliance/dpa/ ESA/ATG medialab
Local de pouso
Essa foto do local de pouso foi tirada pela câmera OSIRIS, da sonda Rosetta, em 14 de setembro de 2014, a uma altura de apenas 30 quilômetros do cometa Chury. O lugar não podia ter detritos, montanhas e vales, e precisava ser ensolarado, para que o Philae recarregasse suas baterias através de painéis solares e, assim, mantivesse contato com a Rosetta.
Foto: ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA
Plano de manobra
O Philae iria pousar com suas três pernas e, em seguida, ancorar com um arpão e parafusos no solo do cometa. Para os desenvolvedores do Philae, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), ficou claro que o pouso seria a parte mais perigosa da missão. Pouco se sabia sobre as características do terreno.
Foto: picture-alliance/dpa/ESA/AOES Medialab
Separação bem-sucedida
Em 12 de Novembro de 2014, veio o grande momento. Às 11h57 (hora local), chegou à sala de controle da Agência Espacial Europeia (ESA), em Darmstadt, Alemanha, o sinal: o Philae havia se separado da Rosetta com sucesso. Agora, a pequena espaçonave precisaria se virar por conta própria.
Foto: ESA/J. Mai
Entusiasmo no centro de controle
"A ESA e os parceiros da missão Rosetta conquistaram algo extraordinário hoje", declarou o diretor geral da agência, Jean-Jacques Dordain. Somente a separação do robô Philae de Rosetta já havia provocado uma onda de excitação no Centro Europeu de Operações Espaciais, em Darmstadt. Depois de sete horas, veio uma notícia melhor ainda: Philae aterrissou no cometa!
Foto: ESA/J. Mai
Longa jornada
Philae e Rosetta viajaram juntos pelo espaço por dez anos. O robô, que aparece aqui como um pequeno ponto branco na imensidão, logo após se desprender da sonda, tem o tamanho de uma máquina de lavar. A função de Philae é coletar imagens e amostras do cometa, que podem conter informações sobre a origem da vida no nosso sistema solar.
Foto: ESA
De olho no cometa
Esta imagem o Philae capturou com sua câmera ROLIS, 40 metros acima do solo do cometa — ou seja, pouco antes de pousar. É possível ver pedrinhas e pedras maiores. O pedaço maior na parte superior tem cerca de cinco metros.
Foto: ESA/Rosetta/Philae/ROLIS/DLR
Imagem inesquecível
Um pedaço de metal branco num cenário de rochas cinzas. Pode não parecer muito, mas esta foto representa um dos maiores sucessos da Agência Espacial Europeia (ESA). O robô Philae, que se desprendeu da sonda Rosetta, tocou o solo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko na quarta-feira (12/11), às 14:03 (horário de Brasília). Esta imagem foi feita pelo próprio robô, direto da superfície do cometa.
Foto: ESA/Rosetta/Philae/CIVA
Em terra firme?
Apesar do pouso bem-sucedido, nem tudo ocorreu como planejado. Os arpões que deveriam prender Philae à superfície do cometa (como mostra esta ilustração) não funcionaram. Isso fez com que o robô se desequilibrasse. O robô parece estar sobre um declive, mas a ESA assegura que ele está firme. "Duvido muito que Philae vá decolar novamente", afirmou Paolo Ferri, chefe de operações da agência.
Foto: ESA via Getty Images
Três pulinhos
Logo após se desprender da Rosetta, Philae tirou esta foto. Depois de tocar o solo três vezes, o robô se estabeleceu no cometa. A preocupação agora é com a bateria. Programada para durar pouco mais de dois dias, ela precisa ser recarregada com energia solar. Há apenas uma hora e meia de luz solar por dia no local de pouso, enquanto o ponto inicialmente planejado ofereceria sete horas de luz.
Foto: ESA/Rosetta/Philae/CIVA
Onde está Philae?
Depois de sua bateria descarregar, o Philae hibernou. Esse foi o momento para os cientistas analisarem os dados que o módulo mandou. A Rosetta permaneceu perto do Chury, cada vez mais perto, e conseguiu breves contatos com o Philae, que enviou mais dados.
Foto: CC-BY-SA-ESA/Rosetta/NavCam/IGO 3.0
Uma questão de perspectiva
Churyumov-Gerasimenko, o cometa onde Philae pousou, parece ser enorme. Mas se comparado à cidade de Londres, é possível ver o quão pequeno ele é. Considerando que o cometa se move a uma velocidade de 135.000 km/h e que Rosetta precisou viajar 6,4 bilhões de quilômetros até chegar lá, fica clara a dimensão da conquista.
Os instrumentos do Philae e da Rosetta encontraram vários tipos de compostos orgânicos no cometa. O interior do cometa foi fortemente vaporizado em julho, quando ele se aproximou do Sol, e pesquisadores da Universidade de Berna descobriram que, entre os compostos do Chury, havia oxigênio molecular. A descoberta deu a entender que o elemento existe desde a origem do sistema solar.