"Os mestres cantores de Nurembergue" terá regência do australiano Barrie Kosky, que pretende tematizar instrumentalização da obra pelo nazismo na sua encenação. Execução de composições de Verdi e Berg é surpresa.
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No ano passado, o tapete vermelho não foi desenrolado em Bayreuth: em respeito às vítimas dos atentados terroristas na Alemanha, os organizadores abriram mão do usual desfile de celebridades da política e da cultura na abertura do tradicional festival dedicado à música de Richard Wagner.
Este ano, porém, as celebridades estarão de volta à cidade bávara, a começar pelos soberanos da Suécia, o rei Carlos 16 Gustavo e a rainha Sílvia, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. E, assim como no ano passado, os visitantes estarão cercados por um forte esquema de segurança.
Mesmo antes de seu início, nesta terça-feira (25/07), a 106ª edição já tem uma grande diferença em relação aos eventos anteriores: as tradicionais brigas públicas dos descendentes de Wagner, que todos os anos alimentavam a imprensa nas vésperas da abertura do festival, deram lugar ao silêncio.
De forma surpreendente, os dois ramos familiares que viviam em pé de guerra – Nike Wagner e suas irmãs, de um lado (os filhos de Wieland Wagner, neto do compositor), e, do outro, a diretora do festival, Katharina Wagner – estão até mesmo colaborando. O motivo: o centésimo aniversário de Wieland Wagner. Ele transcorreu em 5 de janeiro, mas, para lembrar um dos mais influentes dirigentes de ópera do século 20, Bayreuth fará um ato festivo especial nesta segunda-feira.
O ato reserva uma surpresa: a execução de composições de Giuseppe Verdi e Alban Berg, uma raridade no Festival de Bayreuth, que tradicionalmente se dedica apenas à música de Wagner. A responsável pelo programa do ato festivo é Nike Wagner, que é também diretora do Festival Beethoven de Bonn. Wieland também será lembrado com uma exposição e um simpósio de 3 a 5 de agosto, ambos na Casa Wahnfried, a antiga residência de Richard Wagner, que abriga um museu e arquivo.
Programação
No dia da abertura, os 1.974 espectadores do teatro no alto da "Colina Verde" assistirão a uma nova encenação da única comédia da fase madura de Wagner: Os mestres cantores de Nurembergue. A interpretação está a cargo do dirigente suíço Philippe Jordan, responsável pela direção musical, e do regente australiano Barrie Kosky, que confessou ter pensado duas vezes antes de aceitar a tarefa – o fato de ele ser judeu foi fundamental para a sua hesitação.
Com sua sobrelevação da "sagrada cultura alemã" e um personagem que muitos veem como caricatura antissemita, Os mestres cantores de Nurembergue foi instrumentalizada para fins de propaganda pelos nazistas. Nos últimos anos da Segunda Guerra, ela era até mesmo a única obra no programa do Festival de Bayreuth. Kosky disse que pretende tematizar esse aspecto na sua versão.
O programa prevê ainda a ópera Parsifal, na encenação do ano passado, com regência de Uwe Eric Laufenberg e com Hartmut Haenchen como Pult; a versão de 2015 de Tristão e Isolda, a cargo de Katharina Wagner e com direção musical de Christian Thielemann; e o ciclo de quatro óperas O anel do Nibelungo, apresentado em 2013 e com direção de Frank Castorf e regência de Marek Janowksi.
Bayreuth, uma cidade pequena no norte da Baviera, não tem muito a oferecer aos visitantes além de Wagner e sua obra – foi justamente por esse motivo que o compositor escolheu a cidade para sediar o primeiro festival, em 1876. Este ano, porém, os visitantes poderão acompanhar, além da música, simpósios e palestras na Casa Wahnfried, a maioria deles dedicados ao tema "Wagner e o nazismo".
Os templos da cultura na Alemanha
Sejam museus ou salas de concertos, residências barrocas ou mesmo minas desativadas, os mais diferentes tipos de locais se dedicam à cultura na Alemanha. Apresentamos 13 dos mais notáveis.
Foto: picture-alliance/ZB/K. Schindler
Castelo barroco de Würzburg
No castelo Würzburger Residenz, projetado por Balthasar Neumann, está o maior afresco de teto contínuo do mundo, uma obra do pintor barroco Giovanni Battista Tiepolo. O prédio que abriga o Festival Mozart está na lista de patrimônios mundiais da Unesco.
Foto: picture-alliance/dpa
Ilha dos Museus em Berlim
Um dia é pouco para visitar os cinco prédios na Ilha dos Museus, que também é patrimônio mundial da Unesco, como o prédio do Museu Bode, da foto. Os acervos cobrem desde a pré-história até a arte do século 19. Uma das principais atrações é o Altar de Pérgamo, da Antiguidade, e que devido a uma completa restauração só será reaberto em 2019.
Foto: picture-alliance/ZB/K. Schindler
Teatro do Festival de Bayreuth
A intenção inicial era que fosse uma sede provisória de madeira, que seria queimada após a encenação da tetralogia "O anel do Nibelungo", de Richard Wagner. O prédio, no entanto, continua de pé desde 1876, e ali acontece o Festival de Bayreuth. A construção idealizada por Wagner em pessoa está passando por uma reforma, cujos custos previstos, de 30 milhões de euros, já foram superados.
Foto: picture-alliance/dpa
Salão de festas Regentensaal
Antigamente, a cidade termal de Bad Kissingen recebia soberanos por causa de sua água de sabor levemente metálico. E quando ela já estava quase acabando, foi construído em 1913 o salão de festas Regentensaal, em estilo neobarroco. Semelhante ao Teatro do Festival de Bayreuth, todo o interior é revestido com painéis de madeira, o que contribui de forma especial para a qualidade acústica.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Ebener
Antiga mina Zollverein
A velha mina de carvão da cidade de Essen, que esteve ativa de 1851 a 1986, se tornou um monumento arquitetônico e industrial. Gastronomia, exposições, concertos, eventos e performances de todos os tipos acontecem hoje na "mina de carvão mais bonita do mundo". Entre 10 de janeiro e 10 de fevereiro de 2017, o site da antiga mina lista 97 eventos programados.
Foto: DW/S. Early
Igreja de São Tomás em Leipzig
Johann Sebastian Bach foi por 27 anos diretor musical da Igreja de São Tomás. Quando morreu, foi sepultado na capela-mor da igreja. Perto dali, ficam o Arquivo Bach e o Museu Bach, que atraem pesquisadores e amantes da música de todo o mundo. A cada ano, o Festival Bach atrai dezenas de milhares de pessoas, tanto às salas de concertos quanto para os eventos ao ar livre perto da igreja.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Grubitzsch
Ópera Estatal de Berlim
O prédio foi construído entre 1741 e 1743. A reforma já dura sete anos. A partir do final do ano, as obras deverão estar concluídas. O prédio fica em frente à Universidade Humboldt e ao lado da recém-fundada Academia Barenboim-Said.
Foto: Getty Images/B.Sax
Filarmonia do Elba
O novo símbolo de Hamburgo, com seu moderno telhado em forma de ondas, parece flutuar sobre um antigo armazém da zona portuária. Duas salas de concerto, um hotel, restaurante e apartamentos de luxo completam o prédio, que custou cerca de 770 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/R. Goldmann
Ópera Semper em Dresden
A mais famosa casa de ópera da Alemanha fica no centro histórico de Dresden. É uma reconstrução fiel do prédio idealizado pelo arquiteto Gottfried Semper entre os anos de 1871 e 1878, em estilo eclético neobarroco. Após a destruição quase completa na 2ª Guerra, o novo prédio foi aberto em 1985, na então ainda Alemanha Oriental.
Foto: DW/K. Gomes
Teatro Nacional de Weimar
A escolha é para representar os muitos teatros tradicionais da Alemanha. O prédio no centro de Weimar é ao mesmo tempo palco de teatro falado e musicado, e é também a sede da Orquestra Estatal de Weimar. Na realidade, há apresentações em seis palcos distribuídos pela cidade, mas é na frente deste que estão as estátuas de Goethe e Schiller.
Foto: picture-alliance/dpa
Casa dos Festivais de Baden-Baden
O prédio com capacidade para 2.500 espectadores foi construído em 1998 junto a uma estação ferroviária do século 19. A casa de espetáculos não têm orquestra própria e abriga festivais em todas as estações do ano.
Foto: picture-alliance/dpa
Ópera Estatal da Baviera, em Munique
Na Alemanha existem mais de 80 companhias de ópera em tempo integral. Uma delas fica neste prédio na praça Max Joseph Platz de Munique. A Ópera Estatal da Baviera também é o principal local das apresentações do Festival de Ópera de Munique.