Terceiro na disputa presidencial, pedetista frustra expectativas do PT ao não declarar apoio a Haddad. Em vídeo, ele pede que se vote com a democracia e prevê "dias terríveis". Joaquim Barbosa anuncia voto em petista.
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Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas eleições presidenciais deste ano, decidiu não se posicionar a favor de nenhum dos dois candidatos neste segundo turno, frustrando expectativas petistas de um possível apoio a Fernando Haddad (PT) frente à liderança de Jair Bolsonaro (PSL).
"Todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha. Mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática que não quero dizer agora. Porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é o que eu não quero", afirmou ele em vídeo.
Em tom misterioso, Ciro disse que a consciência dele aponta para uma necessidade de "preservar um caminho" em que a sociedade brasileira possa "ter, amanhã, uma referência para enfrentar os dias terríveis que estão se aproximando".
O jornal Folha de S. Paulo sugere que a decisão do cearense de não declarar apoio neste segundo turno foi uma espécie de lançamento informal de sua candidatura ao Planalto em 2022, que pode ser anunciada em janeiro, após a posse do próximo presidente.
Na gravação, Ciro expressou "grave preocupação" com o futuro do país e pediu aos brasileiros que compreendam a necessidade de ir às urnas neste domingo para votar "com a democracia, contra a intolerância e pelo pluralismo". Contudo, destacou que "ninguém é obrigado a votar contra as suas convicções e ideologias".
O candidato derrotado também alertou contra o medo. "Nada de medo, não será com medo que nós vamos enfrentar o que quer que venha por aí, e vocês sabem que eu estarei na linha de frente com todos vocês."
"O Brasil precisa a partir de segunda-feira que a gente construa um grande movimento, que de um lado proteja a democracia brasileira e de outro lado proteja nossa sociedade mais pobre dos avanços contra os direitos", afirmou ele, destacando ainda a importância de que sejam protegidos "os interesses nacionais contra a entrega e a cobiça estrangeira".
O vídeo de pouco mais de dois minutos foi gravado em um apartamento e divulgado um dia depois de o pedetista ter retornado de uma viagem de quase três semanas à Europa. Ele não mencionou o nome nem de Haddad nem de Bolsonaro durante a gravação.
Na sexta-feira, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou ao jornal Estado de S. Paulo que Ciro gravaria um vídeo em apoio ao petista. Após o primeiro turno, o partido fez ressalvas ao PT, mas declarou "apoio crítico" a Haddad, levando em conta os "riscos" de se eleger Bolsonaro.
Em 7 de outubro, após confirmada sua derrota no primeiro turno, Ciro sinalizou oposição ao candidato do PSL ao ser questionado sobre seu apoio na segunda rodada. "Ele não, sem dúvida", respondeu, usando um bordão que virou símbolo do movimento contra o capitão reformado.
O PT contava que Ciro pudesse se unir em torno da candidatura de Haddad para formar uma "frente democrática" em oposição a Bolsonaro. Na sexta-feira, o candidato petista disse esperar uma "declaração dura" do cearense, mas favorável à sua campanha. Segundo Haddad, o apoio de Ciro poderia render-lhe um ganho de entre três e quatro pontos percentuais.
Joaquim Barbosa
A campanha petista ficou sem o apoio de Ciro, mas ganhou o de Joaquim Barbosa. Neste sábado, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou no Twitter que seu voto no segundo turno das eleições será em Haddad.
"Votar é fazer uma escolha racional. Eu, por exemplo, sopesei os aspectos positivos e os negativos dos dois candidatos que restam na disputa. Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso, votarei em Fernando Haddad", declarou.
O ex-prefeito de São Paulo agradeceu o voto de Barbosa momentos depois, durante uma caminhada pela comunidade de Heliópolis, na capital paulista.
"É um apoio muito significativo, porque ele tem uma representação muito forte. É uma figura que representa valores com os quais eu compartilho. Estou celebrando seu apoio porque ele é muito representativo dos riscos que o Brasil está correndo", afirmou Haddad.
O candidato do PSL reagiu à declaração de Barbosa publicando um vídeo de 2012 em que o ex-presidente do STF afirma, durante o julgamento do mensalão, que "somente Jair Bolsonaro votou contra" uma lei que foi aprovada após suposta compra de líderes partidários por parte do PT.
"Em suas redes sociais, Joaquim Barbosa divulga voto em Haddad, mas já está na história que ele mesmo disse que só Bolsonaro não foi comprado pelo PT no esquema de corrupção conhecido como mensalão, que feria gravemente a democracia do nosso país anulando o Poder Legislativo", escreveu Bolsonaro ao postar o vídeo.
Barbosa voltou ao Twitter para rebater a declaração: "Faço um esclarecimento público para desmentir uma manipulação que vem sendo feita ao longo desta triste campanha eleitoral. Até a data de hoje eu ignorei completamente o uso do meu nome na campanha por um dos candidatos. Mudei de ideia porque hoje reiterou-se a manipulação."
O ex-ministro acrescenta que, no vídeo referido por Bolsonaro, estavam sendo julgados líderes de partidos, e que o então deputado não fazia parte do processo.
"Bolsonaro não era líder nem presidente de partido. Ele não fazia parte do processo do mensalão. Só se julga quem é parte no processo. Portanto, eu jamais poderia tê-lo absolvido ou exonerado. Ou julgado. É falso, portanto, o que ele vem dizendo por aí", declarou Barbosa.
Antes das postagens deste sábado, o último tuíte do ex-ministro havia sido em 8 de maio, para anunciar que, "após várias semanas de muita reflexão", ele decidiu não concorrer à Presidência da República.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.