Museu na Holanda abre exposição dedicada à famosa obra "Saul e Davi", que foi finalmente reconhecida como verdadeira pintura de Rembrandt. História da obra está exposta na Casa de Maurício de Nassau, em Haia.
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A partir desta quinta-feira (11/06), a Casa de Maurício de Nassau (Mauritiushuis) em Haia dedica uma exposição ao completamente restaurado quadro Saul e Davi, cuja autoria foi finalmente reconhecida como de Rembrandt.
A mostra também conta a impressionante história da obra. Por mais de 50 anos, não houve consenso entre os especialistas sobre a autenticidade da pintura Saul e Davi: se ela era, de fato, uma obra original das mãos do mestre holandês Rembrandt van Rijn.
O quadro apresenta uma cena bíblica, onde se vê o jovem Davi tocando harpa, ajoelhado diante do rei Saul. Até o final da década de 1960, a pintura foi considerada uma das mais belas obras do mestre holandês, mas o especialista em Rembrandt, Horst Gerson, questionou a autenticidade da obra.
Gerson estava convencido de que a obra, na verdade, teria sido pintada por um dos discípulos de Rembrandt. Seus questionamentos eram compreensíveis. A pintura estava coberta por uma camada escura e, em várias partes, havia sido retocada.
Tecnologia moderna levou à comprovação
Mas, agora, os anos de incerteza ficaram para trás. Na última terça-feira, Emilie Gordenker, diretora da Casa de Maurício de Nassau em Haia, anunciou com um sorriso: "Sim, estamos em posse de um verdadeiro Rembrandt".
Nos últimos oito anos, uma equipe internacional de especialistas analisou a obra com as tecnologias mais avançadas e pôde, por fim, comprovar a sua autenticidade.
Em 1830, a pintura Saul e Davi apareceu num leilão em Paris e, em 1898, chegou ao Museu Mauritshuis, quando seu então diretor, Abraham Bredius, descobriu a obra e a comprou do próprio bolso. Para isso, disse Bredius, ele precisou vender "a carroça e o cavalo".
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) ou simplesmente Rembrandt, como ficou conhecido mundialmente, pintou a obra possivelmente entre os anos 1650-1655.
No século 19, a imagem foi recortada, recomposta e parcialmente retocada. As radiografias revelam uma verdadeira colcha de retalhos de 15 pedaços. Aparentemente, foram utilizados na restauração de Saul e Davi fragmentos de outras obras do pintor. No entanto, dois grandes pedaços envolvendo Saul e Davi ainda são originais. Agora, a pintura reconquista um lugar de honra no Museu Mauritshuis.
JVR/dpa/ap/ots
A fase tardia de Rembrandt
É difícil de acreditar, mas as lendárias obras tardias de Rembrandt nunca foram expostas. Em Amsterdã, o Rijksmuseum inaugura a mostra das telas pintadas em 1669, ano da morte do pintor holandês.
Foto: Rijksmuseum
O observador está na tela
No século 17, os retratos em grupo eram um gênero comum na Holanda. Mas a tela "A Gilda dos Tecelões" de 1662 se diferencia das demais. Rembrandt foi muito bem-sucedido ao retratar cada membro do sindicato de tecelões, mas também ao fazer o observador se sentir como se participasse da cena.
Foto: Rijksmuseum
Silêncio e intimidade
Rembrandt foi um pintor requisitado na época de ouro da Holanda. Em 1642, porém, seu trabalho e sua vida sofreram um baque: a morte de sua mulher e uma crise financeira o tiraram dos eixos. O estilo tardio do pintor, que começou por volta de 1651, revela pinceladas mais largas e figuras que parecem varridas, o que deixa a cena mais intimista, como se pode ver em "A noiva judia" (foto).
Foto: Rijksmuseum
A arte acima de tudo
Rembrandt criava um laço de proximidade com seus modelos, mesmo quando se tratava de uma tela encomendada, como se pode ver no caso de "A noiva Judia" e "Retrato de família", ambas pintadas em 1665, que retratam provavelmente as mesmas pessoas. O gesto entre o homem e sua mulher demonstra a relação de confiança com o pintor e mostra como Rembrandt dava importância aos detalhes.
Foto: Erik Smits
Fase tardia propensa à experimentação
Certos experimentos observados em telas, estampas e gravuras aparecem apenas na fase tardia de Rembrandt. Ele utilizou uma espátula para raspar as cores da paleta e criar uma estrutura com camadas pastosas de tinta. Na tela "Retrato de Família" pode-se ver algumas dessas técnicas, que são provas de alta modernidade.
Foto: Herzog Anton Ulrich Museum, Braunschweig
Ilusão de um momento
A pintura "Titus van Rijn escrevendo" mostra claramente do filho de Rembrandt, Titus. O pintor captura o olhar compenetrado do menino: por um momento, o sonhador Titus desvia os olhos da escrivaninha. Rembrandt mais uma vez chega muito próximo de seu modelo e nos mostra um lado terno do personagem.
Foto: Museum Boijmans van Beuningen, Rotterdam
Coragem para deixar inacabado
O amigo de Rembrandt Jan Six contempla direta e atentamente o observador. Na tela, Jan aparece tirando as luvas no momento em que o pintor dá de mão no pincel e captura a cena. Curiosamente, Rembrandt retrata o rosto com riqueza de detalhes, enquanto o casaco e as luvas parecem que não foram acabados. Assim, o observador se sente motivado a terminar de pintar o quadro com a própria imaginação.
Foto: Collection Six, Amsterdam
Efeito dramático
A habilidade de Rembrandt não se restringia à pintura. Principalmente na fase tardia ele começou a experimentar outros processos de arte. Ele arranhava placas de cobre com uma ponta-seca. Em vez de retirar a tinta das partes sem qualquer indentação, ele a espalhava. Essa técnica criou um efeito dramático na gravura "As três cruzes" de 1653.
Foto: Rijksmuseum
Fuga à norma
Na época de Rembrandt, a pintura era regida por fortes convenções, como o melhor momento para se representar uma história. Rembrandt não se prendia a elas. Um exemplo disso é a tela "A bênção de Jacó aos filhos de José", de 1656. A cena mostra o momento em que Jacó abençoa seu neto mais novo, e não o mais velho. José aparece contente, diferente da interpretação de outros artistas.
Foto: Gemäldegalerie Alte Meister, Staatliche Museen, Kassel