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Cineasta brasileira ganha prêmio em Berlim

Soraia Vilela12 de fevereiro de 2006

Curta documental da carioca Anna Azevedo vence o Berlin Today Award da seção Talent Campus no Festival de Cinema de Berlim.

Anna Azevedo ao lado de Walter Carvalho, em Campina GrandeFoto: Eduardo Souza Lima

À pergunta que o espectador ouve em off – "Você sabe que lá faz frio?" –, o franzino Wanderley responde sem hesitar que isso não importa, pois basta "comprar um casaco".

O menino paraibano é um dos protagonistas do documentário em curta-metragem BerlinBall, da cineasta carioca Anna Azevedo, premiado no último sábado (11/02) na capital alemã.

Visões de Berlim

A idéia básica era fazer um filme sobre a cidade. O resultado acabou sendo até mais que isso. BerlinBall é o retrato de uma Berlim existente apenas nas cabeças dos jovens de Campina Grande, terra natal do jogador de futebol Marcelinho, centro-avante do Hertha, o time da capital alemã.

O "longo curta" (17 min) de Anna Azevedo resgata dos habitantes da pequena cidade no interior da Paraíba o sonho de uma vida melhor. Na tela, só se vê a Berlim real nas primeiras tomadas, em que o próprio Marcelinho distribui autógrafos entre fãs alemães.

"Berlim não existe"

A partir daí, o filme, que tem bela fotografia de Walter Carvalho (Central do Brasil, Lavoura Arcaica), entra com cuidado no interior das casas desses meninos. Aí está, por exemplo, a mãe que divide a única cama da casa com o filho. A mesma que, de medo que ele se vá para sempre em busca de uma vida melhor, aposta: "Berlim não existe não".

BerlinBall passa ainda pelos treinos em campos improvisados, em que um ou outro boi invade o território e, mugindo, é expulso pelos jogadores. A referência à capital alemã é constante, o "fantasma" do "anjo" Marcelinho, que um dia pode aparecer e levar um deles, para onde "se ganha muito mais do que aqui".

Borboleta de gelo

Carregando sua borboleta de gelo nas mãos (o prêmio do Berlin Today Award), que foi ao longo da noite se derretendo, a cineasta Anna Azevedo falou à DW-WORLD: "O melhor é que as pessoas parecem ter gostado realmente do filme. Elas se sentiram tocadas, emocionadas pela proximidade que se sente com os entrevistados. No filme, rola uma identificação, porque o sonho é universal. Todo mundo já teve um sonho, realizado ou frustrado. O grau de emoção é o mesmo nos dois casos: ou pela frustração ou pela felicidade".

A decisão do júri (Aelrun Goette, Christian Petzold e Thilo Graf Rothkirch) por BerlinBall foi unânime. O projeto do filme – financiado pela Fundação de Fomento ao Cinema de Berlim como incentivo a novos diretores e concedido na seção Talent Campus do Festival na capital alemã – foi escolhido no último ano entre 180 concorrentes de mais de 40 países.

Sonho, sonho, quem quer comprar…

Depois dos aplausos na Casa das Culturas do Mundo em Berlim, onde o prêmio foi entregue, Anna Azevedo pretende levar o filme (que será transmitido pela DW-TV neste domingo) a Campina Grande. A terra dos sonhos vendidos nas ruas e que simboliza os milhares de Wanderleys espalhados pelo país.

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