Reunido em Paris, grupo de países liderado pelos EUA prevê longa luta contra o "Estado Islâmico" e elogia plano militar e político do governo iraquiano. Objetivo é recuperar terreno perdido na luta contra os jihadistas.
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Em reunião na capital francesa nesta terça-feira (02/06), a coalizão de países liderada pelos Estados Unidos para combater o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) disse esperar uma luta "de longo prazo" contra os jihadistas no Iraque e na Síria.
Em declaração conjunta, os cerca de vinte países e organizações reunidos em Paris exprimiram "forte apoio" ao plano de urgência de Bagdá para retomar a província de Anbar das mãos dos EI.
"É um bom plano militar e político para reconquistar a província de Anbar", afirmou o vice-secretário de Estado americano, Antony Blinken.
O plano apresentado pelo primeiro-ministro iraquiano, Haidar al-Abadi, prevê "impulsionar o apoio aos combatentes tribais da província de Anbar a fim de que lutem contra o EI ao lado das forças iraquianas" e "garantir que todas as forças que participem da libertação da província operem sob os comandos e o controle do primeiro-ministro".
Críticas do Iraque
O ministro do Exterior francês, Laurent Fabius, falou em Paris de uma "determinação total" dos parceiros da coalizão. Fabius rebateu críticas do governo iraquiano sobre a falta de apoio da comunidade internacional.
Nesta manhã, Abadi havia criticado os países ocidentais pela falta de apoio ao Iraque. "Acho que é uma falha da comunidade internacional. Quanto ao apoio ao Iraque, há muitas palavras, mas pouca ação no terreno", disse o primeiro-ministro em coletiva de imprensa em Paris.
Por ocasião de seu encontro com a coalizão, o premiê iraquiano sublinhou que o EI havia chegado ao Iraque pela Síria. Em sua declaração conjunta, os países da coalizão reconhecem "a deterioração contínua da situação na Síria, bem como a incapacidade e a ausência de vontade do regime de Bashar al-Assad de lutar contra o EI".
Para o restabelecimento da paz na Síria, a coalizão apela "pelo lançamento imediato de um processo político verdadeiramente inclusivo, sob os auspícios das Nações Unidas", por meio do estabelecimento de um governo de transição com membros do atual regime e da oposição.
Exemplo a seguir
Também presente na reunião em Paris, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que até agora somente uma "fração" havia sido alcançada na luta contra o "Estado Islâmico". "Ninguém acreditou que a vitória sobre o EI seria fácil. Tudo depende de persistimos na luta", disse.
Durante o encontro, Steinmeier anunciou ainda que a Alemanha disponibilizou 20 milhões de euros para a reconstrução de regiões das quais o "Estado Islâmico" foi expulso. O ministro alemão instou os demais países a seguirem o exemplo.
CA/dpa/lusa/afp
"Estado Islâmico" tenta apagar história
Militantes do EI estão destruindo artefatos culturais de milhares de anos no Iraque. O estrago foi condenado mundo afora e fez o Iraque pedir ajuda internacional.
Foto: Mohammad Kazemian
Acabando com o patrimônio
Militantes do "Estado Islâmico" (EI) saquearam e destruíram estátuas em museus de Mossul, no norte do Iraque. Acredita-se que as relíquias pertenciam à antiga civilização mesopotâmica. Os jihadistas, que tomaram grande parte do Iraque e da Síria, afirmam que sua interpretação do islã exige que as estátuas e artefatos culturais sejam destruídos. Muitos estudiosos do islã condenam a ação do grupo.
Estas são as ruínas de Hatra, construída há 2 mil anos pelo Império Selêucida, que controlava grande parte do mundo antigo. Segundo relatos, militantes do EI trouxeram escavadeiras para destruir a cidade. "A luta deles é por identidade, querem destruir a região, principalmente o Iraque, e seus patrimônios da humanidade", disse o ministro do Turismo do Iraque, Adel Shirshab.
Os membros do grupo militante também destruíram parte de Nínive, antiga cidade no norte do Iraque, considerada o berço da civilização por muitos arqueólogos ocidentais. "Já era esperado que o EI a destruísse", disse o ministro do Turismo iraquiano aos jornalistas. A ONU classificou a destruição de "crime de guerra".
"O céu não está nas mãos dos iraquianos. Por isso, a comunidade internacional tem que tomar uma atitude", disse o ministro do Turismo do Iraque ao pedir ataques aéreos contra os extremistas do EI. Bagdá afirmou que os militantes do EI estão desafiando "a vontade do mundo e os sentimentos de humanidade".
Os militantes do EI afirmam que as esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do islã, que proíbem a adoração de estátuas. E quando os jihadistas não as estão destruindo, estão lucrando com elas. Especialistas afirmam que o grupo está faturando no mercado internacional com a venda de estátuas menores, enquanto as maiores são destruídas.
Estudiosos costumam comparar a destruição do patrimônio cultural por parte do EI à demolição dos Budas Gigantes de Bamiyan, pelos talibãs afegãos, em 2001. Hoje, há somente um espaço vazio onde as grandes estátuas ficavam. Entretanto, alguns temem que o estrago causado pelo EI às ruínas da antiga civilização mesopotâmica, pioneira da agricultura e da escrita, possa ser ainda mais devastador.