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Coalizão da sensatez toma forma

Neusa Soliz11 de fevereiro de 2003

Com a adesão da Rússia à iniciativa para evitar uma guerra contra o Iraque, a Alemanha já não se sente isolada na luta pela paz e vê melhores chances no Conselho de Segurança.

Chirac (dir.) e Putin em Paris: Rússia fortalece aliança contra a guerra do IraqueFoto: AP

O primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, recebe nesta terça-feira (11) o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, na ilha de Lanzarote. A questão do Iraque, na qual defendem posições contrárias, é o principal tema na agenda. Enquanto a Alemanha, juntamente com a França e a Bélgica, se opôs a preparativos de guerra no âmbito da OTAN, o governo de Madri, encabeçado pelo conservador Aznar, é um dos fiéis aliados dos EUA na linha dura contra o regime de Saddam Hussein, juntamente com a Grã-Bretanha e a Itália. Consta que o político espanhol foi até o autor da declaração pela qual oito chefes de governos europeus expressaram sua solidariedade com os EUA na questão do Iraque.

Aznar e SchröderFoto: AP

"Esse regime mostrou sua agressividade e sua falta de escrúpulos, ao dispor de armas de extermínio em massa, violando o direito internacional", disse o premiê espanhol que, entretanto está bastante isolado em seu país com esta posição. As últimas pesquisas de opinião apontam uma maioria de 91% contra a guerra e no cenário político aumenta a pressão contra o chefe de governo.

Nesta terça-feira, todos os partidos políticos representados no parlamento espanhol, com exceção do Partido Popular, de Aznar, instaram o governo a fazer de tudo para que o conflito com o Iraque seja solucionado por meios pacíficos. O encontro de Schröder com Aznar visa distender as relações entre os dois países, mas dificilmente trará uma aproximação entre os dois pontos de vista.

Pacifistas preparam-se para tomar as ruas

Pacifistas em Munique

O Greenpeace realizou uma manifestação contra a guerra diante da embaixada americana em Madri nesta terça-feira. Em vários países europeus o movimento pacifista se prepara para tomar as ruas no próximo sábado (15) contra uma guerra no Iraque. Segundo a Aliança de Ação pela Paz, que coordena mais de 50 ONGs e grupos sociais relevantes na Alemanha, Berlim poderá ser palco da maior manifestação pacifista dos últimos anos. No sábado haverá manifestações também em Istambul, Sydney, Tóquio, Kiev, Paris, Oslo e Varsóvia.

Na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro britânico Tony Blair também enfrenta resistência. Sua popularidade atingiu o índice mais baixo dos últimos dois anos. O político trabalhista perdeu o apoio de um terço das pessoas consultadas pelo Times, devido, entre outros motivos, ao seu apoio aos EUA no conflito do Iraque. Apenas 35% disseram aprovar sua política.

Conselho de SegurançaFoto: AP

Na guerra de posições antes de uma virtual agressão contra o Iraque, parece até haver uma divisão de trabalho na imprensa: enquanto os jornais ingleses atacam a Alemanha por sua posição pacifista e desmontam Schröder, os norte-americanos agora caíram na alma dos franceses. O tom é de "serpentes traidoras" (The Sun, inglês) a políticos que se comportam mais como "pigmeus do que estadistas" (Wall Street Journal).

Chirac pôs a carta russa no jogo

A grande novidade na frente contra a guerra é a adesão da Rússia, com o que o grupo de países que defende uma solução pacífica ganhou um importante aliado. Depois de estar com o chanceler federal alemão em Berlim, quando ainda se manifestou hesitante, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, esteve em Paris na segunda-feira, onde o presidente Jacques Chirac conseguiu convencê-lo. Agora, a França, Rússia e Alemanha pretendem difundir no Conselho Mundial de Segurança a idéia de "uma coalizão da sensatez", para usar uma expressão da imprensa francesa, entusiasmada com o fato de a "velha Europa" receber apoio da "nova Rússia".

Tony BlairFoto: DPA

Com grande expectativa aguarda-se a reunião do Conselho Mundial de Segurança na sexta-feira (14), quando se decidirá sobre a duração das inspeções de armas no Iraque. O que França, Alemanha e Rússia propõem é a prolongação das inspeções e reforço de recursos humanos e técnicos. A China já teria sinalizado seu apoio, ao considerar "sensata" a proposta, indicou Putin.

Berlim vê maioria pela paz no Conselho de Segurança

Diante disso, o governo alemão - criticado tanto internamente pela oposição como no exterior por seu "não" à guerra - vê-se fortalecido em sua política. Uma solução pacífica ganha cada vez mais terreno no Conselho de Segurança, afirmaram círculos ligados ao governo de Berlim. A bancada do Partido Social Democrático (SPD) reuniu-se nesta terça-feira com o chefe de governo, dando-lhe seu pleno respaldo. Schröder foi aplaudido pelos deputados ao considerar a questão de guerra ou paz como "uma decisão histórica". Trata-se, no fundo, de saber se o mundo continuará tendo vários pólos ou se apenas uma superpotência irá dominá-lo, frisou Schröder.

A declaração conjunta com a Rússia demonstra que a Alemanha não está isolada na sua oposição à guerra, interpretou Berlim, que conta com a adesão de mais países nos próximos dias. O governo alemão calcula que os seguidores dos EUA estão em minoria no Conselho Mundial de Segurança.

A posição belicista só seria defendida pelos EUA, a Grã-Bretanha e os membros temporários Espanha e Bulgária. "Os demais concordam com a posição alemã", afirmaram fontes do governo alemão, que atribuíram grande importância à declaração franco-russa-alemã porque a França e a Rússia são membros permanentes no Conselho, juntamente com a China, os EUA e a Grã-Bretanha.

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