Coalizão liderada pelos EUA volta a atacar "Estado Islâmico" na Síria
27 de setembro de 2014
Pelo menos sete alvos em território sírio são atingidos, incluindo a província central de Homs e a cidade fronteiriça de Ayn al-Arab. Jatos britânicos sobrevoam Iraque pela primeira vez.
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A coalizão militar internacional liderada pelos Estados Unidos realizou novos ataques neste sábado (27/09), atingindo alvos do "Estado Islâmico" (EI) na Síria e no Iraque.
Foram realizados ataques na província central síria de Homs, pela primeira vez desde o início da ofensiva ocidental contra os radicais islâmicos, e também foram alvejadas instalações de controle na cidade de Minbej, perto do limite ocidental da área sob controle do EI, afirmou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG baseada em Londres.
Segundo o diretor da organização baseada em Londres, Rami Abdel Rahman, os alvos atingidos em Homs estavam bem distantes do front das batalhas entre rebeldes e forças leais ao presidente Bashar al-Assad, que controla a cidade de Homs.
Ataques na "sede" do califado
O Pentágono confirmou a nova rodada de ataques aéreos comandados pela Forças da coalizão, ressaltando que eles atingiram sete alvos na Síria, incluindo um prédio do EI e dois veículos carregados com armas que cruzavam a fronteira na cidade curda de Ayn al-Arab, também conhecida como Kobane, ocupada pelos radicais.
Outros alvos na Síria incluíram veículos e prédios dos jihadistas próximos de Al-Hasakah, além da cidade de Raqqa, a qual os islamistas haviam declarado ser a "sede" do califado anunciado em junho passado. "Pelo menos 31 explosões foram ouvidas na cidade de Raqqa e imediações", afirmou o Observatório.
Os ataques foram realizados pela Aeronáutica e Marinha dos Estados Unidos, e contaram com aviões da Arábia Saudita, da Jordânia e dos Emirados Árabes, afirmou o comando americano.
"Combinados com nossos contínuos esforços no Iraque, esses ataques continuarão impedindo a liberdade de movimento do 'Estado Islâmico' e desafiando sua habilidade de planejar, coordenar e sustentar suas operações", declarou o secretário americano de Defesa, Chuck Hagel, na sexta-feira.
No Iraque, três ataques foram conduzidos no sudoeste de Erbil, destruindo quatro veículos e uma área de combate.
O general Martin Dempsey, do grupo de comandantes das operações, afirmou ainda que as ações para derrotar o EI na Síria devem demandar algo entre 12 mil e 15 mil rebeldes moderados, treinados e armados pelos Estados Unidos. Sem interesse em trabalhar com o governo sírio, Washington planejava até então treinar e entregar armas a 5 mil rebeldes.
Sobrevoo de jatos ingleses
Também neste sábado, dois jatos de guerra britânicos sobrevoaram o Iraque em sua primeira missão um dia depois de o Parlamento inglês autorizar a participação do Reino Unido na luta contra os militantes do "Estado Islâmico" em território iraquiano – mas não na Síria. O Ministério da Defesa do Reino Unido declarou, porém, que nenhum ataque aéreo foi realizado.
"Trata-se de terroristas psicopatas que querem matar, e temos que entender que, gostemos disso ou não, eles já declararam guerra contra nós", afirmou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, durante debate no Parlamento na sexta-feira.
Parlamentares em Bruxelas também aprovaram decisão semelhante e ofereceram jatos para uso em ataques no Iraque. A autorização ainda precisa ser aprovada em plenário.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.