Diana Hodali / Sven Pöhle (ca)31 de agosto de 2015
O discurso sobre a atual crise migratória é muitas vezes composto por afirmações infundadas e preconceituosas na Alemanha. Escolhemos algumas das mais recorrentes para desmitificá-las.
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"Por que os alemães têm que aceitar refugiados?"
A Alemanha respeita as suas leis. O Artigo 16-A da Constituição alemã especifica: "Pessoas perseguidas têm direito a asilo." Isso também se aplica a pessoas que estão marginalizadas em seu país de origem a ponto de ter sua dignidade violada.
"Refugiados recebem mais dinheiro que alemães"
Durante 20 anos, requerentes de asilo, refugiados e os chamados imigrantes "tolerados" – estrangeiros que, por a extradição não ser possível, têm a estada em território alemão carimbada como tolerada em seu passaporte – ganharam cerca de 30% menos do que é considerado um nível mínimo de subsistência na Alemanha. Somente em julho de 2012, o Tribunal Constitucional Federal criticou os benefícios como "evidentemente insuficientes" e os elevou.
Enquanto um cidadão alemão que recebe o Hartz-IV – ajuda social para desempregados de longo prazo – tem uma renda mensal de 399 euros, os benefícios para um requerente de asilo variam entre 281 e 352 euros.
De acordo com a ONG Pro-Asyl, ainda hoje, os refugiados obtêm seus benefícios, em parte, sob a forma de vales de compras ou cartões com os quais podem ser comprados apenas certos produtos em determinadas lojas. Somente aqueles que foram oficialmente reconhecidos como asilados têm direito aos benefícios sociais habituais.
"Os estrangeiros tiram o emprego dos alemães"
Sem um visto correspondente, estrangeiros não podem nem trabalhar nem receber formação profissional. Para requerentes de asilo e migrantes "tolerados", é proibido trabalhar em seus primeiros três meses de residência na Alemanha. Mesmo depois desse tempo, eles têm poucas chances de emprego, porque existem "trabalhadores autorizados", ou seja, alemães, outros cidadãos da União Europeia (UE) ou aqueles que receberam asilo têm preferência na distribuição de vagas de trabalho.
Somente após 15 meses de permanência na Alemanha, os requerentes de asilo e refugiados com situação legal indefinida podem trabalhar. Também é fato que, em muitos setores da vida econômica, falta hoje na Alemanha a mão de obra necessária. E muitas pessoas com boa formação profissional vêm de regiões em conflito.
"Todos os refugiados vêm para a Europa"
Mais de 80% dos 59 milhões de refugiados do mundo permanecem em suas regiões de origem. Por um lado, porque têm muitas vezes a esperança de um retorno rápido à sua terra natal, mas também porque lhes faltam possibilidades para continuar a fuga.
O maior grupo de refugiados de regiões em crise na Síria e no Iraque foi acolhido principalmente por Estados vizinhos no Oriente Médio – não pela Europa.
Agência da ONU para Refugiados (Acnur) estima, atualmente, em 4,08 milhões o número de refugiados sírios que procuraram refúgio em algum dos países vizinhos. Segundo a ONU, somente 348 mil entraram com pedido de asilo na Europa.
"A Alemanha recebe a maioria dos refugiados na Europa"
O número de estrangeiros em busca de asilo na Alemanha em 2014 foi de 170 mil. Até o final de 2015, são esperados 800 mil – o que será um recorde em sua história. Em números absolutos, nenhum país europeu, de fato, recebe tantos requerentes.
Mas numa comparação entre número de habitantes e quantidade de requerentes de asilo, as estatísticas perdem força: a Alemanha tem 2,5 para cada mil moradores e é a apenas a sétima na Europa. A líder do ranking é a Suécia, com oito pedidos de asilo para cada mil habitantes. Países como Hungria, Áustria, Dinamarca e até Malta estão à frente da Alemanha.
Como a Alemanha abriga os refugiados
A Alemanha receberá, só neste ano, até 450 mil refugiados. Mas quem espera por um visto precisar viver em locais bem distintos. Veja na galeria de fotos.
Foto: Picture-Alliance/dpa/P. Kneffel
Alojamento preliminar
Quando os refugiados chegam à Alemanha, vão para um alojamento preliminar. Este, em Trier, no estado da Renânia-Palatinado, tem capacidade para receber 850 pessoas que estejam à espera de um visto. Os refugiados precisam ficar por três meses até serem transferidos para outra cidade ou distrito – dependendo do local, as moradias são bem distintas.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Tittel
Acampamento improvisado
Como muitos dos alojamentos preliminares estão lotados, outras instalações têm sido utilizadas para abrigar os refugiados. Em Hamm, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, 500 pessoas vivem no salão para eventos da prefeitura. Com 2,7 mil m², o local foi divido em "quartos", cada um com 14 leitos.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Fassbender
Pernoite na sala de aula
O enorme fluxo de refugiados leva muitas cidades ao limite de capacidade. Aachen, por exemplo, teve, em meados de julho, que abrigar 300 pessoas de uma hora pra outra. Logo, a única maneira de acomodá-los foi colocando camas numa escola da cidade.
Foto: Picture-Alliance/dpa/R. Roeger
Acampamentos provisórios
Nos últimos tempos, o número de campos para refugiados na Alemanha tem crescido vertiginosamente. Com a construção de um acampamento provisório, o alojamento central para refugiados em Halberstadt, na Alta Saxônia, aumentou consideravelmente a capacidade. Agora, no verão, essas tendas temporárias podem ser utilizadas. Até que o inverno comece, outros alojamentos devem ser colocados à disposição.
Foto: Picture-Alliance/dpa/J. Wolf
Vivendo com dificuldades
Atualmente, a cidade de Dresden tem um dos maiores acampamentos para refugiados. Contudo, viver por lá exige paciência dos moradores. Há filas gigantes para os banheiros e nos refeitórios. No total, o local abriga atualmente mil pessoas, de 15 nacionalidades. Nos próximos dias, outros refugiados deverão chegar – até que se chegue à capacidade total de 1.100 pessoas.
Foto: Picture-Alliance/dpa/A. Burgi
Morando em containers
Para que a capacidade de receber os refugiados seja maior, muitas cidades alemãs têm construído containers que servem de moradia. Em Trier, por exemplo, a solução vem sendo utilizada desde 2014. Atualmente, são mais de mil pessoas nessas instalações.
Foto: Picture-Alliance/dpa/H. Tittel
Atentados
A foto mostra o corpo de bombeiros apagando o incêndio causado por um atentado nas instalações de Remchingen, no estado de Baden-Württemberg. Muitas vezes, a oposição de muitos moradores à chegada dos refugiados acaba se transformando em violência. No momento, há ataques quase diários aos alojamentos – principalmente no leste e no sul da Alemanha.
Foto: Picture-Alliance/dpa/SDMG/Dettenmeyer
O envolvimento político
O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, conversa com crianças de um campo de refugiados na cidade de Wolgast, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde vivem cerca de 300 pessoas. O político exigiu que o governo alemão preste auxílios financeiros aos munícipios atingidos. Porém, Gabriel salientou que receber refugiados não é uma questão de dinheiro, mas, sim, "de decência".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Wüstneck
Novas instalações
Para que os refugiados possam ser devidamente abrigados, vários municípios estão construindo novos alojamentos – como em Eckental, perto de Nurembergue, na Baviera. A foto mostra o novo complexo, que terá capacidade para 60 pessoas. Os primeiros moradores devem chegar em janeiro de 2016.
Foto: Picture-Alliance/dpa/D. Karmann
Novos acampamentos provisórios
Até que os novos alojamentos fiquem prontos, serão erguidos vários outras instalações de emergência. Como este, no parque industrial de Munique. Aqui, cerca de 170 membros de organizações humanitárias e do corpo de bombeiros constroem, de madrugada, um acampamento com duas dúzias de barracas e 300 leitos.