Ilha de Mayotte
1 de abril de 2011Os cerca de 400 quilômetros quadrados ocupados por Mayotte se tornaram nesta quinta-feira (31/03) uma região administrativa francesa. Para muitos mahorais – nome dado aos habitantes das ilhas – isso é motivo para celebração. Juntamente com a ministra francesa do Ultramar, Marie-Luce Penchard, eles festejaram sua admissão no Estado francês.
Integrados à França, os mahorais têm agora a esperança de uma vida melhor. O historiador Christophe Wargny, da Escola Nacional Superior de Artes e Ofícios, em Paris, diz compreender as aspirações dos habitantes da ilha. Pois, como ele diz, não existe nenhuma razão para não continuar francês quando se vê com os próprios olhos como é pobre a população das outras três Ilhas Comores e como ela vive precariamente.
"Seria como perguntar ao povo de Guadalupe: você quer a independência e o mesmo padrão de vida do Haiti?", argumenta Wargny.
De acordo com ele, o status de departamento significa, para Mayotte, que o padrão de vida de seus habitantes será 50 vezes superior ao do Arquipélago das Comores, porque Mayotte receberá, paulatinamente, todos os benefícios sociais franceses.
Aspiração de longa data
A ilha foi comprada em 1841 pela França e recebeu autonomia administrativa em 1946. O fato de se tornar oficialmente um departamento ultramarino preenche um desejo de longa data da maioria dos mahorais, como lembra o vice-diretor do Conselho Geral de Mayotte, Thoihir Youssouffa.
Em novembro de 1958, os mahorais organizaram o primeiro congresso para pedir a inclusão. Esse desejo foi reiterado repetidas vezes. Em 1975, a população votou contra a independência.
Em 1976, a continuação de Mayotte como parte da República Francesa foi exigida, o que foi confirmado mais uma vez pelos mahorais em 1979. Em de março de 2009, por maioria esmagadora, eles decidiram, através do voto, se tornar um departamento francês.
Um departamento por acaso
O dinheiro francês já fluia para Mayotte mesmo antes da incorporação oficial. Mas agora entra em vigor também a legislação francesa, incluindo habitação social, salário-desemprego, salários mínimos. Ou seja, grandes despesas para a França. "Para a França foi antes de tudo um acaso. Paris aceitou a situação porque não sabia, realmente, o que fazer com a ilha", diz Wargny.
Para ele, a França "não tem uma política coerente em relação aos territórios ultramarinos. O acaso assim o quis, e os mahorais não têm motivo para se arrepender". No entanto, essa transformação traz algumas dificuldades para o Departamento de Mayotte, como, por exemplo, o problemas de migrantes e refugiados.
Segunda Lampedusa
Entre as Comores, Mayotte é considerada uma terra abençoada. A ilha goza de condições de vida bem melhores do que o resto do arquipélago. Um em cada três habitantes de Mayotte é estrangeiro ou refugiado, e a cada dia chegam novos migrantes. Todos os anos, 24 mil ilegais são deportados. Por esse motivo, a França já enviou centenas de policiais para Mayotte.
Na opinião de Wargny, uma solução para o problema seria contribuir para o desenvolvimento das outras Ilhas Comores. Mas, infelizmente, "a França destina muito mais dinheiro para conter o fluxo de imigrantes do que para o desenvolvimento das Comores como um todo".
Também a Europa terá de lidar com o problema da imigração ilegal, já que, em 1° de janeiro de 2014, Mayotte será elevada à região europeia no exterior, tornando-se assim parte da União Europeia.
Mayotte pode se tornar uma segunda Lampedusa para a Europa, disse o vice-diretor do Conselho Youssouffa, lembrando os problemas dos italianos em relação à África do Norte. Segundo ele, a situação é semelhante em Mayotte.
Problemas, mas também oportunidades
No entanto, a localização geoestratégica de Mayotte no Oceano Índico também pode trazer vantagens. O vice-diretor Youssouffa já fala de seus planos de transformar a ilha num posto avançado europeu na luta contra a pirataria internacional ao longo da costa africana.
Nesta sexta-feira, os mahorais comemoraram sua admissão na capital Mamoudzou. A festa oficial, todavia, acontecerá de 25 a 27 de abril e contará com a presença de personalidades do alto escalão da União Europeia e de outros países.
Autora: Elise Cannuel (ca)
Revisão: Alexandre Schossler