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Claudio Pizarro: o último de uma era pendura as chuteiras

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
28 de julho de 2020

"Pizza" marcou toda uma geração de admiradores. Com a aposentadoria do peruano, o futebol alemão perde o estrangeiro com mais jogos na Bundesliga e o único jogador que, em 21 temporadas, sempre marcou pelo menos um gol.

Claudio Pizarro comemora gol com a camisa do Werder Bremen em agosto de 2019Foto: Getty Images/Bongarts/S. Franklin

Tudo começou com inúmeras doses de Pisco Sour, coquetel típico peruano, num bar de hotel em Lima. Frente à frente estavam Jürgen Born, presidente do Werder Bremen, e Claudio Pizarro Davila, o pai da jovem revelação do Club Alianza. Born tinha visto o atacante durante um treino e ficou encantado. O encontro fartamente regado a seguidos drinks resultou na contratação do atacante de apenas 20 anos, que poucos meses depois faria sua estreia pelo time alviverde em 28 de agosto de 1999.

De certo modo, Claudio Pizarro, hoje aos 41 anos de idade, é o último de sua espécie. Com sua aposentadoria, o futebol alemão perde o último jogador profissional em atividade cuja estreia na Bundesliga se deu no século passado. Ele estava lá quando grandes carreiras começaram e terminaram. No ano em que Miroslav Klose estreou como profissional pelo Kaiserslautern, Pizarro já tinha completado um ano na Bundesliga. Quando Klose encerrou sua carreira, Pizarro, então com 37 anos, continuava sendo um dos protagonistas do Werder.     

Para Pep Guardiola, considerado por muitos o melhor técnico do mundo, o peruano foi um dos melhores atacantes que já viu. "Gostaria de vê-lo jogar no meu time quando estava no auge de sua carreira, com 24, 25 ou 26 anos de idade."

Quem não se lembra de "Pizza", como Pizarro é chamado carinhosamente pelos torcedores, que aos 34 anos anotou quatro gols na lendária goleada do Bayern sobre o Hamburgo por 9 a 2? Foi em março de 2013, ano em que, sob a batuta de Jupp Heynkes, os bávaros conquistaram a tríplice coroa. 

Por falar em números, Pizarro é o maior artilheiro da história do Werder Bremen. É o estrangeiro com mais jogos na Bundesliga, e é o único jogador que, em 21 temporadas consecutivas, sempre marcou pelo menos um gol. Foram 87 pelo Bayern e 109 pelo Werder.  Em outubro de 2010, se tornou o artilheiro estrangeiro recordista da liga, com 134 gols, superando seu ex-colega brasileiro Giovanni Elber. Apenas em 2019 o atacante peruano seria ultrapassado pelo polonês Robert Lewandowski na liderança de goleadores estrangeiros.

Um dos muitos mitos no futebol reza que jogador, assim como torcedor que se preze, só pode amar um único clube. Exemplos clássicos no futebol mundial não faltam. Steven Gerrard, Paolo Maldini e Gerd Müller, só para citar alguns. Claudio Pizarro tem dois grandes amores.  Considerando todas as partidas nas quais jogou, "Pizza" atuou 319 vezes pelo Werder e 327 vezes pelo Bayern, fora alguns jogos pelo Colônia e pelo Chelsea. Mesmo dividido entre dois amores, ele continuava sendo amado por ambas as torcidas.

Foi e voltou diversas vezes para o Werder Bremen, e a torcida sempre o recebia de braços abertos. Passou a ser considerado o filho pródigo que acaba voltando algum dia para a casa que o projetou no futebol internacional.  A bucólica cidade hanseática de Bremen representava para Pizarro um eterno retorno aos seus primórdios na Alemanha. Quando voltou pela quarta vez no ano passado, uma multidão de torcedores foi ao aeroporto para recepcioná-lo.

“Mal pude acreditar no que estava acontecendo”, ele disse. "Imaginei que deveria ter alguém importante no avião para uma recepção daquela. Talvez um astro do cinema ou da TV. Demorou a cair a ficha. A festa no aeroporto foi em minha homenagem. Inacreditável."

O Werder Bremen, às duras penas, conseguiu se manter na primeira divisão ao passar pelo Heidenheim na repescagem, pelo critério de gols marcados fora de casa. Depois da última partida, o técnico Florian Kohfeldt, quatro anos mais jovem que Pizarro, se desculpou por não ter escalado o peruano para atuar ao menos por alguns minutos. "Pizza" não perdeu a pose: "Não tem importância. O importante é que continuamos na Bundesliga." Em seguida, ainda dentro de campo, ele foi carregado em triunfo pelos companheiros de time.

Ainda não está claro quais serão os próximos passos do atacante que marcou toda uma geração de admiradores em Bremen, Munique e tantas outras cidades dentro e fora da Alemanha. 

Em Munique, tem um cargo esperando por ele – cargo esse que já foi ocupado por Paul Breitner. É o de embaixador do Bayern mundo afora. É uma oferta tentadora, mesmo porque, assim como em Bremen, a torcida bávara também adora Claudio Pizarro.  

Pep Guardiola soube do fim de carreira de Pizarro logo depois de um jogo dos "skyblues" e disparou: "O futebol merece e precisa de pessoas como Claudio. Oxalá volte logo, quiçá como treinador."

Pelo menos por ora, aos 41 anos, "Pizza" dá sua carreira por encerrada. Pretende dar mais atenção à família e descansar em sua fazenda no Peru, onde mantém um haras com cavalos puro-sangue. Certamente serão momentos de reflexão aos pés dos Andes e talvez, quem sabe, ele dê ouvidos às palavras do técnico catalão. Oxalá!        

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.