Cineasta Wim Wenders recebe "Nobel das Artes" no Japão
Torsten Landsberg
16 de setembro de 2022
Influente diretor e cofundador do Novo Cinema Alemão é agraciado com o prestigiado Praemium Imperiale. Entre suas principais obras estão "Paris, Texas", "Asas do desejo" e "O sal da terra", sobre Sebastião Salgado.
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O Praemium Imperiale concedido anualmente pela Associação de Artes do Japão é uma das honrarias mais importantes do mundo artístico. Desde sua fundação, em 1988, ele homenageia artistas e músicos no auge de suas carreiras, em cinco categorias.
A prestigiada distinção é por vezes chamada de o "Prêmio Nobel das artes". Entre os vencedores de 2022 anunciados nesta quinta-feira (16/09) está o influente cineasta alemão Wim Wenders.
Figura central do cinema alemão
Nascido em Düsseldorf em 1945, Wim Wenders é um dos mais conhecidos fundadores do Novo Cinema Alemão, que revitalizou a cinematografia do país com novas histórias, formatos e estilos narrativos, a partir dos anos 1960. O movimento também inclui diretores como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog e Volker Schlöndorff.
Wenders costuma escrever seus próprios roteiros, também com parceiros famosos como Peter Handke e Sam Shepard. Seu Paris, Texas, de 1984, venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes; enquanto em 1987 Asas do desejo foi considerado uma obra-prima do assim chamado cinema autoral.
Filme resgata história das fotos de Sebastião Salgado
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Nos anos 1990, Wenders, acompanhou com sua câmera a tournée do músico americano Ry Cooder com os artistas cubanos do Buena Vista Social Club, o que exultou no amplamente aclamado documentário homônimo, lançado em 1999. Seu O sal da terra, de 2014, é dedicado à vida e obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
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Do Novo Cinema Alemão aos banheiros de Tóquio
Antes de receber o conceituado prêmio japonês, Wenders desenvolveu uma relação especial com o país asiático, ao longo de décadas. Seu documentário de 1985 Tokyio-Ga é uma homenagem ao cineasta japonês Yasujiro Ozu. Em Identidade de nós mesmos, de 1989, ele se dedicou ao estilista japonês Yohji Yamamoto.
Em 2022, ele anunciou que faria um filme sobre os banheiros públicos de Tóquio. O longa-metragem reunirá quatro histórias curtas e terá o renomado ator japonês Koji Yakusho no papel de um faxineiro de banheiro.
O filme de ficção se baseia The Tokio Toilet, um projeto de renovação urbana em andamento na capital japonesa através do qual 17 banheiros públicos são transformados em obras de arte por arquitetos famosos de várias partes do mundo, incluindo Tadao Ando.
"Há algo muito japonês nessa ideia, sobre toda a configuração. Acho que é quase uma ideia utópica" comentou Wenders a repórteres em maio.
Criado pela família imperial do Japão
Além de Wenders, os demais laureados são o artista chinês Ai Weiwei, o pintor italiano Giulio Paolini, o pianista polonês Krystian Zimerman e a empresa japonesa de arquitetura Sanaa.
A escola de música Academia Kronberg, em Taunus, no estado alemão de Hesse, que forma jovens instrumentistas de cordas de todo o mundo, recebeu bolsas de estudos.
O Praemium Imperiale foi criado pela família imperial japonesa em homenagem ao príncipe Takamatsu, morto em 1987. As categorias são pintura, escultura, arquitetura, música e artes cênicas. Cada vencedor recebe 15 milhões de ienes (555 mil reais). Em 2020 e 2021 não foi indicado nenhum vencedor na categoria de filme e direção, devido aos efeitos da pandemia de covid-19.
Entre os detentores anteriores do prêmio estão o diretor Martin Scorcese, o violoncelista Yo-Yo Ma, o cineasta Jean-Luc Godard, morto recentemente, arquitetos como Norman Foster e Rem Koolhaas, o estilista japonês Issey Miyake e a fotógrafa Cindy Sherman.
O cinema do diretor alemão Wim Wenders
Seus filmes "Paris, Texas" e "Asas do desejo" ajudaram o cinema alemão a alcançar fama mundial. Confira os trabalhos mais importantes de Wim Wenders.
Foto: Getty Images/AFP/F. Guillot
Capturando o mundo pelas lentes da câmera
Wim Wenders não é apenas um cineasta. Ele é também fotógrafo, artista, amante da música e muito mais. Em seus inúmeros filmes e documentários, o multitalento Wenders, que nasceu em Düsseldorf em 14 de agosto de 1945, apresentou o mundo aos espectadores através das lentes da câmera.
Foto: Getty Images/AFP/F. Guillot
"Paris, Texas": um homem, um caminho...
Travis (Harry Dean Stanton) no deserto do Texas a caminho do nada: uma imagem que ficou gravada na memória dos fãs do cinema. "Paris, Texas" é um filme alemão que se passa nos EUA e conta sua história em cenários mágicos: quando foi lançado, em 1984, foi um verdadeiro milagre do cinema e premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Além de Harry Dean Stanton, Nastassja Kinski interpretou no filme "Paris, Texas" o papel de sua vida como Jane (foto). Já para Wim Wenders, o filme marcou o início de uma carreira mundial. A partir de então, o alemão passou a figurar entre os cineastas mais importantes do mundo. Ele não teve sucesso em tudo, mas continuou se reinventando.
Foto: imago images/Mary Evans/Rights Managed
Limitado por Hollywood
Wenders era um grande fã dos EUA e do cinema americano. Em 1977, ele foi para a terra dos seus sonhos para fazer filmes. Mas ele não foi feliz por lá: o sistema dos estúdios de cinema em Hollywood limitava o diretor. Wenders era um artista, não um diretor por encomenda. Mas seu filme "Hammett" (1982), sobre o diretor americano Dashiell Hammett, ainda é uma de suas obras mais interessantes.
Foto: picture-alliance/United Archives
Libertação com "O estado das coisas"
No mesmo ano, em 1982, outro grande filme foi feito: "O estado das coisas" (na foto, Wenders, à esquerda, conversa no set de filmagem com um dos seus atores, Sam Fuller). No filme, Wenders processou suas experiências como diretor e descreveu as dificuldades e tormentos no mundo do cinema. Para Wenders, o filme foi uma libertação e abriu caminho para seus anos de maior sucesso.
Foto: imago images/Everett Collection
No paraíso da Sétima Arte
Depois de ter recebido o prêmio principal no Festival de Cinema de Veneza por "O estado das coisas", teve um sucesso após o outro. "Paris, Texas" ganhou o prêmio principal do Festival de Cinema de Cannes. "Asas do desejo", com Otto Sander (dir.) e Bruno Ganz (esq.) na Berlim dividida, foi lançado em 1987 e é considerado um dos filmes mais fortes de Wim Wenders.
Foto: picture-alliance/Captital Pictures/CAP/RFS
O trabalho inicial: "Alice nas cidades"
Mas Wim Wenders também fez filmes antes de suas obras-primas e dos prêmios de festivais de cinema. Quando era jovem, ele dirigiu filmes em preto e branco com um orçamento limitado em sua terra natal na Alemanha Ocidental. O filme de estrada "Alice nas cidades", de 1974, com Yella Rottländer, é considerado a verdadeira ruptura do diretor.
Cinema encontra a literatura: "Movimento em falso"
"Movimento em falso" (1975) é também uma das primeiras obras de Wenders e mais uma colaboração com seu amigo Peter Handke, que mais tarde conquistou o Nobel de Literatura. O filme é sobre um escritor iniciante (Rüdiger Vogler) que viaja pela Alemanha Ocidental, faz amizades (aqui com Therese, interpretada por Hanna Schygulla) e acumula experiências de vida.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Novos papéis masculinos: "No decurso do tempo"
Feito em 1976, "No decurso do tempo" foi um dos mais belos filmes de Wim Wenders. Com essa produção, Wenders se tornou um dos mais importantes representantes do Novo Cinema Alemão. O filme de estrada em preto e branco trouxe um toque inicialmente novo ao cinema alemão: melancólico, sonhador e com personagens masculinos que nunca existiram antes no cinema do país.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Um olhar sobre os EUA: "O amigo americano"
Em 1977 foi lançado o filme "O amigo americano", que indicava para onde iria mais tarde o diretor Wim Wenders: para os EUA. Com seus atores principais Bruno Ganz (esq.) e a estrela de "Sem destino", Denis Hopper, Wenders desenvolveu uma história de crime sobre fraude artística, amizades entre homens e sonhos de um outra vida longe de casa.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Carreira após sucesso global
O que se seguiu depois de "O amigo americano" é história do cinema: Wenders foi para os EUA, filmou suas obras-primas lá e na Berlim dividida e conquistou prêmios de cinema. Mas então sua carreira mudou: Wenders estava em busca de novas formas e histórias. Seu retorno ocorreu em 1999 com o maravilhoso documentário "Buena Vista Social Club" sobre músicos cubanos.
Foto: picture-alliance/United Archives
"Pina": Salto para o mundo em 3D
Seus longas-metragens não alcançam mais a intensidade artística de anos anteriores. Porém, Wim Wenders é sempre ótimo quando conta uma história em forma de documentário. Como em "Buena Vista Social Club", o diretor também recebeu uma indicação ao Oscar pelo documentário em 3D "Pina". O filme de 2011 conta a história do lendário grupo de dança da coreógrafa Pina Bausch.
Foto: picture-alliances/dpa
Afinidade entre Wenders e Sebastião Salgado
O documentário "O sal da terra", sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, conquistou crítica e público em 2014. O próprio Wenders é um fotógrafo com muitas exposições internacionais. Com este filme, ele prova mais uma vez que adora todas as artes.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Rangel
Wim Wenders faz 75 anos
Wenders lançou por último o documentário "Papa Francisco: um homem de palavra" em 2018. No entanto, seus filmes mais recentes, como "Every thing will be fine" (2015) e "Grenzenlos" (2017) se perderam um pouco no cotidiano do cinema. Isso não deve incomodar o cineasta mundialmente famoso em seu 75º aniversário, em 14 de agosto, ao analisar seu histórico no cinema.