Mesmo com 84% dos leitos de UTI ocupados, capital paulista tem índices de isolamento social bem abaixo dos níveis de um ano atrás. O dobro de pessoas andam de ônibus hoje, em meio a nova fase vermelha de restrições.
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Há um ano o Brasil registrava a primeira vítima do novo coronavírus, uma mulher de 57 anos que havia sido internada em São Paulo no dia anterior. A partir daquele 12 de março de 2020, a capital paulista – desde então a cidade que concentra o maior número de casos de covid-19 no Brasil – foi se esvaziando. No dia 21 do mesmo mês, veio o anúncio da quarentena pelo governo paulista. Por semanas, os poucos moradores que saíam de casa vagaram por uma "cidade-fantasma".
Hoje, quase um ano depois, São Paulo registra mais mortes em um dia do que o total de casos até aquele momento, em meio à nova fase vermelha do Plano SP (estratégia do governo estadual para o combate à covid-19), a com maior índice de restrições de circulação de pessoas. O isolamento, porém, está longe dos níveis de 2020. O índice de lentidão observado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) é, em média, 15 vezes maior, enquanto o de pessoas circulando em ônibus é 126% maior. Em 30 de março do ano passado, cerca de 900 mil pessoas usaram ônibus pela cidade, contra mais de 2 milhões nesta sexta-feira (12/03).
"O lockdown é horrível; pode até morrer menos gente, mas nós vamos comer o quê?", questiona o ambulante Miguel Pereira. Ele vende coquetéis aos funcionários que deixam a rua 25 de Março, ponto importante de comércio que há um ano se tornara deserto.
"O auxílio emergencial não servia para nada com R$ 600", conta Pereira, que ficou de março a julho sem trabalhar. "Mas neste ano não vou parar; no Brasil ainda vai morrer mais gente que nos Estados Unidos." Aos 27 anos, Pereira diz não saber se contraiu ou não o coronavírus, apesar de trabalhar sem máscara no centro de São Paulo.
Supervisora da UTI do Hospital Geral de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, Ana Kelly Araujo observa uma alta no número de pessoas com menos de 50 anos nos últimos três meses. "Os idosos têm naturalmente o sistema imunológico mais sensível, mas os números estão nos mostrando que os mais jovens, quando muito expostos como vem acontecendo, também são atingidos e de modo forte", conta.
Os 20 leitos de tratamento intensivo do hospital estão lotados há mais de uma semana, assim como os de outros 12 hospitais estaduais na Grande São Paulo, de um total de 15.
Para o infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, o cenário mais provável é de esgotamento completo do número de leitos em UTIs em todo o estado antes mesmo da próxima segunda-feira (15/03), quando começa a fase emergencial da fase vermelha.
Fase vermelha em 2021
A nova fase vermelha do Plano SP foi criticada quando anunciada no começo deste mês, devido a flexibilizações que não existiam no começo da quarentena, como a liberação de aulas presenciais, partidas esportivas ou cultos e cerimônias religiosas. Até mesmo o Ministério Público passou a analisar a inclusão de igrejas entre os serviços essenciais.
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Apesar da flexibilização, o comitê de saúde esperava que a epidemia apresentasse um indicativo de redução, o que ainda não ocorreu. O número de pacientes internados nesta sexta-feira chegou a 22.555 pessoas em todo o estado, o maior desde o início da crise. Destas, 9.777 estão em leitos de UTI e outras 12.778, em enfermarias, considerando hospitais públicos e também particulares.
O total de internados no estado está batendo recordes todos os dias desde 27 de fevereiro. O número demonstra que, nesta sexta-feira, a quantidade de pessoas internadas com covid-19 em São Paulo é 47% maior do que no pico da primeira onda da doença. Em 14 de julho de 2020, quando ocorreu o recorde de pacientes internados do ano passado, eram 15.289 pessoas nessa condição.
Naquele primeiro pico, os índices de isolamento social também eram melhores que os atuais. Na fase laranja, mais aberta, 47% das pessoas permaneceram em casa, contra 41% na última sexta-feira.
Preparando-se para deixar a UTI após duas semanas convivendo com o medo de morrer, o motofretista Cleberson de Oliveira, de 34 anos, lamenta a situação. "É mais fácil mandar um recado para quem está se cuidando do que para os que não estão; estes, que não saem das festas e baladas, vão acabar vendo que quanto menos você se importa, maior vai vir a conta."
A nova fase de controle de circulação – a chamada fase emergencial da fase vermelha, anunciada na última quarta-feira e que começa a valer na próxima segunda – fecha igrejas, impede eventos esportivos e determina que apenas serviços essenciais poderão abrir. As regras são muito semelhantes àquelas de 21 de março de 2020, quando o número de infectados no planeta era menor do que as mais de 275.000 vidas perdidas nos últimos 12 meses no Brasil. Uma conta cara demais e com tendência ao pior.
"É matemática: para cada infectado você faz a conta exponencial, e o número de infectados – reflexo de festas de Natal, ano novo, Carnaval – vai aumentando. Estou muito triste e aflita, porque dias piores virão", lamenta Cristiane Matsnaka, coordenadora do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de São Paulo.
Celebridades e políticos que testaram positivo para covid-19
Várias estrelas de cinema contraíram o coronavírus. A doença varreu a elite política global e afetou também os melhores atletas.
Foto: Joshua Roberts/Reuters
Emmanuel Macron
O presidente da França foi diagnosticado com o coronavírus dias depois de uma cúpula dos líderes da União Europeia, o que levou várias autoridades do bloco a adotarem o isolamento. Nos dias que antecederam o resultado, ele se reuniu também com lideranças políticas da França e membros de seu gabinete. Seus assessores disseram que ele mantém estilo de vida saudável e se exercita regularmente.
Foto: Lewis Joly/AP Photo/picture alliance
Donald Trump
Após menosprezar a doença durante meses, o presidente dos Estados Unidos confirmou que ele e a primeira-dama, Melania Trump, estavam infectados com o coronavírus em plena reta final de sua campanha à reeleição. Trump raramente aparecia em público usando máscaras de proteção e ignorou em diversas ocasiões os alertas das autoridades de saúde.
Foto: picture-alliance/CNP/A. Drago
Andrzej Duda
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, testou positivo para o coronavírus, anunciou um porta-voz no dia 24 de outubro. Dias antes, ele esteve em um fórum de investimento na Estônia, onde se encontrou com o presidente búlgaro, Rumen Radev, que entrou em isolamento profilático depois de ter contato com alguém infectado em seu país de origem. No entanto, não foi confirmado como Duda se contaminou.
Foto: Photoshot/picture-alliance
Andrea Bocelli
O tenor italiano Andrea Bocelli testou positivo para o novo coronavírus em março. Ele relatou que teve apenas febre leve, e no mês seguinte, já fez uma apresentação na Catedral de Milão, vazia devido às regras de restrição.
Foto: Getty Images/S.Legato
Robert Pattinson
O ator, de 34 anos, mais conhecido por estrelar como o vampiro Edward Cullen na saga cinematográfica "Twilight", testou positivo para covid-19, obrigando a produção de "The Batman" a uma pausa apenas três dias depois de ter retomado trabalhos. Pattinson, que também foi Cedric Diggory na adaptação cinematográfica de "Harry Potter e o cálice de fogo", sucede Ben Affleck como o Homem Morcego.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/E. Chesnokova
Dwayne 'The Rock' Johnson
O lutador que virou estrela de cinema se tornou uma das mais recentes celebridades a contraírem covid-19. Em um vídeo no Instagram, Johnson revelou que ele, sua esposa e duas filhas testaram positivo — acrescentando que ele teve "uma experiência difícil" com os sintomas. Ele também pediu às pessoas que parem de "politizar" a pandemia e "usem máscara".
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Shotwell
Neymar
O craque brasileiro é um dos três jogadores do PSG a contraírem o vírus, informou a agência de notícias AFP em 2 de setembro. Acredita-se que o surto no clube esteja relacionado a uma viagem de férias que o time fez à ilha espanhola de Ibiza. Posteriormente, Neymar postou uma foto no Instagram com seu filho, que também supostamente testou positivo: "Obrigado pelas mensagens. Estamos todos bem".
Foto: Getty Images/AFP/D. Ramos
Silvio Berlusconi
O ex-premiê italiano de 83 anos testou positivo para o vírus e estaria assintomático, segundo anúncio de seu médico em 2 de setembro. Dois dos filhos de Berlusconi e sua namorada de 30 anos também testaram positivo. O ex-premiê testou positivo depois de passar férias na costa da Sardenha, onde os ricos e famosos da Itália costumam desdenhar das políticas de restrição.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Vojinovic
Usain Bolt
A lenda do atletismo Usain Bolt testou positivo poucos dias depois de realizar uma festa para comemorar seu 34º aniversário no final de agosto. O detentor do recorde para os 100 e 200 metros rasos disse que entrou em quarentena, mas que não estava exibindo sintomas. Vídeos da festa de aniversário ao ar livre de Bolt mostraram convidados sem máscaras durante a celebração.
Foto: Reuters/M. Childs
Antonio Banderas
O ator espanhol teve uma surpresa indesejável em seu 60º aniversário em meados de agosto, depois de um teste positivo para o coronavírus. Banderas disse que passou seu aniversário isolado e que estava "mais cansado do que de costume", mas "esperando se recuperar o mais rápido possível".
Foto: picture-alliance/Captital Pictures
Jair Bolsonaro
O presidente brasileiro, que repetidamente minimizou a gravidade da pandemia, contraiu o vírus em julho. Ele foi criticado por ignorar as medidas de segurança recomendadas por especialistas em saúde antes e depois de seu diagnóstico, incluindo apertar as mãos e abraçar apoiadores na multidão. Sua mulher, Michelle, e os filhos Jair Renan e Flávio também testaram positivo.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Tom Hanks
O ator Tom Hanks e sua mulher, a atriz e cantora Rita Wilson, foram algumas das primeiras celebridades a anunciar que contraíram o vírus. O casal testou positivo para a covid-19 em meados de março, quando estava na Austrália. Depois de se recuperar e retornar aos Estados Unidos, Hanks defendeu que as pessoas façam sua parte para retardar a propagação da doença.
Foto: picture-alliance/AP/Invision/J. Strauss
Sophie Gregoire Trudeau
Sophie Gregoire Trudeau, mulher do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, testou positivo para coronavírus depois de retornar do Reino Unido em meados de março. O marido dela anunciou ter se isolado na residência oficial, mesmo sem apresentar sintomas da enfermidade.
Foto: Reuters/P. Doyle
Boris Johnson
No final de março, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, contraiu o coronavírus que o levou ao hospital por vários dias. Johnson passou uma semana em um hospital em Londres e três noites na UTI, onde recebeu oxigênio e foi observado 24 horas por dia. Ele teve alta em meados de abril, e os funcionários do hospital receberam o crédito de ter salvado sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Dawson
Ambrose Dlamini
O primeiro-ministro de Essuatíni (antiga Suazilândia), Ambrose Dlamini, contraiu o coronavírus e morreu em decorrência da covid-19, em dezembro de 2020. Ele tinha 52 anos e chegou a ser internado em um hospital da África do Sul, mas não resistiu.
Foto: RODGER BOSCH/AFP
Hamilton Mourão
O vice-presidente, Hamilton Mourão, anunciou no final de dezembro de 2020 que havia testado positivo para a covid-19. Ele ficou 12 dias em isolamento no Palácio do Jaburu, em Brasília. Antes de receber o diagnóstico, o vice-presidente teve dor no corpo, dor de cabeça e febre que não passou de 38 graus. Em março de 2021, ele recebeu a primeira dose da Coronavac.
Foto: Sergio Lima/AFP
Larry King
O lendário apresentador de TV americano Larry King morreu em janeiro de 2021, em decorrência da covid-19. Ele tinha 87 anos e comandava um tradicional programa de entrevistas na CNN há mais de duas décadas.
Foto: Radovan Stoklasa/REUTERS
Alberto Fernández
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, de 62 anos, anunciou no começo de abril de 2021 que contraiu o coronavírus. Segundo a Unidade Médica Presidencial, ele não teve sintomas, graças à imunização pela vacina russa Sputnik V, recebida dois meses antes.