Cinco primos alemães herdarão dinheiro deixado por Bento 16
20 de março de 2023
Direitos autorais de livros escritos pelo papa emérito irão para a Fundação Ratzinger, e pertences pessoais serão distribuídos entre assistentes e amigos. Anotações e cartas pessoais foram destruídas.
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Cinco primos alemães do papa Bento 16 são os herdeiros do dinheiro que o pontífice economizou em suas contas. Por outro lado, os direitos autorais de seus livros irão para a Fundação Ratzinger, e seus pertences pessoais serão distribuídos entre assistentes e amigos, como ele mesmo deixou por escrito.
A informação sobre os herdeiros foi revelada pelo monsenhor Georg Gänswein, secretário pessoal de Bento 16 durante todos os anos de pontificado e que continuou servindo o papa emérito após a renúncia.
"Pensei que havia dois parentes, dois primos, mas são cinco", disse o arcebispo alemão a alguns veículos de imprensa após uma missa celebrada no domingo (19/03), em Roma.
Os herdeiros, no entanto, poderiam abrir mão de receber o dinheiro porque - segundo o jornal italiano Corriere della Sera - "correriam o risco de serem envolvidos em uma ação de indenização iniciada na Alemanha contra Bento 16 sob a acusação de não ter interferido no caso de um padre pedófilo quando ele era arcebispo de Munique, entre 1977 e 1982".
Bens pessoais doados
Gänswein destacou que a herança não é milionária, apenas o que resta na conta bancária, já que os bens pessoais do papa emérito "serão todos doados”.
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"Os demais objetos pessoais, de relógios a canetas, de pinturas a móveis litúrgicos, foram incluídos em uma lista meticulosamente elaborada por Bento 16 antes de morrer. Ninguém foi esquecido: colaboradores, secretários, seminaristas, estudantes, motoristas, párocos e amigos", disse Gänswein, de acordo com a edição desta segunda-feira do Il Messaggero.
"O que tem a ver com livros, o que tem a ver com sua obra intelectual, já está claro", acrescentou.
Os direitos das obras permanecem no Vaticano, e uma parte irá para a Fundação do Vaticano Joseph Ratzinger, criada em 2010, que é o que realmente constitui o importante legado de Bento 16, com autênticos best-sellers como os volumes dedicados à vida de Jesus.
Gänswein também explicou que, por ordem do próprio Ratzinger, destruiu todas as anotações e cartas pessoais, e algumas foram enviadas para a fundação Regensburg.
"Uma pena? Sim, eu também disse isso a ele, mas ele me deu essa indicação: não tem como voltar atrás. Não há mais escritos inéditos", revelou.
Gänswein trabalhou com Bento 16 por quase 20 anos - antes, durante e depois do pontificado. Desde 2013, ele é também prefeito da Casa Pontifícia.
Em 2020, o papa Francisco deu licença a Gänswein do cargo para que ele pudesse se dedicar inteiramente a auxiliar Bento 16. Nos círculos do Vaticano, especula-se que o arcebispo possa deixar Roma em breve e tornar-se embaixador.
le (EFE, KNA)
O teólogo e intelectual conservador Bento 16
Joseph Ratzinger viveu para a Igreja. Como papa, e usando o nome Bento 16, promoveu o diálogo entre razão e fé. Mas seu pontificado também teve escândalos e crises eclesiásticas.
Foto: Reuters
"Somos papa"
A eleição para Santo Pontífice, em 19 de abril de 2005, foi o ponto alto da carreira eclesiástica do cardeal alemão Joseph Ratzinger. O sucessor de João Paulo 2º adotou o nome Bento 16. O primeiro alemão no trono papal em quase 500 anos admitiu modestamente ser "um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor". Mas o jornal alemão "Bild" titulou sem modéstia: "Somos papa!"
Foto: picture-alliance/dpa/T. Kleinschmidt
Jovens celebram Bento 16
Em agosto de 2005, o papa recém-eleito participou do Dia Mundial da Juventude Católica em Colônia, na Alemanha, onde foi freneticamente aplaudido por um milhão de pessoas de todo o mundo. Os jovens entoavam "Be-Ne-De-To" em cânticos. Mas o papa não gostou da celebração de sua pessoa. Com um gesto, ele silenciou as massas para continuar o serviço religioso.
Foto: AP
Banho na multidão
Embora Bento 16 muitas vezes parecesse tímido, o banho na multidão, surpreendentemente, é um dos destaques de seu pontificado. O culto à sua pessoa, porém, contrastava com a natureza espiritualizada do Santo Padre, considerado um intelectual conservador. Com suas aparições em meio à multidão, como aqui no Dia Mundial da Juventude de 2011, em Madri, Bento 16 mostrou ser parte da cultura dos jovens.
Foto: Getty Images
Os sapatos vermelhos
Os sapatos vermelhos do papa também eram cult. Não só católicos tentavam adivinhar o significado do calçado papal, que ocasionalmente se destacava sob o manto do pontífice. Alguns diziam erroneamente "o papa veste Prada". A resposta pode ser encontrada na Roma Antiga: no início, apenas imperadores podiam usar a cor carmim, e depois isso foi estendido a papas e bispos.
Foto: Photoshot/picture-alliance
Igreja em crise
O pontificado de Bento 16 também está ligado à lenta investigação de casos de abuso sexual por parte do clero. Em suas viagens, o papa com frequência era confrontado com a ira das vítimas. O líder da Igreja Católica reforçou as diretrizes para a formação de sacerdotes, mas críticos o acusam de não ter feito o suficiente para esclarecer os casos, que se tornaram conhecidos a partir de 2010.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/F. Trueba
"Flagelo" do abuso sexual
Bento 16 descreveu o abuso de menores pelos clérigos como um "flagelo" e um "grande sofrimento". Ele falou com vítimas, como Bernie McDaid nos EUA, e pediu-lhes perdão. No entanto, ele apresentou o abuso como uma ofensa cometida por sacerdotes individuais, sem ver uma responsabilidade da Igreja. Somente seu sucessor, Francisco, convidou para uma cúpula mundial no Vaticano.
Foto: picture-alliance/dpa
Sem igualdade de direitos para mulheres na Igreja Católica
Mulheres não têm acesso a ministérios ordenados. Bento 16 aderiu a esse princípio tão estritamente quanto ao celibato para sacerdotes. Ele também considerava contraceptivos coisas demoníacas. Sempre houve fortes protestos contra a imagem de de Bento 16 sobre as mulheres, como aqui pelas ativistas ucranianas da FEMEN na Praça de São Pedro, em frente ao Vaticano.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Peri
Confrontação com o Islã
No carnaval em Mainz em 2007, Bento 16 foi retratado dirigindo seu papamóvel com os dizeres "autoescola". O pano de fundo foram suas declarações controversas, em que citou o imperador bizantino Manoel 2º Paleólogo, segundo o qual o profeta Maomé havia trazido "somente coisas ruins e desumanas" ao mundo. A escolha das palavras desencadeou uma onda de indignação no mundo muçulmano.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Renúncia histórica
Em fevereiro de 2013, Bento 16 renunciou aos cargos de chefe da Igreja Católica e Bispo de Roma por razões de idade e saúde. Foi provavelmente a decisão mais espetacular de seu mandato. A última renúncia de um papa aconteceu há mais de 700 anos: Celestino 5º abdicou em 1292. Como "papa emérito", Bento 16 se mudou para um mosteiro no Vaticano.
Foto: picture-alliance/dpa
Dois papas?
Após abdicar, em 2013, Bento 16 havia prometido submeter-se a seu sucessor, Francisco. Mas o papa emérito voltou a se pronunciar no início de 2020, em um livro, em que se opôs veementemente ao abrandamento do celibato. Antes disso, Francisco não havia mais excluído categoricamente a ordenação de homens casados em resposta à escassez mundial de sacerdotes.
Foto: Reuters/Vatican Media
Dois papas em filme
"Dois papas se encontram... " assim começa uma célebre piada da Igreja, que naturalmente perdeu seu efeito com a renúncia de Bento 16. Por mais inimaginável que pareça o encontro de dois papas vivos, isso tem um efeito fascinante. Em 2019, a plataforma de streaming Netflix conquistou grande sucesso com seu filme "Os Dois Papas", que chegou a ser nomeado para os Globos de Ouro.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Mountain
Viagem à Alemanha
Em junho de 2020, Bento 16, aos 93 anos de idade, fez uma viagem surpresa à Alemanha, ao leito de morte de seu irmão Georg, três anos mais velho. Os irmãos Georg e Joseph sempre foram muito próximos ao longo de suas vidas. Eles foram ordenados sacerdotes juntos em Freising em 29 de junho de 1951. Em 1º de julho de 2020, Georg Ratzinger morreu em Regensburg, na Baviera.