O preceito de pureza alemão continua vivo ao completa seu quinto centenário. Mas a arte cervejeira alemã não se limitou às fronteiras nacionais, conquistando a América do Norte, Brasil, China e até o Himalaia.
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Os preceitos de pureza de um cervejeiro alemão
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Nos últimos séculos, um grande número de emigrantes alemães se estabeleceu nos demais continentes, e alguns levaram seu saber para o "Novo Mundo". Portanto não é de espantar o grande número de cervejarias do Canadá ou dos Estados Unidos com nomes de origem alemã, como Haffenreffer, Hudepohl-Schoenling ou Schaefer. Algumas permaneceram pequenas, outras conquistaram fama mundial.
Em 1857, o cervejeiro Adolphus Busch se assentou em Saint Louis, EUA, propondo-se a fabricar cerveja alemã autêntica para a jovem nação americana. Como qualidade era sua prioridade absoluta, ele adotou o Reinheitsgebot, o "preceito de pureza" decretado em 1516, na Baviera, que só admite cevada, lúpulo e água como ingredientes da bebida.
Mais tarde, Busch conheceu o mestre cervejeiro Eberhard Anheuser, alemão emigrado como ele, casou-se com sua filha, e ambos fundaram aquela que se transformaria na maior fábrica de cerveja do mundo.
O copo ideal
Cada cerveja proveniente das diversas regiões alemãs, seja de trigo, clara ou escura, requer copos específicos que ressaltam o sabor, sobrepõem os aromas e ajudam a formar a melhor espuma.
Foto: Fotolia/ExQuisine
Faça sua escolha
Não é nenhum segredo que a Alemanha é uma das principais produtoras de cerveja. Mas qual a maneira correta de degustar a bebida? Muitas vezes o segredo se resume à espuma do topo. Um sommelier de cervejas revelou à DW que o formato cônico do copo ajuda a manter o aroma, enquanto um copo fininho preserva o frescor.
Foto: Fotolia/ExQuisine
O orgulho de Colônia
Para os cervejeiros de Colônia estes copos de 20 cl são essenciais. O termo Kölsch (adjetivo referente a Köln, nome de Colônia em alemão) é restrito a cervejarias dentro e nos arredores de Colônia. Garçons carregam bandejas circulares com alças cheias de Kölsch e trocam constantemente os copos cheios pelos vazios. Se você não quer beber mais, tampe o copo.
Foto: DW/M. Nelioubin
Frescor em primeiro lugar
Assim como os rivais às margens do Reno, os moradores da vizinha Düsseldorf também têm uma especialidade, a Altbier. O copo também comporta 20 cl, mas é mais curto e largo que o de Colônia. E como a Altbier é de alta fermentação, o sabor ficaria choco se fosse servida em copos largos, diz um produtor. "No copo correto, a 'Alt' solta seu aroma e forma uma espuma compacta."
Foto: picture-alliance/dpa
Copos decorativos
"Um copo de pilsen se estreita em direção à boca do copo, para que o aroma de lúpulo alcance o nariz", diz um mestre cervejeiro de Essen à DW. "Isto melhora o sabor da cerveja." Alguns copos são apenas cilíndricos, outros, como o da foto, têm o formato de tulipa. O pedestal da base é somente ornamentação e não influencia o sabor da bebida.
Foto: picture-alliance/dpa
Um litro de coragem
A cerveja típica da Oktoberfest ou "helles" é servida em uma caneca de um litro, chamada "Mass". Originalmente de cerâmica, estas canecas são produzidas para resistir às diversas rodadas de brindes e celebrações. Quando vazias, elas pesam mais de um quilo cada uma! Imagine então o quanto elas ajudam a delinear os músculos quando estão cheias! Saúde!
Foto: picture-alliance/dpa
Espaço para a espuma
Os copos da "Hefeweizen", a cerveja clara de trigo, são altos e sinuosos. O elevado teor de dióxido de carbono forma a espuma na parte superior da bebida. Para isso, a cerveja deve ser derramada no copo vagarosamente. O diâmetro ampliado no topo do copo acomoda a espuma extra, assim como seus aromas florais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vermelho ou verde?
Até mesmo os soldados de Napoleão levantaram seus copos para brindar a "champanha do norte". Uma fermentação especial à base de culturas de ácidos lácticos dá à "Berliner Weisse" sua característica borbulhante e de sabor único, geralmente complementada com um toque de framboesa ou xarope de aspérula (Waldmeister). O copo amplo serve para acomodar bem a espuma.
Foto: picture-alliance/ZB
Cerveja no pedestal
Todos os detalhes do copo da "Schwarzbier", a cerveja escura, celebram a experiência da degustação. A forma, a espessura e o tratamento dado à borda do vidro salientam o sabor. O formato amplo da boca do copo permite exalar melhor a nota de castanha torrada, chocolate e pão fresco. O formato também ajuda na manutenção da espuma, encorajando a degustar a bebida devagar.
Foto: picture-alliance/dpa
De Bonn
Ao beber a "Bönnsch", da cidade de Bonn, os amantes de cerveja seguram em suas mãos pequenas obras-primas inspiradas pelo designer Luigi Colani. A "Bönnsch" é uma versão não filtrada da "Kölsch". Apesar de não alterar o sabor da bebida, o copo é mais popular que a própria cerveja, especialmente entre turistas que procuram por um souvenir diferente, diz o dono da cervejaria.
Foto: Bönnsch Brauerei, Bonn
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Passados de 150 anos, a William K Busch Brewing Company pertence a Billy Busch, bisneto de Adolphus. Ele continua produzindo a "kräftig lager" segundo o preceito de pureza. De quebra, a William K Busch Company integra o conglomerado Anheuser-Busch-InBev, o qual, com 21% de participação, domina o mercado mundial, englobando praticamente todas as marcas conhecidas e deixando longe a concorrência.
Brasil, paraíso da cerveja
A caipirinha é a marca registrada do Brasil mundo afora, e muitos estrangeiros se esquecem que a arte da cerveja alemã deixou seus traços no país.
Louis Bücher, natural de Wiesbaden, emigrou para São Paulo em 1885, onde fundou a Antárctica. Quase simultaneamente, o suíço Joseph Villiger lançava a primeira cerveja Brahma.
Também em uma das mais alemãs de todas as cidades brasileiras, a catarinense Blumenau, da Oktoberfest, há muito se produz segundo o preceito de pureza: a Eisenbahn conta entre as cervejarias brasileiras mais bem-sucedidas, com 15 tipos diferentes. Alguns deles mantiveram nomes alemães como dunkel, weizenbock, lust (o tipo nobre) ou Eisenbahn kölsch.
Do Canadá ao Himalaia
Por falar em kölsch: a especialidade de Colônia ostenta uma surpreendente carreira internacional. Para além da cidade renana, essa cerveja de alta fermentação não é muito levada a sério no país: outros produtores até apelidaram de "provetas" os típicos copos de 200 ml, cilíndricos e delgados, em que ela é servida.
Como é feita a legítima cerveja alemã
Em 1516, o ducado da Baviera estabeleceu a chamada lei da pureza, que determinou que a cerveja só pode conter três ingredientes: malte de cevada, lúpulo e água. Veja como funciona a fabricação.
Foto: Bernd Weissbrod/dpa/picture alliance
Malte de cevada
O malte se forma a partir da germinação artificial do grão. Para germinar, a cevada é imersa em água por quatro a sete dias. Ao germinar, são liberadas enzimas que ajudarão a formar a maltose (açúcar de malte) no processo de maceração. Depois disso o malte é submetido à secagem. Para a cerveja de trigo, é produzido ainda o malte de trigo.
Foto: picture-alliance/dpa
Lúpulo
O lúpulo é da família das canabáceas, à qual também pertence a canabis. Ele foi adicionado à cerveja devido ao seu efeito bactericida. Assim ela se conserva por mais tempo. O lúpulo é responsável pelo amargor da cerveja. O mestre cervejeiro pode controlar o sabor por meio do tipo de lúpulo que usa e o momento em que acrescenta este ingrediente ao produto.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Água
A qualidade da água não pode ser subestimada quando se faz cerveja. Ela é muito importante para a fermentação. Na foto, o mestre cervejeiro usa um aparelho de osmose inversa. Ao colocar água "dura" de um lado, sai tanto água "macia" quanto "superdura" do outro. Somente a água macia é apropriada para a fabricação de cerveja.
Foto: DW/F. Schmidt
Temperatura e tempo
São necessárias cerca de cinco horas até que o mosto de malte, lúpulo e água esteja pronto. Hoje em dia, todos os processos na cervejaria são controlados por computador.
Foto: DW/F. Schmidt
Microorganismos
O capital biológico mais importante de qualquer cervejaria são os microorganismos da levedura. Eles têm de ser bem cuidados e mantidos limpos e saudáveis. O levedo de cerveja é um fermento que resulta do processo de fermentação da cevada durante a produção de cerveja. Esta levedura é regularmente controlada em laboratório.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Bernhart
Três semanas
Estes tanques de fermentação têm mais de cinco metros de altura. Aqui a levedura transforma a maltose em dióxido de carbono e álcool etílico. Após esse processo, que dura quatro dias, a cerveja é resfriada por dois dias e descansa por mais duas semanas.
Foto: DW/F. Schmidt
Quase pronta
Assim é a cerveja logo após a fermentação. Nesta fase ela já tem seu sabor característico. Algumas marcas alemãs até vendem esta cerveja turva, chamada "naturtrüb".
Foto: DW/F. Schmidt
Filtragem
Primeiro acontece uma filtragem grosseira: este filtro contém minúsculos esqueletos fossilizados de algas pré-históricas, chamadas diatomáceas. Pequenas partículas são isoladas ali. Na filtragem fina, é retirado o resto de levedura na cerveja.
Foto: DW/F. Schmidt
Vários tipos
Entre os muitos tipos de cerveja alemã está a kölsch, típica de Colônia. Ela tem de ser clara. Isso está prescrito na definição de origem geográfica.
Foto: DW/F. Schmidt
Espuma é fundamental
Antes de ser engarrafada, a cerveja recebe dióxido de carbono, que havia sido previamente removido dos tanques de fermentação e liquefeito. Cervejas vendidas em garrafas recebem mais gás carbônico ( 5,2 gramas por litro) do que as em barril ( 4,6 gramas por litro) para que estas não espumem tanto na hora de servir.
Foto: DW/F. Schmidt
E a cerveja sem álcool?
A cerveja sem álcool é aquecida a 42 ºC num vácuo de um sexto da pressão ambiente. Esta temperatura não prejudica a cerveja, e a redução da pressão reduz também o ponto de ebulição do álcool, que evapora. É um fenômeno semelhante ao que acontece quando se cozinha água em grandes altitudes. Na cordilheira do Himalaia, por exemplo, a água já ferve bem abaixo dos 100 ºC.
Foto: DW/F. Schmidt
Vale a pena guardar?
As adegas das cervejarias geralmente guardam exemplares de cada produção. Isso serve para o controle de qualidade. A qualquer momento uma garrafa pode ser controlada em laboratório. A cerveja para beber deve ser armazenada em local frio e escuro e deve ser consumida em seis meses.
Foto: DW/F. Schmidt
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No entanto ela encontrou numerosos apreciadores estrangeiros. Por exemplo no Canadá, onde a cervejaria Mt. Begbie apresenta orgulhosamente sua "high country kölsch", fabricada com "fermento kölsch original". A receita, entretanto, contém declaradamente "malte de trigo" – e assim, adeus ao preceito de pureza alemão. Mas os canadenses nem ligam e continuam saboreando-a como "cerveja leve de verão".
A rigor, kölsch é uma indicação protegida, só aplicável a cervejas fabricadas em Colônia. Porém vários produtores pelo mundo parecem não se incomodar com a restrição. Muito menos nas montanhas do Himalaia: lá, uma cervejaria independente da etnia xerpa em Khumbu, ao pé do Monte Everest, batizou sua especialidade como "Khumbu Kölsch".
Tsingtao, a chinesa
Em 1897, dois missionários alemães foram assassinados na China. Para o imperador Guilherme 2º, há muito interessado no país asiático, esse foi um pretexto para enviar navios de guerra para Kiauchau, no Mar Amarelo.
Os alemães conseguiram ocupar a região litorânea, e a localidade de Tsingtao se transformou no centro do domínio colonial alemão na China. Já que onde estão alemães, a cerveja não pode estar muito longe, a primeira cervejaria local começou a funcionar em 1903, sob o nome Germania.
Mas a aventura germânica em solo chinês não durou muito tempo. Em 1914 começou a Primeira Guerra Mundial, e os japoneses expulsaram os alemães da colônia. Mas mantiveram a cerveja, que continuou a ser produzida pelo método tradicional, sob a marca Tsingtao – hoje uma das mais famosas do mundo.
A cerveja alemã em números
A Lei da Pureza da Cerveja completa 500 anos em 2016 e continua sendo símbolo de qualidade na Alemanha e no mundo. Saiba quanto bebem os alemães, quais as marcas líderes do país e outros fatos sobre o mercado cervejeiro.
Foto: picture-alliance/ZB/R. Hirschberger
Grande variedade
Muitas marcas alemãs consagradas pertencem hoje a grupos internacionais. Mas ainda há pequenas empresas entre as cerca de 1.350 cervejarias do país. Há mais de 5.500 marcas de cerveja na Alemanha, país que foi o maior fabricante da bebida na Europa em 2015, com 96 milhões de hectolitros produzidos.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hase
As dez principais marcas alemãs
As marcas Oettinger e Krombacher são as principais produtoras de cerveja na Alemanha. O gráfico acima refere-se a 2014. Para 2015, cálculos preliminares indicam que, por causa do sucesso de suas exportações, a Krombacher passou à frente da Oettinger, que se concentra no mercado alemão.
Oettinger
Esta é a principal marca da empresa familiar de mesmo nome. A cervejaria aposta em produtos baratos e na venda direta. A sede do grupo fica em Oettingen, na Baviera. Há ainda fábricas em Gotha (Turíngia), Mönchengladbach (Renânia do Norte-Vestfália) e Braunschweig (Baixa Saxônia). A Oettinger produz 25 tipos de cerveja e dez bebidas de baixo teor alcoólico.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Steffen
Consumo de cerveja na Alemanha
Desde o seu pico em 1980, o consumo de cerveja na Alemanha está em queda constante. Enquanto o consumo anual per capita na época era de quase 146 litros, em 2015 ele baixou para 106 litros. Os recordistas no consumo são os tchecos, com 144 litros per capita no ano passado.
Krombacher
A marca pertence à família Schadeberg desde 1922. A cervejaria fica no bairro Krombach, em Kreuztal, no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Ela é uma das maiores cervejarias privadas do país. Com 4,2 milhões de hectolitros, a Krombacher Pils é a tipo pilsen mais vendida na Alemanha. E também a cerveja sem álcool da marca é líder de mercado neste segmento.
Foto: picture alliance/dpa/C. Seidel
Consumo de cerveja no mundo
A Ásia, o continente mais populoso, é também a maior consumidora de cerveja no mundo, seguida da Europa. Só que o consumo médio de cerveja de um europeu é maior do que o de um chinês, por exemplo.
Bitburger
A cervejaria foi fundada em 1817 na cidade de Bitburg, no estado da Renânia-Palatinado. A dona da marca é a família Simon, que tem descendência direta do fundador da cervejaria, Johann Peter Wallenborn. Hoje, a terceira maior cervejaria alemã vende seus produtos em 60 países.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Tittel
As maiores cervejarias do mundo
O gráfico mostra que as cervejarias alemãs são anãs em comparação com grupos internacionais. A líder mundial Anheuser-Busch InBev está de olho numa fusão bilionária com a segunda maior do mundo, a SABMiller. A legalidade da fusão está sendo analisada pela autoridade de concorrência da União Europeia.
Veltins
A cervejaria foi fundada em 1824 e tem sede em Meschede-Grevenstein, no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Desde 1994, a proprietária da cervejaria é Susanne Veltins. A empresa é lider de mercado na Alemanha em misturas de bebidas com cerveja. Em 1997, a marca passou a patrocinar o time do Schalke e, desde 2005, dá o nome ao estádio do clube, em Gelsenkirchen.