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Colômbia terá segundo turno entre Duque e Petro

28 de maio de 2018

Disputa presidencial colombiana ficará entre dois candidatos com visões distintas, um uribista conservador e outro liberal de esquerda. Abstenção é a mais baixa em 20 anos. Sucessor de Santos será eleito em 17 de junho.

Gustavo Petro e Iván Duque
Gustavo Petro (à esq.) e Iván Duque disputarão o segunto turno daqui a três semanas

O conservador Iván Duque e o liberal de esquerda Gustavo Petro vão se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais colombianas, de acordo com os resultados oficiais do primeiro turno, realizado neste domingo (27/05) no país latino-americano.

Duque, um seguidor político do ex-presidente Álvaro Uribe e concorrendo pelo partido Centro Democrático, conquistou 39,14% dos votos, o que representa mais de 7,5 milhões de eleitores. Liderando há meses as sondagens eleitorais, sua ida ao segundo turno já era dada como certa.

Já Petro, do Movimento Colômbia Humana e ex-prefeito de Bogotá, recebeu 25,08%, ou cerca de 4,8 milhões de votos, ocupando a segunda vaga na disputa marcada para 17 de junho.

Em declaração após a divulgação dos resultados, Duque expressou seu desejo de "governar com todos e para todos os colombianos". Petro, por sua vez, afirmou que o país tem uma decisão a tomar: "se segue uma nova era de violência ou se constrói uma nova era de paz". "Isso será resolvido nas urnas", disse a partidários.

O terceiro colocado, o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, da Coalizão Colômbia, de centro, obteve cerca de 260 mil votos a menos que Petro, somando 23,73%. Em Bogotá, o político reconheceu a derrota e agradeceu os votos de seus mais de 4,5 milhões de eleitores, mas não indicou quem apoiará no segundo turno – decisão essa que pode ser decisiva na disputa.

Os três primeiros colocados lançaram mulheres ao cargo de vice-presidente: Martha Lucía Ramírez concorre com Duque, Ángela María Robledo, com Petro, e Claudia López formava a chapa com Fajardo.

Os demais candidatos são Germán Vargas Lleras, do movimento de centro-direita Mejor Vargas Lleras, apoiado por parte do oficialismo, que conquistou 7,28% dos votos; Humberto de la Calle, do Partido Liberal, com 2,06%; Jorge Antonio Trujillo, de Todos Somos Colômbia, com 0,39%; e Viviane Morales, do partido Somos Región Colombia, com 0,21%.

O resultado do primeiro turno foi marcado por cifras inéditas. Segundo a imprensa colombiana, Preto é o primeiro candidato da esquerda a ir ao segundo turno e a receber mais de 4 milhões de votos no país.

Já Duque é o primeiro candidato a alcançar 7,5 milhões de votos em um primeiro turno na Colômbia. A cifra supera os 7,4 milhões recebidos por seu mentor Uribe em 2006, quando foi eleito presidente com 62,35% dos votos, sem necessidade de segundo turno. Na ocasião, a participação nas urnas foi bem menor.

O pleito deste ano é visto como decisivo para o futuro do país, que em 2016 assinou um acordo de paz histórico com o antigo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e agora negocia um pacto com o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Entre os temas que vinham preocupando a população às vésperas das eleições estão justamente a inclusão dos ex-combatentes das Farc na sociedade e as negociações de paz com o ELN, além da crise migratória venezuelana, que deixa rastros na Colômbia.

Pela primeira vez na história recente do país, os candidatos não centraram sua campanha eleitoral em formas de derrotar os guerrilheiros rebeldes, como vinha ocorrendo nas últimas décadas antes do acordo. Temas como segurança, educação, saúde e economia tomaram lugar.

Alta participação

Neste domingo, mais de 36 milhões de colombianos foram convocados a escolher seu próximo presidente, que sucederá Juan Manuel Santos. A participação foi a maior em duas décadas, ultrapassando os 53% – em comparação, pouco mais de 40% dos eleitores foram às urnas no primeiro turno de 2014.

Santos foi um dos primeiros a votar em BogotáFoto: Reuters/C. Garcia Rawlins

Santos, que em 2016 recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para pacificar o país, se despede do governo no próximo dia 7 de agosto, com uma popularidade abaixo da marca de 20%.

Ao votar durante a manhã, o presidente descreveu as eleições deste ano como "as mais tranquilas da história da Colômbia", que "fecha um ciclo de uma eleição em paz, após o fim de uma longa guerra".

Segundo o Registro Civil Nacional da Colômbia, responsável pelo processo eleitoral, o pleito transcorreu com tranquilidade. O chefe do órgão, Juan Carlos Galindo, informou que ataques cibernéticos tentaram atingir o sistema da entidade, mas garantiu que nenhum deles "prejudicou seu funcionamento".

Após votar em Bogotá, o esquerdista Petro declarou que a garantia de transparência nestas eleições "não é dada hoje pelo Estado, mas pelos cidadãos". Por isso, fez um pedido para que as pessoas gravassem com seus celulares "qualquer tipo de crime e de fraude".

O candidato denunciou dias antes do pleito que estava sendo preparada uma "fraude" para que ele não alcançasse a quantidade de votos suficientes para ir ao segundo turno. Segundo Petro, as autoridades eleitorais queriam favorecer o ex-vice-presidente Lleras, que nas pesquisas de intenção de voto já aparecia em quarto lugar.

Duque, por sua vez, aproveitou para fazer campanha ao falar com a imprensa em seu colégio eleitoral neste domingo, reiterando que deseja governar a Colômbia "sem espelho retrovisor, olhando para o futuro do país". "Quero um país de legalidade, de luta frontal contra a corrupção, em que sempre haja segurança em todo o território", afirmou logo após votar.

Recebido por simpatizantes aos gritos de "Duque presidente", o conservador disse se sentir "muito honrado de chegar a estas eleições" como representante de uma geração de colombianos "que quer governar com todos e para todos".

Em Cali, papel mostra as chapas que concorreram neste primeiro turnoFoto: Getty Images/AFP/L. Robayo

Posições conflitantes

Durante a campanha eleitoral, Duque e Petro apresentaram visões profundamente diferentes sobre o futuro econômico da Colômbia e dos processos de paz, em eleições marcadas pela polarização.

Sobre o tema imigração, a divergência entre os dois candidatos não foi menor. Duque promete proteger melhor os mais de 2 mil quilômetros de fronteira verde da Colômbia com a Venezuela, apesar de propor a criação de um programa de convalidação de diplomas e vistos de trabalho temporários.

Petro, por sua vez, pleiteia o acolhimento sem burocracias e pretende criar um modelo de abastecimento alimentar para os refugiados venezuelanos. Apesar de ser criticado por sua proximidade com a esquerda da Venezuela, o candidato à presidência pretende denunciar em instâncias internacionais a violação de direitos humanos no país vizinho.

"Na Venezuela impera uma ditadura com consequências devastadoras para a população. O primeiro dever do governo colombiano consiste em ajudar os venezuelanos", declarou, ao jornal El País, o ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19), desmobilizado em 1990.

Segundo a agência estatal Migración Colombia, mais de 800 mil refugiados do país vizinho se encontram atualmente em território colombiano. Sobretudo às vésperas das eleições venezuelanas de 20 de maio, o número de cruzamentos de fronteiras cresceu 40%.

Em relação ao acordo de paz com as Farc, Petro defende o pacto e a reintegração dos ex-combatentes à sociedade, além de ser saudado por sua ampla atenção aos setores mais necessitados e por seu entusiasmo em eliminar a desigualdade social. Ele pretende seguir as negociações com o ELN.

Já Duque agrada aos eleitores que desejam modificar o acordo de paz, pois é o candidato que mais se mostrou em desacordo com o pacto. Seu objetivo é evitar que os ex-guerrilheiros tenham acesso a cargos eletivos antes de cumprir suas penas. Quanto às negociações com o ELN, sinalizou que preferiria voltar-se para a via militar.

Cristian Rojas, diretor do programa de Ciências Políticas da Universidade de La Sabana, afirma que os pontos estruturais do acordo de paz com as Farc dificilmente poderão ser mudados, ainda que o novo presidente deva tomar a decisão de continuar com a implementação do acordo ou modificá-lo.

Um à direita, outro à esquerda

Ex-senador, Duque é visto por alguns como o homem que poderia chegar à presidência para obedecer as instruções do ex-presidente Uribe (2002-2010), que hoje é o líder máximo do Centro Democrático, partido que apesar de se autodenominar de centro, é considerado de direita.

Há um ano, quando a campanha mal tinha começado, muitos colombianos afirmaram que votariam "em quem Uribe dissesse", que acabou sendo Duque.

A candidatura de Petro, por sua vez, faz a esquerda colombiana sonhar com a possibilidade de chegar pela primeira vez à presidência, aspiração que encontra oposição de parte da sociedade que não vê com bons olhos o passado guerrilheiro do político.

Esta é a segunda tentativa de Petro de assumir a presidência. Em 2010, ele se candidatou pelo Polo Democrático Alternativo (PDA) e obteve 1,3 milhão de votos no pleito vencido por Santos.

Se o esquerdista for eleito presidente, analistas temem que ele não consiga formar uma equipe para governar, aludindo à imagem pouco favorável que construiu nos anos em que foi prefeito de Bogotá (2012-2016). Sem maioria no Congresso, Petro não teria força para impulsionar reformas.

EK/LFP/ap/dpa/efe/dw

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