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Ensino pago preocupa

Luiz Fernando de Oliveira 17 de novembro de 2006

As instituições públicas de ensino superior da Alemanha estão deixando de ser gratuitas e o pagamento de uma taxa semestral, que pode chegar a 800 euros, causa problemas também para os brasileiros que estudam no país.

A Universidade de Bonn também aderiu à cobrança da taxa semestral: 650 euros para europeus e 800 euros para estrangeirosFoto: DW/Max Marenbach

Uma sentença do Tribunal Constitucional Federal alemão permite que, desde janeiro de 2005, as universidades públicas da Alemanha cobrem uma taxa semestral (ou anual) dos estudantes, de acordo com as leis de cada Estado. A decisão da Justiça deu início à extinção do ensino superior gratuito no país, uma nova realidade que tem causado dor de cabeça a muitos estudantes.

A sentença desencadeou manifestos estudantis nas principais cidades da Alemanha. Naquela ocasião, mais de 20 mil estudantes saíram às ruas para protestar contra a contribuição obrigatória, porém nada mudou. No início do semestre de inverno de 2006/2007, a taxa começou a ser cobrada dos calouros na maioria dos Estados. Já os veteranos terão de arcar com a despesa a partir do semestre seguinte.

Estrangeiro paga mais

Estudantes saíram às ruas para protestar contra a cobrança das taxas, mas nada mudouFoto: AP

Por uma série de fatores, a situação é delicada para os estrangeiros. Existe uma linha de crédito para os que não têm condições de pagar a taxa, mas, quando o estudante vem de um país que não faz parte da União Européia, o empréstimo pode ser negado pela falta de garantias de pagamento. Para piorar a situação, o universitário só pode trabalhar 90 dias por ano na Alemanha.

Brasileiros ouvidos pela DW-WORLD reclamam, ainda, de algo que alguns classificam como preconceito: quem é de fora da União Européia tem de pagar uma taxa semestral maior. "Eu acho feio a atitude de cobrar mais dos estrangeiros", declarou a gaúcha de Porto Alegre Rebeca Schumacher, 25 anos, neta de alemães.

"Eu pagaria o normal, o mesmo que um alemão teria que pagar: cerca de 650 euros", opinou Rebeca, que é formada em Letras no Brasil e cursa na Universidade de Bonn algumas disciplinas exigidas para obter a equivalência de seu diploma na Alemanha. Ela completará seus estudos antes da cobrança da taxa para os veteranos. Caso não tivesse o passaporte alemão, teria de pagar 800 euros por semestre.

Passando dificuldades

A taxa semestral pegou muitos brasileiros de surpresa, especialmente porque várias faculdades – e não apenas as universidades – também anunciaram a cobrança. Para as instituições de ensino, a contribuição financeira dos estudantes vai melhorar a qualidade das aulas. Para a acadêmica Luciana Carvalho, 36 anos, o valor pode inviabilizar seus estudos.

A mineira Luciana Carvalho, que estuda em Rosenheim

"A partir do próximo período, vou ter de pagar mais de 300 euros, e depois vai aumentando até chegar a 500 euros por semestre. Eu ainda nem sei de onde vou tirar esse dinheiro. Em fevereiro, tenho que pagar essa taxa, mas estou sem trabalho e sem saber o que fazer", queixou-se a mineira Luciana, que cursa Engenharia de Produção na Escola Superior Técnica de Rosenheim, na Baviera.

Luciana conta que a notícia da cobrança da taxa na instituição na qual ela estuda coincidiu com o fim de seu contrato de estágio na Siemens. Agora ela faz um pouco de tudo para tentar reunir o dinheiro necessário. "Eu tenho trabalhado como baby sitter. Também tem uma instituição católica que ajuda estudantes estrangeiros e nos cafés que eles promovem eu vendo bolos. Vou lá uma vez por semana, mas tem vezes que não rende quase nada", lamentou a mineira.

Melhor que no Brasil

Mesmo com a cobrança das taxas universitárias, a estudante Deise Simones, 29 anos, avalia que sai mais em conta cursar uma faculdade na Alemanha do que pagar por uma particular no Brasil. "Quem trabalha aqui sabe que ganhar esses 800 euros, nas férias, não é o problema. Acredito que ainda continua sendo mais fácil pagar a taxa aqui do que estudar numa universidade particular do Brasil", comentou.

Para Deise, a situação também não é fácil. Para se sustentar e pagar seus estudos, ela trabalha em empregos oferecidos a estudantes, como o de garçonete. Ela lembra que é possível trabalhar 90 dias cheios, mas que prefere 180 meios dias. Assim sobra mais tempo para se dedicar aos cursos de Sociologia, Política e Pedagogia, nos quais está matriculada na Universidade de Bonn.