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Colômbia vai às urnas escolher entre duas receitas para paz com guerrilha

14 de junho de 2014

Eleição presidencial mais acirrada dos últimos anos confronta ideias distintas para encerrar disputa com guerrilha colombiana: paz negociada ou imposta por meios militares. Acusações marcaram últimas semana de campanha.

Ex-ministro Iván Zuluaga em debate com presidente colombiano, Juan Manuel Santos: segundo turno apertadoFoto: picture-alliance/dpa

A Colômbia definirá neste domingo (15/06) seu próximo presidente entre o atual mandatário e seu rival de direita, em uma reta final acirrada, confrontando suas receitas distintas para colocar fim ao conflito com a guerrilha: negociar a paz ou regressar a uma luta implacável.

Pesquisas preveem a eleição mais disputada da história recente da Colômbia, com o presidente de centro-direita, Juan Manuel Santos, e o ex-ministro Oscar Iván Zuluaga muito próximos nas preferências dos eleitores.

Embora Zuluaga tenha vencido no primeiro turno, realizado em 25 de maio, ele não conseguiu a maioria de votos para se eleger, sendo necessária uma segunda rodada. O desafiante do governo é apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), principal líder da oposição e defensor de se acabar com a guerrilha por meios militares.

Diálogo com Farc e ELN

Santos e Zuluaga, que está mais à direita do chefe de governo no aspecto ideológico, foram colegas no gabinete de ministros. Os dois são a favor da economia de livre mercado e têm propostas semelhantes contra o desemprego e a pobreza. Entretanto, não poderiam ter mais diferenças sobre como acabar meio século de conflito militar com a guerrilha de extrema esquerda, que deixou mais de 200 mil mortos.

Para tentar se reeleger, o presidente joga todas as suas fichas na promessa de continuar as conversas de paz com as Farc, realizadas em Cuba, para fechar um capítulo sangrento na história da Colômbia. Inclusive aumentou a aposta nesta semana, quando anunciou que o governo realiza desde janeiro negociações de paz preliminares com o segundo grupo guerrilheiro mais importante do país, o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Na última semana foram feitos avanços significativos nas negociações com as Farc, realizadas em Havana. Após 19 meses, as conversas já deixam acordos preliminares em três dos cinco pontos da agenda. Pela primeira vez na história, as Farc reconheceram a responsabilidade pelas vítimas e se comprometeram a incluí-las na atual fase de discussão.

Membros das Farc: conflito entre guerrilheiros e governo já custou mais de 200 mil vidasFoto: Luis Robayo/AFP/Getty Images

"Empate técnico"

Embora o candidato do "uribismo" tenha sido um crítico permanente das negociações com os guerrilheiros e até mesmo já afirmou que não existe um conflito armado na Colômbia e sim uma luta do Estado contra "grupos terroristas", ele mudou nos últimos dias a sua posição e disse que, caso seja eleito, continuará o diálogo, sob condições "claras", como o cessar-fogo unilateral e definitivo.

As últimas sondagens refletem a divisão por que atravessa o país. De quatro pesquisas divulgadas até a semana passada, duas dão a vitória a Santos e outras duas, a Zuluaga, colocando os candidatos em "empate técnico".

Pelas normas eleitorais, é proibido divulgar pesquisas na semana anterior à votação. Por isso, não dá para saber se houve modificações na intenção de voto do eleitorado em meio aos anúncios de Santos sobre as conversas com as Farc e com o ELN e aos escândalos que sacudiram ambas as campanhas.

Escândalos

Zuluaga foi acusado de estar ligado a um hacker preso por tentar sabotar o processo com as Farc, enquanto Santos se vê confrontado com suspeitas de supostas doações do narcotráfico à sua campanha para a presidência em 2010.

Com isso, as propostas para melhoria de setores como saúde, educação e trabalho por parte de cada candidato ficaram ofuscadas pelas acusações mútuas, e a paz ficou sendo o tema central de uma eleição cujo primeiro turno foi marcado por uma participação eleitoral de 60%.

"Uma campanha cheia de acusações mútuas deixou muitos eleitores longe das urnas, porque eles não se identificam nem com os candidatos nem com seus programas", aponta Yann Basset, diretor do Observatório de Processos Eleitorais da Universidad del Rosario, na Colômbia.

"Caso o conflito com a guerrilha seja resolvido pela proposta de Santos, finalmente os colombianos poderão se ocupar com os problemas fundamentais de seu país”, ressalta, em entrevista à DW, a cientista política alemã Sabine Kurtenbach, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), sediado em Hamburgo.

MD/rtr/dpa/dw

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