Cientistas usam odor humano em armadilha contra mosquitos
Mu Cui (los)15 de agosto de 2016
Mais de 1 milhão de pessoas morrem a cada ano em todo o mundo por doenças transmitidas por mosquitos. Nova arma contra os insetos vetores é totalmente segura e ecológica, asseguram pesquisadores da Holanda e Suíça.
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Pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, e do Instituto Suíço de Saúde Pública e Doenças Tropicais, com sede em Basileia, anunciaram ter desenvolvido uma armadilha para mosquitos inusual: trata-se de um tipo de um sifão em forma de sino que exala um cheiro semelhante ao do corpo humano, atraindo os insetos vetores de doenças.
O equipamento foi testado no Centro de Fisiologia e Ecologia dos Insetos no Quênia. A equipe liderada pelo professor Willem Takken, que conduziu o estudo durante três anos, mostrou que a população dos mosquitos que transmitem a febre amarela reduziu-se em 70% na ilha de Rusinga.
A nova armadilha de odor contém várias substâncias que imitam as exaladas pelos humanos, tais como dióxido de carbono ou ácido láctico. Assim que os insetos são atraídos, um mecanismo de sucção os absorve imediatamente.
O alvo principal são os mosquitos transmissores de malária. Complementando as medidas convencionais, como mosquiteiros e pílulas contra a doença, os cientistas penduraram as armadilhas em forma de sinos diante de algumas casas. Os moradores destas apresentaram uma incidência de infecções 35% menor do que os demais.
Solução 100% ecológica
Takken afirma que "esse é um método de controlar mosquitos de forma ambientalmente sustentável, sem a utilização de inseticidas". E ele também está seguro de que "os mosquitos não desenvolverão resistência".
"Se eles rejeitarem o cheiro humano, então terão que encontrar outras vítimas para sugar o sangue. Nesse caso, poderiam ser pássaros. Mas isso implicaria uma total mudança de comportamento, só possível com um grande salto evolutivo."
O mesmo sifão pode ser usado contra outras espécies de mosquitos que transmitem doenças, como zika, dengue e chikungunya, já que eles também se orientam pelo odor humano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano morrem mais de 1 milhão de pessoas por malária – quase duas mortes por minuto. Entre essas vítimas, 90% vivem na África.
Renke Lühken, pesquisador do Instituto Bernhard Nocht, enfatiza que a ausência de produtos químicos tóxicos nos aromas da armadilha a torna um instrumento totalmente ecológico. Outra vantagem é que a energia necessária para mover o ventilador da armadilha provém de painéis solares, a serem instalados nos telhados das casas e edifícios. A instalação pode também servir, por exemplo, para carregar telefones celulares.
O vírus zika e sua trajetória
O zika contaminou centenas de milhares de pessoas no Brasil e numa série de países a partir de meados de 2015. Conhecido desde 1947, o vírus nunca tinha feito um estrago tão grande.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Rivera
Origem na floresta
O vírus zika foi identificado pela primeira vez em 1947, isolado no sangue de um macaco na floresta de Zika (foto), em Uganda.
Foto: DW/S. Schlindwein
Primeiro paciente na Tanzânia
Em 1952 o zika foi diagnosticado pela primeira vez num paciente da Tanzânia. Acredita-se que o vírus tenha se espalhado pelos países vizinhos nos anos seguintes. Nesse processo, surgiram três cepas diferentes: duas identificadas na África e uma, na Ásia.
Foto: DW/M. Bello
Casos isolados
Entre o primeiro caso e 2007, só foram identificados 14 contágios pelo vírus zika. Não é fácil diagnosticar a doença: até 80% dos contaminados não desenvolvem qualquer sintoma, e os que se manifestam podem ser confundidos com gripe ou dengue. Entre os anos 1970 e 2000, observatórios médicos isolaram o vírus em cinco países da África, quatro da Ásia e um na Oceânia.
Foto: Reuters/I. Alvarado
Primeiro surto
Em 2007 um surto de zika alcançou grandes proporções, pela primeira vez. Na Micronésia, arquipélago com centenas de pequenas ilhas, 5 mil foram infectados pela doença. Por desconhecimento, muitos casos foram confundidos com episódios de dengue ou chikungunya, igualmente transmitidas por mosquitos do gênero Aedes e com sintomas semelhantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Rivera
Surto no Pacífico
Um surto de zika entre 2013 e 2014 em ilhas do Pacífico fez 55 mil vítimas – 11 vezes mais do na Micronésia. A Polinésia Francesa foi a mais afetada. As ilhas Cook, Nova Caledônia e a da Páscoa (pertencente ao Chile) também tiveram casos confirmados.
Foto: Michael Marek
Sinal vermelho
Os primeiros casos de zika no Brasil foram detectados em abril de 2015. O número de infectados cresceu rapidamente, em pleno outono. Até então, os surtos de dengue, também transmitida pelo Aedes aegypti, costumavam ocorrer somente durante o verão.
Foto: EBC
Emergência no Brasil
Médicos brasileiros identificaram um aumento no número de casos de microcefalia congênita em áreas do Nordeste, que associaram à epidemia de zika. Em outubro de 2015, outros nove países da América do Sul e Central registram transmissão local do vírus.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Fabres
Alerta da OMS
A rápida difusão do vírus levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a decretar estado de emergência para os casos de microcefalia em fevereiro de 2016. Um mês depois era confirmada a conexão entre a doença e os bebês nascidos com microcefalia.
Foto: Reuters/Centers for Disease Control
Proteção é melhor defesa
Não há vacina, só tratamento dos sintomas, sendo os mais comuns febre, dor de cabeça, coceira, cansaço e dor muscular e nas juntas. O mosquito costuma picar no começo da manhã e da noite. A recomendação da OMS é usar repelente e cobrir pernas, pés e braços. Ambientes refrigerados também são pouco atraentes para o mosquito. Preservativos previnem o contágio sexual.
Foto: Bayer CropScience
Expansão continua
No primeiro semestre de 2016, foram anotados na Europa cerca de 600 casos de zika em 18 países, todos em indivíduos que visitaram locais com surto da doença. Com a chegada do verão, porém, há risco de aumento de incidência. Desde setembro de 2015, 46 países no mundo registraram surtos de zika pela primeira vez. Só nos Estados Unidos havia 2.200 casos até o fim de junho de 2016.
Foto: picture-alliance/dpa
Polêmica sobre Jogos 2016
Mais de 100 cientistas divulgaram carta aberta pedindo o adiamento ou mudança de local dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Eles consideraram arriscada a exposição ao vírus e a possibilidade de que fosse levado a outros países. No dia seguinte, a OMS descartou a mudança de planos. O governo brasileiro prometeu aumentar o efetivo de médicos nos hospitais e de agentes de saúde durante os Jogos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Sayao
Risco no Rio
Por precaução, diversos esportistas desistiram de participar dos Jogos Olímpicos no Rio. Entre eles, os americanos Jordan Spieth, John Isner e Sam Querrey, e os australianos Bernard Tomic, Nick Kyrgios e Marc Leishman. Já Hope Solo, goleira da seleção americana de futebol, participará, mas publicou no Twitter seu "kit de proteção": um grande frasco de repelente e chapéu de apicultor.
Foto: https://twitter.com/hopesolo
Novas descobertas
O vírus está sendo intensamente estudado por equipes internacionais. Dez países registraram indícios de transmissão da doença de pessoa a pessoa, sem intervenção do inseto e, provavelmente, por via sexual. Disseminado normalmente por mosquitos do gênero Aedes, o zika foi também associado a um aumento dos casos da síndrome Guillain-Barré, que afeta o sistema neurológico.