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Cinema alemão retorna a Veneza

sv/lk29 de agosto de 2002

Pela primeira vez sob a direção de Moritz de Hadeln, a mostra competitiva em Veneza ignora a América Latina. A Alemanha tem dois longas e duas co-produções. Nas mostras paralelas, o Brasil tem apenas "Rocha que voa".

Após quatro anos de ausência, o cinema alemão está de volta ao Festival Internacional de Cinema de Veneza, em sua 59ª edição, que se realiza a partir desta quinta-feira (29) até 8 de setembro. Filmes de Doris Dörrie e Winfried Bonengel, além de duas co-produções com participação alemã, concorrem ao Leão de Ouro. A última produção alemã contemplada com a estatueta foi O Estado das Coisas (Der Stand der Dinge), de Wim Wenders, em 1982.

O "destaque especial às contribuições alemãs" deve-se ao novo diretor, Moritz de Hadeln, que foi o número um da Berlinale durante mais de 20 anos

Ao todo, 14 produções européias estão entre as 21 que concorrem ao Leão de Ouro. Três são norte-americanas; Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Austrália fecham a lista. As quatro mostras paralelas trazem 122 filmes, entre eles apenas um brasileiro: Rocha que voa, de Erik Rocha, que participa do ciclo "Novos Territórios".

Hollywood –

A proposta do diretor de Hadeln, anunciada em junho, é destacar "a força do cinema europeu". Conhecido por sua preferência por produções convencionais que atingem o grande público, de Hadeln parece ter confirmado o viés mais conservador para Veneza 2002, com a sua escolha.

A seleção feita pelo suíço, que coordenou por mais de duas décadas o Festival Internacional de Cinema de Berlim, tem em vista o número de atores hollywoodianos que pode atrair. Nicole Kidman (em The Hours, de Stephen Daldry), Tom Hanks (em Road to Perdition, de Sam Mendes) e Antonio Banderas (em Frida, de Julie Taymor) são alguns deles. "Muitas estrelas, pouco Oriente", este é o lema.

Sucessão – De Hadeln foi escolhido para substituir Alberto Barbera, que renunciou ao cargo em janeiro em sinal de protesto contra a política cultural do governo de direita do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. De Hadeln não foi bem recebido pela mídia italiana, que viu no suíço mais uma escolha de última hora do que o nome ideal para o cargo.

Moritz de Hadeln, novo diretor em VenezaFoto: AP

Ao contrário da seleção anterior de Barbera, o novo diretor preferiu produções "ocidentais" e também não abriu espaço para a América Latina. Em 2001, quase a metade dos filmes em competição vinham de países como Brasil, México, Irã e Israel, tendo sido atribuído ao filme indiano Monsoon Wedding o Leão de Ouro na categoria de melhor filme.

O júri de 2002 em Veneza será presidido pela atriz chinesa Gong Li (Lanternas Vermelhas), que ganhou o Leão de Ouro em 1992 como melhor atriz pela sua atuação em A História de Qui Ju. A escolha rompe com a tradição do festival, de ter um(a) diretor(a) na presidência do júri, regra quebrada pela última vez em 1992, quando o ator Dennis Hopper assumiu a função.

Alemanha –

O longa Nackt (Nu), de Doris Dörrie, discute o drama das relações de três casais, que ao se reencontrarem depois de muito tempo dão início a experiências inusitadas.

Além da veterana Dörrie, Winfried Bonengel traz Führer Ex. O roteiro, baseado em Acertando Contas (Die Abrechnung), de Bonengel e Ingo Hasselbach, conta a história de um anarquista na ex-Alemanha Oriental, que após a queda do Muro de Berlim acaba se envolvendo com extremistas de direita. Bonengel, que dirigiu em 1993 o controverso documentário Profissão Neonazista – um perfil do skinhead Ewald Althans – volta ao tema em Führer Ex.

Além disso, duas co-produções alemãs concorrem ao Leão de Ouro: Bear‘s Kiss, do russo Sergej Bodrov (Prisioneiro das Montanhas), e Julie Walking Home, da polonesa Agnieszka Holland. A Alemanha havia participado da mostra competitiva de Veneza pela última vez em 1998, com Corre, Lola, Corre, de Tom Tykwers.

Fassbinder –

As mostras paralelas trazem ainda uma série de filmes alemães, entre eles o curta Angst isst Seele auf (O medo devora a alma), do iraniano radicado na Alemanha Shahbaz Noshir. O título escolhido por Noshir é uma referência a Angst essen Seele auf (O medo 'devorar' a alma), clássico de Fassbinder de 1973, que traz no título um erro de conjugação proposital, em alusão ao personagem de um imigrante marroquino. O curta, assim como o longa de Fassbinder, tem a veterana Brigitte Mira como protagonista.

A retrospectiva de Veneza 2002 será dedicada ao grande mestre Michelangelo Antonioni, e o diretor italiano Dino Risi receberá um Leão de Honra por sua contribuição à sétima arte.