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EconomiaJapão

Com japoneses bebendo menos álcool, a solução é exportar

Julian Ryall
16 de julho de 2024

Consumo de bebida alcoólica vem diminuindo entre a população do país, levando cervejarias e destilarias japonesas a se voltar para mercados no exterior

Barris de  saquê
O mercado de saquê do Japão encolheu junto com o consumo nacional. E quem consome, prefere bebidas alcoólicas e cervejas estrangeiras, segundo especialistas do setorFoto: Yuichi Yamazaki/AFP

No Japão, as pessoas têm saído cada vez menos para beber com colegas e amigos. Um hábito saudável, mas para as empresas do setor de bebidas alcoólicas do Japão, um problema. A tendência tem levado várias empresas a buscar melhores novos mercados em todo o mundo. As cervejarias e destilarias japonesas esperam que os consumidores estrangeiros desenvolvam o gosto por seu saquê, cerveja e uísque premium.   

O setor de bebidas nipônico admite que os últimos anos têm sido difíceis e isso já acontecia antes mesmo da pandemia da covid-19 fechar bares e restaurantes.

"Há muitos motivos pelos quais as pessoas estão bebendo menos, mas acho que muitos deles são os mesmos de outros países", acredita Hiromi Iuchi, porta-voz da associação de saquê do Japão e Shochu. 

"No Japão, temos uma população cada vez menor e isso também influencia", completa Iuchi. "Além disso, muitos consumidores de saquê são idosos, pois a bebida não é vista como algo para jovens, embora estejamos nos esforçando para mudar isso. De modo geral, também houve um afastamento do álcool por parte dos consumidores mais jovens por causa da preocupações com a saúde."      

Reduzido pelas importações estrangeiras

O mercado de saquê também foi espremido pelas importações de bebidas alcoólicas e cervejas estrangeiras, acrescenta Iuchi. Isso causou um sério impacto no setor de bebidas tradicionais do Japão. Há cerca de 40 anos, havia cerca de 4.000 fabricantes de saquê em todo o país, mas hoje esse número diminuiu para apenas 1.400 produtores.

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A história se repete com os fabricantes de cerveja do Japão, com o consumo per capita em 2022 sendo de 34,2 litros. Esse número fica muito atrás dos 188,5 litros consumidos em média pelos tchecos e dos 149 litros consumidos pelos alemães.

"Os fatores diferem de acordo com a categoria, mas o consumo vem caindo com a redução da  população e com uma mudança na consciência em relação ao álcool entre os jovens", conclui Russell Roll, gerente de comunicações corporativas da Kirin Holdings, uma das maiores cervejarias do Japão.

E, embora a principal cerveja da empresa, a Kirin Ichiban, esteja se saindo bem entre os consumidores, juntamente com a Kirin Hyoketsu, uma bebida de vodca com refrigerante e suco de limão em latas prontas para beber, Roll diz que é fundamental que a empresa aproveite sua popularidade atual local e busque novas oportunidades no exterior.

"A Kirin vê os mercados estrangeiros como sendo muito importantes como áreas de crescimento potencial", diz ele à DW. "Nosso negócio no exterior já está crescendo, com destaque para as vendas da cerveja Kirin Ichiban, mas Hyoketsu e a marca Fuji de uísque também têm crescido recentemente."

Os números do ministério das Finanças japonês mostram que o país exportou 776 milhões de euros em bebidas alcoólicas em 2023. E, embora esse total tenha caído apenas 3,4% em relação ao ano recorde anterior, foi muito maior do que em 2011, quando as exportações renderam apenas 98,16 milhões de euros ao setor. 

O uísque e o saquê saem na frente nas exportações

As maiores exportações foram de uísque, representando cerca de 37%, e de saquê, com 30% do total, embora ambas tenham caído cerca de 10% em relação ao ano anterior. A cerveja japonesa compensou a queda, com um aumento anual de mais de 66%, segundo os dados do ministério. Os licores representaram 9% das exportações e o gim e a vodca cerca de 3%.

A principal nação importadora foi a China, seguida pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura e Holanda, embora os analistas apontem que o aumento das exportações de cerveja para países da região Ásia-Pacífico tenha sido resultado de circunstâncias incomuns. 

As marcas de cerveja japonesas estavam bem posicionadas para tirar proveito quando as vendas da marca chinesa Tsingtao sofreram uma redução drástica em dezembro de 2023, depois que imagens foram compartilhadas nas mídias sociais de um homem urinando em um tanque de malte em uma cervejaria da Tsingtao na província de Shandong. A empresa perdeu 567,74 milhões de euros em um único dia na Bolsa de Valores de Xangai depois que o vídeo veio à tona.

E, embora o preço das ações tenha se recuperado em grande parte, muitos ainda olham a marca com cautela.

As bebidas alcoólicas japonesas também se beneficiaram de uma recuperação da demanda na Coreia do Sul, onde os consumidores lançaram um amplo boicote aos produtos japoneses em 2019, enquanto os dois governos discutiam sobre o legado de sua história compartilhada, muitas vezes conturbada.

Cerveja japonesa se fortalece na Coreia do Sul

Dados do governo sul-coreano mostram que a cerveja japonesa foi a cerveja importada mais popular em 2018, mas as vendas despencaram após o boicote. Em 2023, no entanto, as importações aumentaram 283% em relação ao ano anterior, à medida que as relações bilaterais melhoraram.

Hiromi Iuchi informa que o saquê é atualmente exportado principalmente para a China, para os EUA e Hong Kong, mas ela pretende expandir para outros mercados, como Cingapura, Austrália, Brasil e México, e também aumentar os 6% das exportações que atualmente vão para a Europa.

"Muito disso é educação. Trata-se de explicar a cultura do saquê, fornecer às pessoas a história e explicar como ele funciona com a culinária europeia", acrescenta Iuchi.

"Mas estou muito otimista. Há alguns saquês e shochus muito, muito bons sendo produzidos no Japão e acredito que, se conseguirmos tornar o saquê popular e atraente para os consumidores estrangeiros, isso será percebido pelos japoneses e eles começarão a beber saquê novamente."