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Com novo ministro, Itamaraty luta para resgatar prestígio

Fernando Caulyt9 de janeiro de 2015

Missão é difícil: além de a presidente demonstrar pouco interesse pela política externa, ministério sofre com orçamento reduzido e crescente insatisfação do corpo diplomático.

Foto: REUTERS/U. Marcelino

Ao tomar posse, o novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, defendeu um ministério mais atuante e uma "diplomacia de resultados", principalmente no momento em que a economia brasileira não vai bem. Mas, para especialistas, também ele terá dificuldades para aumentar a atenção da presidente Dilma Rousseff à política externa.

Após exercer grande influência nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o Itamaraty perdeu prestígio e orçamento nos quatro primeiros anos de Dilma no Palácio do Planalto. Em dez anos, o orçamento destinado à pasta caiu de cerca de 0,5% para 0,28% do total disponível para o Poder Executivo.

"O Itamaraty vive um dos seus momentos de maior desprestígio. Seu orçamento tem sofrido cortes profundos, e os ministros anteriores eram tolhidos, com frequência, de participar ou se posicionar em alguns dos fóruns multilaterais mais importantes", opina o cientista político Leonardo Paz, do Ibmec-RJ. "A impressão que fica é que o governo não vê necessidade de se desgastar com 'protagonismo' externo."

O novo chanceler tem muita experiência – era embaixador em Washington desde 2010 e, antes, comandou a embaixada em Buenos Aires por seis anos. Ainda assim, Paz afirma que é difícil prever que grau de liberdade Dilma dará ao novo ministro. "Mas, dada a composição dos ministérios, não vejo como o Itamaraty ganhará muito espaço."

Também Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia, diz que não há grandes sinais de mudança na política externa brasileira ou de maior relevância do Itamaraty no segundo mandato de Dilma.

Para ele, Vieira precisa "mudar o referencial" na diplomacia brasileira. "O Brasil se centrou nas relações Sul-Sul, na proliferação de fóruns regionais de baixa importância econômica e num apego pouco pragmático ao multilateralismo", explica Troyjo. "Em termos de política externa, o Brasil precisa apertar o botão 'reiniciar'."

Além do orçamento reduzido, da falta de prestígio do ministério junto à presidente, e da redução da visibilidade do Brasil no exterior, o novo chanceler ainda enfrenta a insatisfação de muitos diplomatas e funcionários do Itamaraty. Em outubro do ano passado, a pasta chegou a atrasar o aluguel de cinco postos no exterior, e funcionários não receberam, por três meses, o auxílio-moradia.

Dilma viaja menos ao exterior e dá menos importância à política externa que seus antecessoresFoto: Reuters/Sergio Moraes

Menos viagens que antecessores

Para especialistas, Dilma dá menos atenção à política externa em comparação a seus antecessores Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Um parâmetro é o número de viagens realizadas nos três primeiros anos do mandato de cada presidente.

Enquanto Cardoso ficou 135 dias no exterior e visitou 26 países, Lula viajou por 182 dias e visitou 49 países. Por sua vez, Dilma foi a 31 países e ficou 113 dias fora do Brasil, dando preferência à América do Sul (20 viagens), Europa (13) e África (7). Só o ex-presidente Lula (de 2003 a 2010) abriu 72 novas embaixadas, consulados e representações no exterior, de acordo com dados do Itamaraty.

"Com os cortes no orçamento do Itamaraty, há representações com staff mínimo. Definitivamente a atual política se distanciou muito da orientação do período Lula. É verdade que a conjuntura era muito diferente", diz Paz. "Acredito que houve exagero nos dois lados. Um [Lula] para mais, outro [Dilma] para menos."

Para o ex-embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o novo chanceler terá também grandes desafios em capacitar e dar uma linha de trabalho para grande parte das representações abertas no exterior nos últimos anos, que foram criadas para ajudar o Brasil a se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

"[Em muitos postos] não há um plano coerente de trabalho, e esse é um desafio que ele terá que enfrentar", afirma Castro Neves, que já foi embaixador do Brasil no Paraguai, na China, no Japão e na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington. "O primeiro desafio é habilitar o Itamaraty para desempenhar a sua função. E isso vai depender de Dilma e da prioridade que o governo e a sociedade brasileira atribuírem para a política externa."

Viés econômico

Em seu discurso realizado na sexta-feira (02/01), Vieira destacou como prioridade alavancar o comércio exterior e trazer investimentos para o país, no momento em que a nova equipe econômica sinaliza austeridade econômica e baixo crescimento nos primeiros anos do segundo mandato de Dilma.

"O segundo mandato vai ser para abrir, ampliar ou consolidar o acesso a todos os mercados do mundo. Redobraremos os esforços na área do comércio internacional, buscando desenvolver ou aprimorar as relações com os mercados externos – todos os mercados externos", disse o chanceler. Outra prioridade é a reforma do Conselho de Segurança da ONU.

Para Troyjo, o esfriamento do mercado interno brasileiro pode ser considerado uma "benção disfarçada" à política externa, pois o cenário macroeconômico difícil convida o país a dar uma maior ênfase na promoção do comércio exterior. Para ele, as circunstâncias, aliadas à competência e visão do novo chanceler, podem auxiliar na execução de uma política externa mais interdependente.

"Tirar o Itamaraty da atual condição coadjuvante é importante, mas nosso êxito internacional só pode se dar com um modelo de 'governança estratégica' que responda de forma estruturada à nova trama global", diz Troyjo. "Isso tem que ser um compromisso de Estado, e não uma variável das predileções do presidente da República e de constrangimentos orçamentários de curto prazo."

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