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Cinema

Jochen Kürten (sv)3 de março de 2009

Nos anos 1970, o cinema alemão tornou-se conhecido internacionalmente. Uma edição de 50 DVDs propicia um olhar retrospectivo sobre a obra de cineastas como Fassbinder e Herzog, entre outros.

Klaus Kinski em 'Fitzcarraldo'Foto: Kinowelt/Arthaus

Nós devoramos a alma. Essa analogia ao título do filme de Rainer W. Fassbinder (O medo devora a alma) foi o título escolhido pelo selo Arthaus e sua dependência Filmverlag der Autoren Edition para lançar no mercado um pacote com nada menos que 5.237 minutos de filme, reunidos em 50 DVDs com obras que marcaram o Novo Cinema Alemão. Entre as cinco dezenas de filmes incluídos nos DVDs estão não apenas aqueles que chegaram ao grande público, mas também uma série de "descobertas" lançadas pela primeira vez no formato DVD.

A Filmverlag der Autoren (Editora de Cinema de Autores) foi fundada em 1971. Os cinestas, naquelae momento, pretendiam assumir eles próprios a distribuição de seus filmes. A então chamada Verlag der Autoren (Editora dos Autores) tinha como meta, seguindo o espírito dos anos 70, assumir o controle dos produtos realizados por seus autores/cineastas.

Seis anos depois, o coletivo começou a se desestruturar. Desentendimentos entre os proprietários e principalmente a falta de planejamento de longo prazo e fracassos financeiros, levaram a mudanças substanciais no equilíbrio de forças entre os proprietários.

DVDs e livro

'O Tambor', de Volker SchlöndorffFoto: picture-alliance / KPA Honorar und Belege

Em 1999, a empresa Kinowelt comprou os direitos da enfraquecida Filmverlag, tendo, desde então, reativado a editora, que lança agora no mercado uma retrospectiva em DVD do cinema alemão de autor em grande estilo, acompanhada de um livro de 160 páginas.

Entre os selecionados estão grandes cineastas como Edgar Reitz, Reinhard Hauff, Volker Schlöndorff e Werner Herzog, ao lado de diretores menos conhecidos do público como Uwe Brandner e Thomas Schamoni ou nomes que transitaram entre entre o cinema e outras áreas, como Luc Bondy e Peter Handke.

Os filmes de todos eles contribuíram, contudo, para pôr fim à mesmice do cinema alemão no início dos anos 1970. O reconhecimento viria somente dez anos mais tarde, com o Oscar para O Tambor, de Volker Schlöndorff. Da edição especial dos DVDs faz parte também, obviamente, a veia pulsante do movimento cinematográfico daquela época: Rainer Werner Fassbinder.

Alemanha dos anos 1960

Hannes Fuchs e Rolf Becker em 'Ich liebe dich, ich töte dich'Foto: Kinowelt/Arthaus

Um dos filmes recuperados é Ich liebe dich, ich töte dich (Te amo, te mato, de 1970), o primeiro longa realizado por Uwe Brandner, uma das mais importantes obras do gênero então popular conhecido como Heimatfilm (filmes regionalistas ingênuos), mas com um viés mais crítico. A história de um caçador e de um professor num lugarejo distante no vale do rio Altmühl é ao mesmo tempo um Heimatfilm e uma parábola de ficção científica, um drama homossexual aliado à crítica social.

O longa impressiona até hoje com suas cores brilhantes e saturadas, que mostram a vida no campo na Alemanha dos anos 1960, num cenário bem distinto da homogeneização atual entre as diversas regiões do país. As personagens são mantidas calmas sob o poder de remédios, num filme realizado entre as rupturas de 1968 e o Outono Alemão de 1977.

Entre os muros de uma prisão

Jürgen Prochnow em 'A Brutalização de Franz Blum'Foto: Kinowelt/Arthaus

O diretor Reinhard Hauff manteve-se, de certa forma, à sombra de outros nomes conhecidos do Novo Cinema Alemão, embora tenha realizado um dos principais filmes do movimento: Die Verrohung des Franz Blum (A Brutalização de Franz Blum), baseado num romance de Burkhard Driest, que é um ex-presidiário que também atua no filme.

Hauff encenou um drama relacionado ao universo de uma penitenciária, certamente não isento das influências do cinema norte-americano. No filme, fica clara a luta pela sobrevivência dentro das prisões do país, sem que o diretor tenha feito uso de qualquer romantismo barato ou apelado para o kitsch.

No decurso do tempo

Não há praticamente nenhum outro cineasta alemão cuja obra inicial seja tão distinta dos filmes posteriores quanto Wim Wenders. O diretor é hoje festejado fora da Alemanha, considerado "o" nome do cinema alemão e convidado a toda hora para participar de júris em festivais mundo afora. A crítica alemã, no entanto, mantém a tradição de destruir e desprezar seus filmes.

Klaus Kinski em 'Aguirre'Foto: Kinowelt/Arthaus

Diante disso, nada mais pertinente que rever Im Laufe der Zeit (No decurso do tempo), para lembrar por que os alemães, um dia, adoraram a obra de Wenders: por seu estilo lacônico, sua coragem de expor o silêncio no cinema, suas tomadas sombrias e belas, suas fantásticas imagens em preto-e-branco, sua trilha sonora escolhida com perspicácia, suas histórias originais de personagens solitários e peculiares. Resumindo: por seu cinema, tanto do início quanto o de hoje, tão distantes do que é considerado "tipicamente alemão".

Aguirre e Fitzcarraldo

Do pacote de DVDs fazem parte ainda as duas viagens cinematográficas de Werner Herzog pela América do Sul, ambas realizadas com Klaus Kinski como herói. Em Aguirre, Kinski é um garimpeiro alucinado, que acredita dominar o mundo. "Se eu, Aguirre, quero que os pássaros caiam mortos de cima das árvores, então eles cairão mortos!"

Dez anos mais tarde, Herzog voltaria à Floresta Amazônica não mais para fazer pássaros caírem mortos, mas sim para transpor um navio sobre uma ladeira. O cineasta e sua equipe levaram, de fato, a proeza adiante, sem efeitos especiais nem auxílio tecnológico, o que trouxe reconhecimento internacional ao diretor de Munique, considerado até hoje o cineasta alemão mais delirante e corajoso.

Herzog é, de fato, um diretor um pouco insano, autor de filmes incrivelmente fascinantes do ponto de vista visual e capaz de levar adiante idéias que outros diretores nem ao menos ousariam sonhar.

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