Com 19 medalhas, Brasil tem melhor desempenho da história
Philip Verminnen21 de agosto de 2016
Com o maior investimento já realizado num ciclo olímpico, atletas quebram os recordes de pódios e de ouros, e pela primeira vez brasileiro conquista três medalhas. Resultado, porém, fica abaixo da meta definida pelo COB.
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Com o encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro chegou também ao fim o ciclo da 31º Olimpíada. Anfitrião, o Brasil realizou seu maior investimento esportivo da história e alcançou sua melhor participação olímpica – quantitativa e qualitativamente –, mas ficou abaixo da meta previamente estipulada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
O COB almejava a conquista de 22 medalhas nos Jogos do Rio de Janeiro e, consequentemente, que a delegação brasileira terminasse no top 10 no número total de pódios – sem levar em conta a cor da medalha. Bateu na trave. O Brasil conquistou 19 medalhas e terminou em 13º no quadro geral de medalhas, que prioriza o número de ouros. Se for levada em consideração a quantidade de pódios (como previa a meta do COB), o país subiria uma colocação, superando a Hungria.
Ao todo, foram sete ouros, seis pratas e seis bronzes: é a melhor participação brasileira em Jogos Olímpicos. Os Jogos mais dourados até aqui haviam sido os de Atenas, em 2004, quando Brasil voltou com cinco ouros. E o maior número de pódios era o de Londres, com 17 medalhas. Ambos foram superados no Rio de Janeiro.
Em seu balanço do desempenho brasileiro, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, considerou bem-sucedida a participação nos Jogos do Rio de Janeiro. Em vez de focar na meta do top 10, Picciani preferiu enaltecer outro recorde alcançado pelos atletas brasileiros: o número de finais. O Brasil participou de 50 decisões por medalhas em 2016; em Londres foram apenas 36.
"O Ministério está satisfeito com a atuação brasileira, foi a melhor participação do Brasil nos Jogos e houve uma evolução em quase todas as modalidades e nossa meta é superar em 2020 o resultado de 2016, que já superou largamente o de 2012", disse o ministro do Esporte neste domingo (21/08).
Algumas medalhas consideradas prováveis não se confirmaram, como, por exemplo, as do vôlei e do futebol feminino. Além disso, com quatro duplas de alto nível, o vôlei de praia poderia ter dado mais do que duas medalhas ao Brasil. O handebol feminino, campeão mundial em 2015, também ficou longe do pódio.
O judô, com três medalhas, ficou abaixo da meta estipulada pela própria federação brasileira, de cinco conquistas. A natação passou em branco nas piscinas do Parque Aquático Maria Lenk. E jovens talentos, como Ana Sátila, campeã mundial júnior na canoagem em 2014, decepcionaram – ela não passou da fase classificatória no slalom K1.
Isaquias Queiroz, o nome brasileiro dos Jogos
Mas, se houve decepções, também houve surpresas – as chamadas "medalhas inesperadas". São o caso do bronze de Maicon Siqueira, que entrou na competição do taekwondo como 51º do ranking mundial; do ouro de Robson Conceição, boxeador que nunca havia passado do primeiro combate em Jogos Olímpicos; ou até do ouro de Thiago Braz, no salto com vara, que evitou que o atletismo passasse novamente em branco.
Houve também muitas conquistas inéditas, como a primeira medalha feminina na natação, com a paulistana Poliana Okimoto, bronze na maratona aquática, ou o inédito ouro na vela feminina, com Martine Grael e Kahena Kunze na classe 49er FX, ou até com as medalhas de Diego Hypólito e Arthur Nory na ginástica, que deram ao Brasil o primeiro pódio com dois atletas numa mesma prova individual.
O grande nome do Brasil dos Jogos do Rio de Janeiro, definitivamente, foi Isaquias Queiroz. Com duas pratas e um bronze, o canoísta se tornou o primeiro brasileiro com três medalhas numa mesma edição dos Jogos Olímpicos. Detalhe: ele tem apenas 22 anos. A façanha rendeu a ele a honra de carregar a bandeira do país na cerimônia de encerramento da Rio 2016.
Discussão atletas militares x Bolsa Atleta
Das 19 medalhas conquistadas, apenas duas foram em modalidades por equipe – vôlei e futebol masculino – e 14 foram de atletas militares: as exceções são Diego Hypólito, Isaquias Queiroz e Maicon Siqueira. A comparação entre o desempenho de atletas militares e o daqueles com o Bolsa Atleta aflorou uma discussão entre os torcedores brasileiros, que levaram às arenas esportivas o debate político em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O treinador do ginasta Arthur Zanetti chegou a acusar as Forças Armadas de "pegar atletas prontos" – acusação rejeitada pelo Exército, posteriomente, com a apresentação de inúmeros projetos voltados para a formação de atletas. Mas não se trata de uma discussão fundamentada, já que um atleta financiado pelo Exército pode também receber aporte do Ministério do Esporte e, obviamente, também de um patrocinador.
Maiores investimentos da história
Nos últimos três Jogos Olímpicos, o Brasil – com surpresas e frustrações – demonstrou uma leve evolução. Em todas as edições quebrou o recorde anterior de medalhas conquistadas. E, com os Jogos Olímpicos realizados no Brasil, modalidades esportivas menos populares podem receber mais adeptos e crescer. Para isso, o maior legado tem de ser a continuidade – e a melhora – dos investimentos feitos no esporte.
No recém-encerrado ciclo olímpico, o governo federal investiu cerca de 4 bilhões de reais, sendo cerca de 3 bilhões em estrutura, capacitação de profissionais e logística, e o restante em programas direcionados aos atletas, como o Blsa Pódio e o Bolsa Atleta. Foi o maior investimento da história, superando os 2 bilhões de reais para Pequim 2008. Picciani garantiu que os programas devem ser mantidos e melhorados para Tóquio 2020.
Os medalhistas brasileiros na Rio 2016
Vôlei, futebol, canoagem, vôlei de praia, vela, salto com vara, judô, ginástica artística, argolas, maratona aquática, boxe, taekwondo e tiro deram alegrias aos brasileiros nos Jogos do Rio.
Foto: Getty Images/AFP/P. Guyot
Tchau, fantasma!
Depois das derrotas para os Estados Unidos em Pequim 2008 e da incrível virada sofrida para a Rússia quatro anos depois, a seleção brasileira masculina de vôlei afastou de vez os fantasmas das duas últimas finais olímpicas e venceu a Itália neste por 3 sets a 0 (parciais de 25 a 22, 28 a 26 e 26 a 24) para conquistar o ouro, o terceiro da história, nos Jogos do Rio de Janeiro. (21/08)
Foto: Getty Images/T. Pennington
A medalha inesperada
Maicon Siqueira conquistou a segunda medalha do taekwondo brasileiro em Jogos Olímpicos. O lutador mineiro faturou o bronze na categoria acima de 80kg e igualou o feito de Natália Falavigna (Pequim 2008). Maicon, 51º colocado no ranking mundial do taekwondo, chegou a dividir o esporte com os empregos de pedreiro e garçom. "É um sonho. Só estando aqui dentro para entender", disse, emocionado.
Foto: Reuters/I. Kato
Fim do trauma: Brasil é ouro!
Foi sofrido, mas foi! Após empate em 1 a 1, o Brasil derrotou a Alemanha apenas nos pênaltis e conquistou a tão sonhada medalha de ouro. O ciclo está completo: o Brasil possui agora todos os títulos do futebol masculino. Os heróis diretos no Maracanã foram o goleiro Wéverton, que defendeu a única cobrança desperdiçada, e Neymar, autor de um golaço de falta e que converteu o pênalti decisivo.
Foto: Getty Images/AFP/L. Griffiths
Isaquias Queiroz, o maior brasileiro
Ao lado de Erlon de Souza, Isaquias Queiroz conquistou a prata na canoa dupla 1000m. Desta forma, o canoista de Ubaitaba se tornou o 1º brasileiro com três medalhas numa edição de Jogos Olímpicos, superando César Cielo (ouro e bronze em Pequim 2008), Gustavo Borges (prata e bronze em Atlanta 1996) e Afrânio da Costa (prata e bronze) e Guilherme Paraense (ouro e bronze), ambos na Antuérpia 1920).
Foto: Getty Images/R. Pierse
Ouro nas areias de Copabacana
A dupla de vôlei de praia Alison e Bruno conquistou o ouro na Arena de Copacabana, após derrotar os italianos Paolo Nicolai e Daniele Lupo por 2 sets a 0 em 45 minutos de jogo. Alison tinha sido prata ao lado de Emanuel, em Londres. Bruno é sobrinho do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt. Este foi a quinta medalha de ouro do Brasil na Rio 2016, igualando o recorde de Atenas 2004.
Foto: Getty Images/R.Carr
Filhas de peixe, peixinhos dourados são!
Martine Grael e Kahena Kunze venceram a regata final e conquistaram a medalha de ouro na classe 49er FX. Elas são as primeiras velejadoras brasileiras medalhistas de ouro em Jogos Olímpicos. Além disso, confirmaram a tradição de suas famílias na vela: elas são filhas de Torben Grael, maior medalhista olímpico brasileiro, e Claudio Kunze, campeão mundial de 1973 da classe Pungüim.
Foto: Getty Images/AFP/W. West
Isaquias entra para grupo seleto
Com o bronze na canoa individual (C1) 1000m, Isaquias Queiroz entrou para um seleto grupo de brasileiros que conquistaram duas medalhas em uma edição de Jogos Olímpicos. Além dele, conseguiram César Cielo (ouro e bronze em Londres 2012), Gustavo Borges (prata e bronze em Atlanta 1996), Afrânio da Costa (prata e bronze) e Guilherme Paraense (ouro e bronze), ambos na Antuérpia 1920.
Foto: Getty Images/P. Walter
Ágatha e Bárbara ficam com a prata
Não deu para as campeãs mundiais de 2015. A dupla Ágatha e Bárbara Seixas perdeu para as alemãs Laura Ludwig e Kira Walkenhorst por 2 sets a 0 e ficou com a prata no vôlei de praia. É a sétima medalha olímpica do vôlei de praia feminino. O ouro, porém, não vem desde os Jogos de Atlanta, em 1996, quando Jaqueline Silva e Sandra Pires venceram o duelo brasileiro contra a dupla Adriana e Mônica.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Baiano porreta!
Nascido em Salvador, Robson Conceição tem uma vida recheada de quedas e superações, de lutas de rua e empregos de vendedor de picolé ou como ajudante de pedreiro. Depois de insucessos nos Jogos de Pequim e Londres, o pugilista deu a volta por cima e conquistou – na frente da torcida brasileira – o primeiro ouro olímpico do boxe brasileiro. Histórico!
Foto: Getty Images/C. Petersen
Canoísta de nascimento
Nascido em Ubaitaba (BA), que em tupi-guarani significa "Cidade das Canoas", Isaquias Queiroz entrou para a história do esporte nacional como o primeiro canoísta brasileiro a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos. A prata veio na categoria C1 1000m. Isaquias já ganhou o Mundial de canoagem em provas individuais, mas nas duas vezes foi na categoria C1 500m, que não é mais olímpica.
Foto: Reuters/D. Sagolj
Ouro e recorde
Thiago Braz fez história e se sagrou campeão olímpico do salto com vara, superando o recordista mundial e vencedor da prova em Londres 2012, o francês Renaud Lavillenie, para delírio do público presente no Estádio Olímpico Nílton Santos, o Engenhão. O paulista da cidade de Marília, de apenas 22 anos, alcançou 6m03, o que representa o novo recorde olímpico.
Foto: Getty Images/S. Botterill
Zanetti não quebra jejum histórico
Arthur Zanetti é superado pelo seu principal rival, o grego Eleftherios Petrounis, e fica com a medalha de prata na final das argolas. O ginasta paulista tinha a chance de se tornar o primeiro bicampeão olímpico consecutivo em competições individuais desde 1956, quando Adhemar Ferreira da Silva conquistou seu segundo ouro no salto triplo nos Jogos de Melbourne.
Foto: Reuters/M. Blake
A pioneira das águas
Após desqualificação de rival, a paulistana Poliana Okimoto conquistou a medalha de bronze na maratona aquática de 10 quilômetros. A conquista é histórica para a natação brasileira: é a primeira medalha feminina na natação olímpica do Brasil. Uma marca perdurava desde 1932, em Los Angeles, quando Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira em Jogos Olímpicos.
Foto: Getty Images/A. Pretty
Diego Hypólito e Arthur Nory
Diego Hypólito e Arthur Nory mostram as medalhas, de prata e bronze, que receberam após desempenho surpreendente na final individual do solo na ginástica artística masculina. Os dois choraram muito após a confirmação de que subiriam ao pódio, emocionando também os torcedores presentes na Arena Olímpica. Pela primeira vez, o Brasil conquista duas medalhas individuais numa mesma prova.
Foto: Getty Images/AFP/B. Stansall
Baby, baby, baby...
O judoca paranaense Rafael Silva, o "Baby", desbancou o uzbeque Abdullo Tangriev, prata em Pequim 2008, e conquistou a medalha de bronze na categoria pesado (mais de 100kg), repetindo o feito de Londres 2012. "Baby" entra assim para um seleto grupo de judocas brasileiros que chegaram ao pódio olímpico em duas oportunidades: Aurélio Miguel, Tiago Camilo, Leandro Guilheiro e Mayra Aguiar. (12/08)
Foto: Reuters/M. Sezer
Mayra Aguiar repete Londres 2012
A judoca gaúcha Mayra Aguiar, de 25 anos, conquistou a medalha de bronze na categoria meio-pesado (até 78kg) nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, repetindo o resultado alcançado em Londres, em 2012. "É uma satisfação para o atleta conquistar uma medalha olímpica. Agora tem Tóquio 2020", vibrou a campeão mundial de 2014.
Foto: Reuters/S. Nenov
Da Cidade de Deus para o mundo
A judoca Rafaela Silva superou na final a mongolesa Sumiya Dorjsuren por um wazari e se tornou campeão olímpica da categoria até 57kg. Nascida e criada na Cidade de Deus, a apenas oito quilômetros do local de disputa na Rio 2016, Rafaela superou eliminação polêmica nos Jogos de Londres e até racismo para se tornar a segunda brasileira campeã olímpica no judô.
Foto: Getty Images/AFP/T. Kitamura
Felipe Wu encerra jejum de 96 anos
O paulistano Felipe Wu conquistou a prata na prova de pistola de ar 10 metros e encerrou um jejum de 96 anos sem medalhas para o Brasil no tiro esportivo. A última havia sido nos Jogos da Antuérpia, em 1920, quando Guilherme Paraense conquistou o primeiro ouro brasileiro. Wu finalizou a competição com 202,1 pontos, apenas 0,4 pontos atrás do campeão olímpico, o vietnamita Xuan Vinh Hoang.