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Posse do Trump foi celebração de era das trevas

Nina Lemos
Nina Lemos
21 de janeiro de 2025

Celebração da nova presidência americana foi como filme distópico estrelado por um déspota e multimilionários egocêntricos fora de controle. Começa uma "era de ouro" do desrespeito e das fake news?

'Y.M.C.A.', de hino de liberdade gay a trilha sonora da ultradireita americanaFoto: Jim Watson/AFP/Getty Images

"A partir de hoje será a política oficial dos EUA de que temos apenas dois gêneros: o feminino e o masculino." A frase foi dita pelo presidente dos Estados Unidos em sua cerimônia de posse, realizada na segunda-feira (20/01) em Washington, no seu discurso no Capitólio, pouco depois dele jurar sobre uma Bíblia cumprir a Constituição dos Estados Unidos.

Donald Trump recebeu aplausos. No mesmo discurso, disse que ia "trazer de volta a liberdade de expressão para a América de verdade". Logo atrás dele, junto com sua família, Elon Musk – o multibilionário de extrema direita dono do X, um dos maiores apoiadores de Trump e que integrará o governo – sorriu. Além de Musk, os bilionários Mark Zuckerberg (dono da Meta) e Jeff Bezos (dono da Amazon) também ocuparam lugares de destaque na cerimônia.

Junto com membros do novo governo e apoiadores do presidente, eles ouviram com contentamento Trump dizer que faria "o maior programa de deportação da história do país", que mandaria tropas para a fronteira com o México e que mudaria o nome do Golfo do México para Golfo da América. Ele também ameaçou "tomar de volta" o Canal do Panamá. Tudo sob aplausos e benção dos bilionários que controlam as redes de comunicação mais usadas em todo o mundo.

Megalomania exagerada até para os padrões Musk

Assistir à posse da nova presidência americana foi como ver um filme distópico estrelado por um presidente autoritário e por multimilionários egocêntricos fora de controle.

As festas foram uma celebração desse egocentrismo sem limites de Trump e seus apoiadores. "A era de ouro dos Estados Unidos começa hoje", disse Trump no Capitólio. Em outro momento, o bilionário Elon Musk – o mesmo que no momento faz campanha para o partido de extrema direita da Alemanha, a AFD – entrou dando saltos de alegria na arena onde fãs de Trump se reuniram para um "desfile", e disse: "Hoje é um grande dia, o futuro da humanidade está salvo", demonstrando uma autoconfiança e uma mania de grandeza exagerada até para os seus padrões. Para aumentar ainda mais o surrealismo, ele fez um gesto de vitória que muitos compararam com uma saudação nazista.

É assustador pensar que esses homens, com seus egos gigantes, violentos e sem noção, vão governar um dos países mais poderosos do mundo.

Sim, Trump já foi presidente antes. Mas todo mundo sabe que ele está mais forte nesse governo: sua votação foi um sucesso, ele venceu com folga. E tem ao lado os multimilionários que controlam as redes sociais, e assim, parte da comunicação do mundo.

"Era de ouro" ou era das trevas?

Donald Trump, assim como seus colegas da extrema direita do mundo todo, faz sucesso com o discurso de "volta aos bons tempos" (aqueles em que todo mundo amava gasolina e podia fazer piada sobre gays e mulheres).

Mas a era de ouro anunciada por ele na posse mais parece a era das trevas. Ela é aquela onde a diversidade de gênero é desrespeitada, os discursos de ódio e as fake news são legalizados (é disso que se trata quando ele fala em "liberdade de expressão"). Nessa nova velha era, os compromissos com o clima também são totalmente ignorados.

No mesmo dia da posse, a Casa Branca avisou que o país sairia do acordo de Paris para o clima. Trump já havia avisado que investiria em petróleo, ao contrário de todas as evidências científicas sobre a ligação entre o uso de combustíveis fósseis e o aquecimento global.

Como o surrealismo não tem limites, a trilha sonora desse filme distópico, que infelizmente é real, é feita pelo Village People, uma banda ícone da cena gay dos anos 70. Os hits Y.M.C.A. e Macho man foram amplamente usados na campanha de Trump, e o grupo se apresentou em eventos da posse.

A música Y.M.C.A. diz, entre outras coisas: "Jovem, você pode sair com todos os garotos… Jovem, coloque seu orgulho de lado... Jovem, não fique deprimido". Trump e seus apoiadores fazem uma dancinha estilo "machos" ao dançarem essa música. E o mundo prende a respiração diante de tanta masculinidade descontrolada.

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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente da DW.

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O estado das coisas

Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000. Desde 2015, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão em Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada.