Com Hillary ou Trump, EUA devem olhar mais para Europa
Michael Knigge fc
7 de novembro de 2016
Em dois mandatos, Obama priorizou as relações com a Ásia. Mas, segundo especialistas, o principal foco do próximo ocupante da Casa Branca acabará sendo o Velho Continente. Entre os motivos, a incisiva política de Moscou.
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Se alguém tivesse que dizer qual foi uma das maiores prioridades do governo de Barack Obama em política externa, a resposta seria Ásia. Embora não exista consenso entre analistas sobre o quão bem-sucedido foi o esforço americano para equilibrar as relações com a região, uma coisa é clara: é provável que, com Hillary Clinton ou Donald Trump, os Estados Unidos voltem os olhos para a Europa.
"A Europa deveria ser realmente a prioridade número um do futuro presidente, porque é a aliança estratégica mais importante e vital que os EUA têm", afirma Erica Chenoweth, especialista em segurança internacional na Universidade de Denver. "O próximo presidente tem que colocar novamente seu foco na Europa de maneira que não vemos desde a década de 1990."
James Jay Carafano, especialista em segurança nacional da Heritage Foundation, também destaca que garantir a paz e estabilidade na Europa deveria ser um dos principais interesses do próximo líder a ocupar a Casa Branca.
"A questão prioritária em termos de preocupações dos EUA para a paz e segurança será a política externa russa para a região, seja ela em relação a energia, propaganda ou diferentes tipos de desinformação, ou Ucrânia e outras atividades militares ou ameaças que sejam um desafio a ser enfrentado", diz Carafano.
Isso não quer dizer que dar novo impulso aos laços com a Europa será a única questão crucial para os EUA. Os especialistas também apontam outras prioridades, como a crise na Síria e a luta contra o terrorismo; o futuro do acordo nuclear com Irã; as relações com a China; o combate às mudanças climáticas e a ascensão do nacionalismo.
Carafano e Chenoweth dizem também que as relações transatlânticas serão prioritárias para o novo presidente não somente para o bem da Europa, mas também para enfrentar conjuntamente outros desafios internacionais.
Segundo eles, um instrumento fundamental para reativar as relações transatlânticas, especialmente em seu componente de segurança, é fazer com que a Otan seja tão forte como era no passado.
"Os EUA têm de reforçar a unidade em torno de uma Otan que se concentre realmente na missão central do organismo, que é a defesa da comunidade transatlântica", opina Carafano.
Chenoweth diz que as missões da Otan, como a enviada à Líbia, foram um erro, e a organização deveria voltar às suas origens. "Basicamente como um acordo coletivo de segurança no continente para a segurança da própria região", completa.
As repetidas missões da Aliança Atlântica em algumas regiões têm sido contraproducentes em dois sentidos, afirma Chenoweth. Elas provocaram o nervosismo em Moscou, que redefiniu sua própria postura militar e, ao mesmo tempo, distraíram a atenção de seu objetivo primordial, que é atuar como um escudo defensivo perante a Rússia.
Nenhum dos especialistas afirma ter condições de avaliar qual dos dois principais candidatos – Hillary Clinton ou Donald Trump – será o melhor presidente para dar, em sua opinião, o necessário impulso às relações com a Europa.
"Hillary tem melhores condições de reiniciar as relações com a Europa, em boa parte por causa de sua experiência como secretária de Estado", opina Chenoweth. "Mas eu também digo que gostaria de ver um maior peso em sua plataforma de política externa."
As construções mais polêmicas de Donald Trump
As megapropriedades não só trouxeram riqueza para Donald Trump, mas também dores de cabeça. Veja alguns empreendimentos do multimilionário pelo mundo.
Foto: Getty Images/S. Olson
Hillary na sombra de Trump
O primeiro debate entre Hillary Clinton e Bernie Sanders, então ainda pré-candidatos do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, em outubro de 2015, aconteceu, literalmente, à sombra de Trump. Isso porque o Trump International Hotel and Tower em Las Vegas estende sua sombra sobre o Wynn Resort, onde estavam os democratas.
Foto: Getty Images/J.Raedle
Questão de gosto
A indignação em Chicago foi enorme quando se soube que Trump iria colocar seu nome em um novo prédio. O prefeito Rahm Emanuel chegou a chamar a construção de "brega e de mau gosto". Mas depois de cinco anos de processos judiciais, Trump conseguiu colocar seu nome no 16º andar em letras gigantescas.
Foto: Getty Images/S. Olson
Jogo de sorte ou de azar?
O Taj Mahal em Atlantic City, no estado de Nova Jersey, custou 1 bilhão de dólares. Só que, depois de 25 anos, em 2014 o complexo de hotel e cassino de Trump quase teve de declarar falência. Uma empresa de investimentos salvou o empreendimento, mas o nome Trump foi mantido. Já o hotel Trump Plaza em Atlantic City não teve a mesma sorte.
Foto: Getty Images/W.T.Cain
A sede em Nova York
Donald Trump se orgulha do seu centro de poder em Nova York. A Trump Tower, na Quinta Avenida, não é apenas a sede de sua campanha eleitoral: é onde o bilionário mora com a família. No prédio, também têm apartamentos o craque Cristiano Ronaldo, o ator Bruce Willis e o compositor Andrew Lloyd-Webber.
Foto: picture-alliance/AA
Símbolo controverso
Só o átrio já ocupa quase seis andares e é decorado com mármore e ornamentos de ouro. Alguns consideram a Trump Tower, no número 725 da Quinta Avenida, de mau gosto. Para outros, o projeto dos arquitetos Edward Larrabee Barnes e Der Scutt é elegante e atemporal. A torre tornou-se um ímã para os aficionados de arquitetura contemporânea e apoiadores de Trump.
Foto: picture-alliance/dpa/S.Reboredo
Riqueza em bairro pobre
O Trump Ocean Club, na Cidade do Panamá, tem um hotel de 400 quartos e 700 apartamentos, em parte ainda vazios. O edifício mais alto da América Latina até 2012 é conhecido pela sua silhueta única. A torre fica perto de um bairro pobre, o que reduziu sua atratividade.
Foto: Getty Images/AFP/R. Arangua
Resistência escocesa
Trump pretende construir na Escócia o "melhor campo de golfe do mundo". Só que o empreendimento está ameaçado porque Michael Forbes, um simples dono de terras, se nega a vender sua propriedade, que faz fronteira com o complexo. Durante uma visita ao local em junho, Trump elogiou o resultado do Brexit, embora a Escócia queira ficar na União Europeia.
Foto: Getty Images/J.-J. Mitchell
Trump no Oriente europeu
As Trump Towers em Istambul ficam no bairro Sisli, a parte europeia da Turquia, por isso são consideradas os primeiros arranha-céus de Trump na Europa. Só que de Trump tem apenas o nome, já que o proprietário é o bilionário turco Aydin Dogan. As declarações de Trump sobre o islã geraram a rejeição de muitos muçulmanos na Turquia.
Foto: Getty Images/O.Kose
Projetos no Brasil
Além do hotel que foi aberto no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos, Trump tem outro projeto ambicioso na Cidade Maravilhosa: cinco edifícios de 38 andares da Trump Towers Rio, na zona portuária. O que era para ser o maior complexo de escritórios em um país dos Brics, porém, ainda nem saiu do papel. As obras deveriam ter começado em 2015.