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Colchões diante do altar para refugiados

Sabrina Pabst (md)2 de setembro de 2015

Abrigos emergenciais estão lotados na Alemanha. Imóveis das igrejas são uma alternativa, mas muitas vezes entraves burocráticos dificultam a acolhida de migrantes em propriedades eclesiásticas.

A igreja St. Pauli, em Hamburgo, abriu suas portas para acolher refugiadosFoto: picture-alliance/dpa

"Você tem que fazer alguma coisa, afinal, temos tudo aqui", disse a si mesmo o padre Daniel Züscher. Os inúmeros relatos sobre o sofrimento de refugiados o emocionaram. Quando soube sob que condições essas pessoas são acomodadas na Alemanha, ele resolveu agir.

Na província franciscana de Vossenack, nos arredores de Colônia, dirigida pelo padre Daniel, seus irmãos e alunos criaram espaço para acomodar refugiados. Desde novembro de 2014, seu internato acomoda cerca de 30 requerentes de asilo. Para o religioso, conceder refúgio a essas pessoas carentes faz parte do espírito cristão.

"Eu só tenho boas experiências", diz, se referindo ao convívio inter-religioso. "Nós festejamos juntos o Ramadã", lembra. O padre não vê problema algum no fato de os refugiados desenrolarem seus tapetes de oração em vez de rezar o terço. Se as pessoas pedem, ele também ajuda no contato com a comunidade muçulmana local.

Padre Daniel segue, assim, o exemplo de São Francisco de Assis. Ele poderia ser considerado um pioneiro quando se trata da acomodação de requerentes de asilo em igrejas, mas acredita que sua missão ainda não chegou ao fim.

A partir de setembro, ele e seus irmãos desejam acolher menores refugiados desacompanhados. Quarto individual, cozinha comum, sala de estar – dentro do internato e do mosteiro há muito espaço e infraestrutura, acredita o padre.

No local, há assistência social e assistentes socioeducativos disponíveis dia e noite, além de saídas de emergência e regras de proteção contra incêndios. Mesmo assim, o mosteiro é inspecionado frequentemente, do porão ao sótão.

"Não posso acreditar que ajudar possa ser tão difícil", lamenta padre Daniel. "Estamos sendo freados pelas autoridades", reclama. Ele luta há um ano e meio contra problemas burocráticos.

Faltam habitações

Compromisso e ação rápida é algo que a prefeita de Aachen, Hilde Scheidt, deseja de outras paróquias católicas. Sua cidade e as comunidades do entorno recebem mais refugiados a cada semana.

"Sendo uma cidade universitária, temos um mercado imobiliário bastante apertado. Não temos tantos alojamentos quanto precisamos", diz. "Adquirimos edifícios que precisamos reformar, pelo menos para evitar a pior alternativa: que centenas de pessoas tenham que ser alojadas em tendas ou ginásios", ressalta Scheidt.

Scheidt: "Temos que evitar que as pessoas tenham que ser acomodades em tendas e ginásios"Foto: Bündnis 90/Die Grünen

Ela também critica as exigências feitas pelas autoridades, pois muitas vezes falta tempo para complicadas obras de adaptação e modernização. Ela afirma ser importante agora uma ação rápida no que se refere a alojamento para refugiados. "O engajamento dos muitos voluntários é algo que não é problema", sublinha Scheidt. Ela está preocupada principalmente com possibilidades de alojamento no curto prazo, para que não seja necessário fechar ginásios ou montar acampamentos.

"Eu gostaria de apelar à Arquidiocese, a maior comunidade religiosa em Aachen, para trabalhar mais em conjunto em termos de habitação e alojamento para refugiados", diz. "Queremos acomodar essas pessoas de forma sensata e humana."

Moradias perfazem a menor parte das propriedades imobiliárias da Arquidiocese de Aachen. No entanto, a diocese pediu às igrejas para relatarem sobre todas as propriedades vagas disponíveis. A maioria dos edifícios são escolas ou igrejas.

"Em regime de urgência, todas as propriedades foram checadas novamente nos últimos meses. A Arquidiocese de Aachen não tem imóveis vagos", informa o vigário- geral Andreas Frick. Propostas da diocese também foram muitas vezes recusadas devido aos regulamentos governamentais.

A situação é semelhante na vizinha Arquidiocese de Colônia. As moradias das quais a Arquidiocese dispõe estão geralmente alugadas no longo prazo, segundo o porta-voz Christoph Heckeley. E aqui também, os espaços oferecidos foram recusados, devido às exigências feitas pelas autoridades locais para imóveis que receberão inicialmente os refugiados, como é o caso de um asilo desativado, que não cumpre os requisitos, segundo Heckeley.

Em abril deste ano, as instituições eclesiásticas colocaram mais de 130 apartamentos à disposição. "De lá para cá, esse número aumentou, pois conosco a regra é: tudo aquilo que estiver vago e for adequado, oferecemos às administrações municipais", explica Heckeley.

O papa Francisco exortou as igrejas e mosteiros a abrirem suas portas aos refugiados. A Arquidiocese de Colônia quer atender esse apelo. O Mosteiro de Santa Clara, que está vazio em Colônia, passará por obras para abrigar refugiados. Para isso, a Arquidiocese disponibilizou 12,5 milhões de euros.

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