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Clã dos Assad domina política e economia da Síria

3 de agosto de 2012

Bashar al-Assad é o presidente, mas não é o único poderoso da Síria. Ele representa, antes, a figura de proa de um clã que espalha seus tentáculos pela política, economia e Forças Armadas do país.

Syrian President Bashar al-Assad, right, his brother Maher, centre, and brother-in-law Major General Assef Shawkat, left, stand during the funeral of late president Hafez al-Assad in Damascus on June 13, 2000. Syria is considering a U.N. request to interview six top officials about the slaying of a former Lebanese leader, a Foreign Ministry official said Monday, while declining to disclose the identities of the people that the U.N. investigators want to question except that they want to see Gen. Assef Shawkat, the brother-in-law of Syrian President Assad, among others. (AP Photo)
Foto: AP

Na Síria, quando áreas residenciais são atacadas, caças decolam e tropas lutam pelo controle de Aleppo, quem está por trás não é somente um ditador poderoso, mas sobretudo toda uma classe dirigente da qual depende Bashar al-Assad. Dela fazem parte parentes, chefes de inteligência de longa data e militares que até meados de julho de 2012 se achavam seguros no centro da capital Damasco.

Em 18 de julho, uma bomba destruiu a ilusão. No atentado ao Conselho de Segurança Nacional foram mortos quatro dos colaboradores mais próximos de Assad – incluindo seu cunhado Asef Shaukat, cuja morte atingiu de forma especial o clã Assad. Shaukat havia dominado por anos o aparato de segurança do país, junto com Maher, irmão caçula de Assad. Agora, este é o único em que o presidente sírio pode confiar totalmente.

Irmão de sangue frio

Maher al-Assad comanda a Quarta Divisão do Exército, que em muitos lugares está liderando a repressão da revolta, e a Guarda Republicana, também responsável pela proteção de Assad. Ambas as unidades são consideradas bem equipadas e leais. O próprio Maher é tido como a dura mão direita de Bashar, frio e de liderança forte. Na crise atual, ele é o principal responsável pela violência contra os manifestantes e o bombardeamento de bairros e regiões "oposicionistas".

Assad: poder do ditador é mantido por grande malha familiarFoto: AP

Após a morte acidental de seu irmão mais velho, Bassel, em 1994, Maher foi descartado como potencial sucessor de seu pai, provavelmente devido a seu caráter impetuoso. Consta que ele teria até mesmo baleado na barriga seu cunhado Asef Shaukat, durante uma briga em 1999. Shaukat sobreviveu e, movidos por puros interesses políticos, os dois se tornaram mais tarde uma equipe estratégica de segurança.

Irmã implacável

Embora Shaukat esteja morto, vale a pena destacar sua conexão com os Assad, porque ela diz muito sobre as relações dentro da família. Com 62 anos, ele era casado com Bushra, a irmã mais velha dos quatro filhos de Hafez al-Assad (além de Bassel, Majed também morreu em 2009 após longa enfermidade). Em meados de 1980, o jovem oficial alauita conheceu a única filha mulher de Hafez al-Assad, na época estudante de Farmácia na Universidade de Damasco. A ligação não teve o consentimento nem do pai, nem do irmão mais velho.

Bassel teria mandado prender Shaukat quatro vezes, ao todo, para evitar encontros dele com sua irmã. Em vão. Bushra é considerada inteligente e geniosa, ideologicamente é tida como a linha-dura da família, inclusive por sua postura intransigente anti-Israel e anti-islamismo. Um exemplo de sua tenacidade é o fato de, em 1995, um ano após a morte de Basel e contra a vontade da própria família, ela ter-se casado com Shaukat Asef, dez anos mais velho do que ela.

Para evitar um escândalo público, seu pai, Hafez al-Assad, não demorou a incorporar oficialmente na família o genro indesejado. Este se tornou amigo de Bashar, que passou a confiar cada vez mais nele, no que diz respeito a questões de segurança. O general realmente se tornou um apoio para o futuro chefe de Estado.

Hafez al-Assad, pai de BasharFoto: AP

No funeral de Hafez, em junho de 2000, Shaukat esteve o tempo todo do lado direito de Bashar. Ele dirigiu durante anos a inteligência militar e foi nomeado vice-ministro da Defesa em setembro de 2011. Foi uma voz influente dentro do aparato de segurança na liderança da luta pela sobrevivência da família à qual ele próprio devia sua ascensão.

Mãe moderadora

Um papel unificador nos bastidores é desempenhado pela septuagenária Anisa Makhluf, mãe dos irmãos Assad, que costuma atuar como moderadora em caso de desavenças. A contribuição mais importante de Anisa para garantir a manutenção do poder é seu parentesco. A família Makhluf assegura o regime financeiramente. Seu irmão, Mohammed Makhluf, ex-assessor financeiro de Hafez al-Assad agora com 80 anos, foi quem transformou a antes pobre família alauita num amplo império econômico.

Com suas atividades nos ramos de comércio, telecomunicações e geração de energia, na indústria de petróleo, gás e também no setor bancário, os Makhluf controlam a maior parte da economia síria. O filho mais velho de Mohammed, Rami Makhluf, é tido como o executivo mais rico do país. Ele se tornou para a população um símbolo do nepotismo e da cleptocracia, e um dos mais odiados representantes do regime, por ser proprietário da primeira operadora de telefonia celular da Síria, Syriatel. Irmãos de Rami e um outro primo por parte da mãe ocupam posições de liderança do serviço de inteligência.

Clã Assad. À frente, Hafez com a esposa, Anisa. Atrás estão Maher, Bashar, Bassel, Majed e BushraFoto: AP

Parentesco poderoso

A família do pai de Bashar também está interligada a uma rede impenetrável de inteligência, militares e milícias. Tem filhos como altos representantes do Exército, alguns dos primos estão envolvidos nas temidas milícias Shabiha. Todos esses membros da família estão na lista de sanções da União Europeia, por comandarem, financiarem ou apoiarem ações violentas contra civis.

A estrutura de poder da Síria tem base em tantos membros leais e possui tantas ramificações da família do presidente que mesmo a morte de uma figura central como Asef Shaukat não leva a um colapso. Isso é importante levar em conta, nos planos que já são feitos para um período pós-Assad. Porque, então, a questão será saber quem teve papel de destaque no aparato de segurança, quem deve ser responsabilizado, o que fazer com os serviços de inteligência e quais integrantes do governo podem eventualmente ser envolvidos numa transição ordenada de poder.

Autora: Kristin Helberg (md)
Revisão: Augusto Valente

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