Aquecimento global causado pelo homem, enfraquecimento da corrente de jato e irregularidade da órbita da Lua se combinam nas próximas décadas para provocar enchentes e ondas de calor ainda mais devastadoras.
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Mais de 160 mortos e um número ainda maior de desaparecidos são o saldo, até o momento, das enchentes devastadoras que varreram grande parte do oeste da Alemanha na segunda semana de julho. O choque é avassalador, sobretudo para quem perdeu amigos, parentes, o próprio lar.
Quase ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, uma onda de calor fatal se abateu sobre a costa oeste do Canadá e Estados Unidos, também deixando vários mortos.
Há décadas não se viam catástrofes do gênero, mas meteorologistas alertam que intempéries extremas assim tendem a se tornar mais frequentes num mundo mais quente, já que o aquecimento global está alterando as propriedades da atmosfera.
"A cada aumento de 1 ºC na temperatura, a atmosfera absorve cerca de 7% mais umidade, que causará maiores precipitações no longo prazo", explica Sebastian Sippel, do Instituto de Ciência Atmosférica e Climática de Zurique. Carl Friedrich Schleussner, do Departamento de Geografia da Universidade Humboldt de Berlim, acrescenta: "Em 2021, a questão não é 'se' a mudança climática desempenhou um papel, mas 'até que ponto'."
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Corrente de jato perde força
Não há dúvida de que a mudança climática global causada pelo ser humano afeta os processos termodinâmicos e aquece a atmosfera terrestre. No entanto há um outro fator que ainda precisa ser determinado de forma conclusiva, que diz respeito às correntes de ar quente responsáveis pelo rápido movimento das zonas de alta e baixa pressão nas latitudes temperadas da Europa.
Certos climatólogos acreditam que a corrente de jato, um vento oeste que sopra a cerca de nove quilômetros de altura em torno do Polo Norte, perdeu impulso nos últimos anos, causando ondas no que era um fluxo constante. Um desses especialistas é Andreas Fink.
"Então essas ondas ficam paradas e, dependendo de onde se encontrem, podem causar surtos de calor extremos, como vimos na América do Norte, ou enchentes." Assim, as cheias geradas recentemente pela tempestade Bernd se deveram ao fato de os ciclones e anticiclones não serem propelidos com a velocidade usual, permitindo o temporal se concentrar num único local.
Como a corrente de jato é alimentada pela diferença térmica entre o Polo Ártico e os trópicos, a hipótese é que ela estaria perdendo impulso devido ao aquecimento ártico, reduzindo a distância entre as temperaturas e enfraquecendo o fluxo aéreo.
Órbita lunar irregular
Também preocupa a previsão de que as marés serão mais altas e mais baixas do que o usual, devido a uma irregularidade da órbita da Lua. Embora o evento se repita a cada 18 anos e sete meses, aproximadamente, até a década de 2030 os níveis do mar terão subido tanto que as consequências poderão ser catastróficas.
"Na metade do ciclo lunar de 18,6 anos, as marés diárias regulares da Terra são inibidas: as marés altas são mais baixas do que o normal, e as baixas ficam mais altas", explica a agência aeroespacial Nasa, em seu site. Na outra metade, o efeito se inverte.
Então "a elevação do nível marinho global empurra as marés numa só direção, para mais alto" – o que deverá ocorrer na próxima década. Os pesquisadores preveem longas enchentes, com resultados catastróficos. Combinado ao número crescente de outros eventos meteorológicos extremos, o fato é muito preocupante.
A devastação causada pelas enchentes na Alemanha
Fortes tempestades provocam caos no oeste da Alemanha. Enchentes, deslizamentos e desabamentos de casas deixaram mais de 160 mortos e um rastro de destruição.
Foto: Polizei/picture alliance/dpa
Desabamento de casas
Uma foto disponibilizada nesta sexta-feira (16/07) pelo governo do distrito de Colônia mostra as enchentes em Erftstadt-Blessem. Casas foram engolidas por deslizamentos e várias pessoas estão desaparecidas.
Foto: Rhein-Erft-Kreis/dpa/picture alliance
Rios turbulentos
Em tempos normais, o Kyll é um pequeno afluente do Mosela. Ele flui da região belga da Valônia para os estados federais alemães da Renânia do Norte-Vestfália e Renânia-Palatinado. No distrito de Bitburg-Prüm, na região do Eifel, que foi particularmente afetado pela tempestade, o Kyll transbordou nas proximidades de Erdorf e inundou partes do vilarejo.
Foto: Harald Tittel/dpa/picture alliance
Enchente na metrópole
Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha, com cerca de um milhão de habitantes, também foi afetada pelo desastre das enchentes – como nesta passagem subterrânea , onde se vê apenas o topo de um carro que se projeta da água.
Foto: Marius Becker/picture alliance/dpa
Um vilarejo devastado
Na pequena cidade de Schuld, na região do Eifel, cerca de 50 quilômetros ao sul de Colônia, ruas e casas inteiras foram destruídas pelas torrentes. Esta foto feita por um drone mostra a extensão da destruição.
Foto: Christoph Reichwein/TNN/dpa/picture alliance
Inundação histórica do Ahr
No vale do rio Ahr, as chuvas desencadearam a enchente do século. Quando os indicadores de nível da água falharam na noite de quarta-feira (14/07), o Ahr já estava dois metros acima do recorde anterior. As ruas de Esch (distrito de Ahrweiler) foram tomadas por enxurradas. Vários vilarejos e cidades da região estão completamente inundados.
Foto: Thomas Frey/dpa/picture alliance
Mais de 100 mortos
A primeira fatalidade nas inundações foi relatada na região de Sauerland. Lá, após uma missão de resgate na cidade de Altena, um bombeiro caiu na água ao voltar para o veículo de emergência e foi levado pela correnteza. "Pouco tempo depois, ele só foi resgatado morto", anunciou mais tarde a polícia. A pequena cidade, que se encontra em grande parte inundada, também teve deslizamentos de terra.
Foto: Markus Klümper/dpa/picture alliance
Ajuda do Exército
Alertas de desastres foram emitidos em muitas regiões do oeste da Alemanha. Isso facilita a coordenação entre as autoridades – e a cooperação com a Bundeswehr, as forças armadas alemãs. Com um veículo blindado de resgate e equipamentos pesados de varredura, os soldados avançam para reparar os danos causados pelas enchentes na cidade de Hagen.
Foto: Roberto Pfeil/dpa/picture alliance
Bairros evacuados
Em Leichlingen, os residentes ajudaram uns aos outros durante as enchentes do rio Wupper. Devido às fortes chuvas, o nível do rio subiu tanto que partes da cidade tiveram que ser evacuadas. A área abaixo da represa do Murbach foi particularmente afetada, com ameaças de rompimento de uma barragem.
Foto: Roberto Pfeil/dpa/picture alliance
Em vão
Na quarta-feira (14/07), os bombeiros presentes na área do desastre tentaram prevenir o pior. Uma barreira de madeira deveria proteger o município de Mayschoss, no vale do rio Ahr, das águas torrenciais. No fim, os esforços foram em vão – as forças da natureza prevaleceram.
Foto: Thomas Frey/dpa/picture alliance
Conexões de tráfego interrompidas
Trem parado à noite na estação ferroviária de Kordel, no distrito de Trier-Saarburg, na Renânia-Palatinado. Parte do local foi inundado pelas águas do rio Kyll. O tráfego local e de longa distância está interrompido em grandes partes do oeste da Alemanha, assim como o fornecimento de energia.