Coalizão de Merkel tem seu pior índice de aprovação
19 de outubro de 2018
Parceiros de governo, CDU e SPD perdem apoio e somam 39% de aprovação, enquanto verdes e AfD crescem nas pesquisas. Para metade dos alemães, surgimento de novas forças políticas beneficia o debate democrático no país.
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O apoio popular aos partidos que integram a coalizão de governo da Alemanha atingiu o nível mais baixo de que se tem registro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19/10) pela pesquisa Deutschlandtrend, realizada pelo instituto Infratest dimap em conjunto com a emissora pública ARD e jornais alemães.
Os membros da coalizão – de um lado, o bloco formado por União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e seu partido irmão União Social Cristã (CSU), e do outro, o Partido Social-Democrata (SPD) – vêm perdendo apoio desde as últimas eleições federais, em setembro de 2017.
Segundo a pesquisa encomendada pela ARD, caso as eleições federais fossem realizadas no próximo domingo, apenas 25% dos alemães votariam na CDU/CSU, e 14%, no SPD, partido que luta para manter sua identidade após vários anos de governos de coalizão com a CDU.
Ambos os blocos perderam, assim, um ponto percentual em relação ao último levantamento, de 11 de outubro, e o índice de aprovação da coalizão ficou, portanto, em 39%. Nas eleições de setembro do ano passado, as legendas obtiveram juntas 53,5% dos votos (20,5% para SPD, e 33% para CDU/CSU).
No primeiro mandato de Merkel, de 2005 a 2009, os social-democratas compuseram o governo ao lado dos parceiros atuais, CDU/CSU. No mandato seguinte da chanceler federal, entre 2009 e 2013, o partido Partido Liberal Democrático (FDP) substitui o SPD, que, por sua vez, voltou para a coalizão em 2013 e, após longas negociações, nela permaneceu neste quarto mandato de Merkel.
Enquanto SPD e CDU/CSU perdem apoio, tem aumentado o respaldo ao Partido Verde e à legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Em geral, segundo a pesquisa, os alemães estão preocupados com o status quo, mas muitos acreditam que mudanças são boas para uma democracia.
O Partido Verde capitalizou com a queda de apoio às legendas tradicionais e alcançou seu melhor resultado desde setembro de 2011 – 19% dos entrevistados afirmaram que votariam nos verdes, dois pontos percentuais a mais que na pesquisa anterior.
No último fim de semana, o Partido Verde obteve um resultado surpreendente nas eleições regionais da Baviera, estado alemão tradicionalmente dominado pela CSU nas urnas. Enquanto a CSU caiu mais de 12 pontos percentuais em relação à eleição anterior e obteve apenas 35,6% dos votos, os verdes saltaram de 8,6%, em 2013, para 17,5%.
A AfD, por sua vez, manteve-se na pesquisa Deutschlandtrend divulgada nesta sexta-feira à frente dos social-democratas como a terceira força política na Alemanha – 16% dos entrevistados afirmaram que votariam na AfD caso houvesse eleições federais no próximo domingo.
A pesquisa revelou que 51% dos eleitores estão preocupados com o declínio da aceitação dos partidos políticos mais tradicionais da Alemanha. Ao mesmo tempo, 47% dos entrevistados disseram que o surgimento de novas forças políticas faz bem para o debate democrático no país.
Para a pesquisa, o instituto Infratest dimap ouviu, por telefone, 1.040 eleitores nos dias 16 e 17 de outubro. A margem de erro é de 3,1 pontos porcentuais.
Chanceler federal dá sinais de que pode não chegar ao fim de seu quarto mandato devido às constantes brigas internas na sua coalizão de governo. Especulações sobre sua sucessão já estão a todo vapor.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Kirchner
A afilhada: Annegret Kramp-Karrenbauer
Se Merkel pudesse escolher seu sucessor, a escolha recairia sobre Annegret Kramp-Karrenbauer. A secretária-geral da CDU tem alta popularidade e já venceu as eleições para o governo do estado do Sarre. Assim como Merkel, ela defende uma solução europeia para a migração e, como defensora da União Europeia, classifica o unilateralismo nacional como uma ameaça à unidade europeia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber
O nome de transição: Wolfgang Schäuble
O presidente do Bundestag é o membro com mais tempo de casa da história do Parlamento alemão e tem uma autoridade para além das frentes partidárias. Embora critique a política de migração de Merkel, ele a apoiou na disputa com a CSU. Schäuble participou das negociações dos tratados da UE, mas, devido à sua posição dura em relação à Grécia, foi tachado de "disciplinador da Europa".
Foto: Reuters/H. Hanschke
A impopular: Ursula von der Leyen
Por muito tempo, Ursula von der Leyen era tida como a candidata mais promissora para a sucessão de Merkel. No entanto, a ministra da Defesa é impopular e tem pouco apoio dentro da CDU. Von der Leyen defende um exército europeu, que "possa colocar mais peso na balança", e foi favorável à cursos de formação para refugiados pelas Forças Armadas da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
O compromisso: Julia Klöckner
A ministra da Agricultura e da Defesa do Consumidor, Julia Klöckner, tem sabido se posicionar entre os grupos de apoiadores e de críticos de Merkel. A estratégia pode levar a ex-rainha do vinho à chancelaria federal. Na eleição para o governo da Renânia-Palatinado, no entanto, essa estratégia não funcionou: Klöckner alternou entre elogios e críticas na questão dos refugiados e perdeu nas urnas.
Foto: Reuters/H. Hanschke
O conservador: Jens Spahn
O ministro da Saúde, Jens Spahn, tem se mostrado mais comedido nas críticas à chanceler federal. No entanto, ele é considerado um dos adversários internos mais ferrenhos de Merkel e representa a renovação conservadora da CDU. Spahn quer limitar o número de refugiados, apoia a proibição da burca e rejeita a dupla cidadania, assim como um ministro europeu das Finanças.
Foto: picture alliance/dpa/C. Koall
A esperança futura: Daniel Günther
O governador de Schleswig-Holstein lidera no norte da Alemanha uma coalizão que não se concretizou em Berlim, mas é vista como o futuro dos conservadores: com os liberais e os verdes. No entrevero entre CDU e CSU, Günther foi o mais ávido defensor de Merkel e quer, por meio de uma lei de imigração, abrir o mercado de trabalho também para requerentes de refúgio que tiveram seus pedidos rejeitados.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Rehder
A eminência parda: Peter Altmaier
O ministro da Economia, Peter Altmaier, é considerado o braço direito de Merkel. Por exemplo, no auge da crise dos refugiados, Merkel desmoralizou o então ministro do Interior Thomas de Maizière ao nomear Altmaier coordenador da política de refugiados. Na disputa comercial com os EUA, Altmaier quer mais Europa e menos Trump: "A comunidade de valores é mais forte que políticos isolados".
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
O subestimado: Armin Laschet
O governador do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, é sempre um candidato à chancelaria federal, embora pouco se especule sobre o nome do atual ocupante do cargo, Armin Laschet. Mas isso não diminui suas chances, afinal, há um ano, Laschet venceu as eleições estaduais de forma surpreendente e, na política para refugiados, defende o curso adotado por Merkel.