O Observatório Sírio de Direitos Humanos é uma importante fonte de informação sobre a guerra na Síria. Uma rede de informantes no local relata sobre a guerra que já persiste há cinco anos no país árabe.
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Sempre que algo acontece na Síria, a mídia internacional costuma ficar sabendo primeiro por um atalho através da Inglaterra. Ali, na cidade industrial de Coventry, se encontra a sede do Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês). O único funcionário do instituto fundado em 2006 é Rami Abdulrahman, um exilado sírio que vive há 15 anos no Reino Unido.
Já o número de colaboradores e informantes dentro da Síria é bem maior: 236 pessoas compõem o escritório de Abdulrahman, fornecendo diariamente novas informações sobre a guerra que já persiste há cinco anos no país árabe.
"Nosso pessoal relata de todas as regiões do país", afirmou Abdulrahman em entrevista à DW. "Eles coletam informações tanto em áreas que estão sob controle do regime quando naquelas controladas por rebeldes, pelo 'Estado Islâmico' ou também por curdos."
Graças ao SOHR, a guerra na Síria tem menos segredos. Qualquer grupo que lance um foguete ou ataque ou conquiste uma região, capture ou mate: cada fato é registrado e enviado para Coventry, onde as informações são processadas e divulgadas na internet. Assim, o SOHR complementa as muitas informações que são divulgadas nas redes sociais por ativistas na Síria.
Independência como princípio
Principalmente no início da guerra civil na Síria, o trabalho do observatório foi criticado regularmente. Por exemplo, em 2013 a AsiaNews, agência de notícias pertencente ao Vaticano, publicou um relatório em que o SOHR era criticado por defender extremistas islâmicos para garantir o apoio de todos os grupos rebeldes.
Em conversa com a DW, Abdulrahman rebateu as alegações de parcialidade. Segundo ele, o SOHR é independente – também financeiramente. Se para obter informações o órgão recebesse dinheiro, por exemplo, de um governo, ele perderia a sua imparcialidade, completou. "Os relatos então seriam sempre tendenciosos, a partir do ponto de vista e do interesse de determinada parte. Não praticamos isso. Nós informamos porque acreditamos na democracia e nos direitos humanos."
Informações precisas
Em todo o mundo, a mídia recorre ao observatório e publica números divulgados pelo SOHR, como a quantidade de vítimas da guerra. Essa prática mostra como é difícil obter informações confiáveis sobre os acontecimentos na Síria. Mas ela também revela que os dados que vêm da Inglaterra são em grande parte confiáveis. Jornalistas de renome salientam, porém, que, como em toda guerra, continua sendo essencial consultar outras fontes.
De fato, todas as informações que o observatório coleta desde o início da guerra, há cinco anos, provaram ser verdadeiras, confirma Hasan Hussain da redação árabe da Deutsche Welle. "Até agora, nenhum número divulgado pelo SOHR foi refutado". Hussain diz classificar como neutra a cobertura realizada pelo observatório.
A confiabilidade da informação tem prioridade máxima, afirma Abdulrahman. Segundo ele, a equipe de informantes é grande e formada por pessoas que se conhecem desde antes da revolução. Essas pessoas são motivadas pela esperança de que seu país um dia possa evoluir para um Estado de direito.
Abdulrahman informou que o número relativamente alto de colaboradores permite uma avaliação crítica das informações. "Tudo que publicamos tem que ser confirmado antes por três diferentes fontes diferentes na Síria."
Simpatias políticas
Os colaboradores do Observatório Sírio de Direitos Humanos não escondem suas preferências políticas. Mas eles o fazem na devida seção: na rubrica "Opinião e Artigos". Os textos ali publicados indicam que o SOHR está ligado principalmente às preocupações dos rebeldes seculares (não religiosos).
O observatório tem muitos inimigos, afirmou Abdulrahman. "Porque informamos sobre crimes de todos os lados. Nós temos que fazer assim, pois acreditamos no futuro do povo sírio."
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".