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Com apoio de Bolsonaro, Lira é eleito presidente da Câmara

2 de fevereiro de 2021

Deputado do PP derrotou candidato de frente articulada por Rodrigo Maia já no primeiro turno, em campanha marcada por forte interferência do Planalto.

Brasilien Brasilia Abgeordneter Arthur Lira
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O deputado Arthur Lira (PP-AL) venceu a disputa para a presidência da Câmara na noite desta segunda-feira (01/02) ao conquistar 302 dos 513 votos já no primeiro turno.

O resultado também é uma vitória para o presidente Jair Bolsonaro, que colocou em peso a máquina do Planalto a serviço da candidatura de Lira, e uma derrota acachapante para o agora ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), articulador da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), que terminou com apenas 145 votos, longe dos 257 necessários. A votação foi secreta. 

Outros candidatos, como Fábio Ramalho (MDB-MG), Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), receberam menos de 21 votos. Já Lira foi eleito com o apoio de 11 partidos: PP, PL, PSD, Republicanos, PSC, PTB, PSL, Avante, PROS, Patriota e Podemos.

Em um discurso que precedeu a votação, Lira delimitou que não pretende ter o mesmo protagonismo de Maia, seja em confrontos com o Planalto ou em travar temas na pauta. "A palavra precisa voltar a funcionar nesta Casa. Ao presidente não cabe falar, mas sim ouvir", disse.

E, em seu primeiro ato como presidente, Lira já mostrou que pretende sepultar a era Maia, ao anular uma medida tomada pelo deputado democrata mais cedo, que permitiu a formação do bloco de Baleia Rossi minutos depois do fim do prazo. A anulação vai interferir na formação da Mesa Diretora, prejudicando os partidos que se uniram em torno da candidatura derrotada. O gesto foi chamado de "golpe" pelos aliados de Rossi e constrastou com o discurso de "união" que o novo presidente havia feito mais cedo.

O papel do Planalto

Encarada como crucial para o Planalto, a eleição para presidência da Câmara ganhou contornos de drama político nos últimos dias. O governo Jair Bolsonaro botou a máquina federal em peso no pleito, prometendo emendas e cargos a deputados em troca de votos em Lira, que é encarado como uma figura que deve barrar pedidos de impeachment e promover um ambiente mais favorável a pauta de interesse do Planalto, como projetos da chamada pauta de costumes, que envolvem a facilitação do acesso a armas de fogo. 

Já o antes influente Maia viu seu poder erodir diante da influência do governo no processo. Ao final, o democrata viu uma debandada de votos até mesmo entre deputados do DEM, que resolveram apoiar Lira. Enfraquecido e contrariado com a influência de Bolsonaro no processo, Maia fez chegar à imprensa no domingo que poderia retaliar aceitando um ou mais dos 61 pedidos de impeachment de Bolsonaro que foram encaminhados à Câmara. No entanto, até os minutos finais do seu mandato, ele não cumpriu a ameaça.

Para a oposição e o grupo de Maia, o resultado na Câmara e as traições registradas também marcaram um revés para a frente ampla construída em torno do nome de Baleia Rossi, que uniu partidos de centro-direita e esquerda, no que chegou a ser encarado por algumas lideranças como um ensaio para 2022.

Lira, de 51 anos, já havia sido um dos protagonistas da aproximação de Bolsonaro com o Centrão do Congresso em 2020, quando o presidente se viu encurralado por causa das encrencas da sua família com a Justiça. Deputado desde 2011, ele também foi membro do grupo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha - hoje preso - e ganhou protagonismo durante o impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

Assim como outros membros do PP, partido que colecionou escândalos nas últimas décadas e que tem a distinção de ter o maior de investigados no Petrolão, Lira tem sua fatia de problemas com a Justiça. Ele é réu no Supremo por suspeita de integrar uma organização criminosa e é investigado por ter supostamente recebido propinas. Ainda chegou a ser alvo de uma ação movida por sua ex-mulher, que o acusou de violência doméstica.

Despedida de Maia

Antes da eleição, em meio às lágrimas, o deputado Rodrigo Maia fez seu último discurso após 4 anos e 7 meses como presidente da Câmara. 

"Eu me preparei para não chorar. Honra que tive pelos últimos 4 anos e 7 meses. Onde eu tive a oportunidade de conhecer o meu país, através de cada um de vocês. Através de diálogos, visitas, conversas na Câmara. Através dos deputados, conheci melhor a nossa realidade e os nossos desafios", disse. 

Maia afirmou que 2020 foi o ano mais difícil de sua gestão em virtude da pandemia de covid-19. Desde março do ano passado, as atividades legislativas têm sido realizadas de forma virtual. Nas votações, apenas líderes partidários são autorizados a permanecer no plenário. 

"De todos os anos, o que foi mais desafiador para todos nós foi o ano passado, o ano da pandemia. Onde em uma semana se construiu um sistema de votação remota para que a Câmara dos Deputados tivesse a condição de liderar e construir em conjunto os projetos que garantiram as condições para o enfrentamento da pandemia", afirmou. 

O deputado ainda afirmou que o enfrentamento à covid-19 permanece entre os desafios da Câmara dos Deputados na legislatura que teve início nesta segunda-feira.

"Estes são nossos desafios: a vacina, o enfrentamento à segunda onda da pandemia e, mais do que isso, a geração de condições para que os brasileiros sejam mais iguais, para que a escola pública seja tão boa quanto a escola privada, para que a UTI pública tenha a mesma chance de salvar uma vida que a UTI de um hospital privado. Hoje, 70% das pessoas que entram com Covid numa UTI de hospital privado são salvas; na UTI do setor público, apenas 35%. É isso que precisamos tratar e enfrentar."

JPS/ab/ots

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