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Com novo premiê, Hollande tenta salvar governo impopular

Christoph Ricking (av)1 de abril de 2014

Socialista da ala mais à direita, Valls se destaca como homem de palavras fortes e ação decidida em gabinete marcado pela debilidade e indefinição. Apoio popular é grande, assim como a resistência da esquerda do partido.

Foto: MIGUEL MEDINA/AFP/Getty Images

O novo primeiro-ministro da França, Manuel Valls, chega com a tarefa de salvar a presidência de François Hollande, que até o momento enfrenta índice de reprovação recorde. O ex-ministro do Interior de 51 anos, que sucede a Jean-Marc Ayrault, tem fama de ser diligente, ambicioso e de saber se impor.

"Hollande escolheu um político bem cabeça-dura", diz Henrik Uterwedde, cientista político no Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg. "Mas ele é um dos poucos que ainda têm algum tipo de crédito entre a população francesa." Valls é, além disso, o ministro mais popular de um gabinete bastante malquisto entre os franceses.

A carreira de Manuel Carlos Valls Galfetti começou cedo. Aos 17 anos, o filho de imigrantes espanhóis entrou para o Partido Socialista (PS), ligando-se à "Segunda Esquerda", movimento que sustenta ideias social-democráticas e tem Michel Rocard como mentor.

Hollande tenta salvar governo impopular

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Após o serviço militar e o estudo de história na Universidade de Sorbonne, Valls ascendeu rapidamente no PS. Na década de 1990, foi porta-voz do então premiê Lionel Jospin. Em 2001 elegeu-se prefeito da localidade de Évry, próxima de Paris; no ano seguinte tornou-se deputado da Assembleia Nacional.

Em 2009, concorreu dentro do partido para ser o candidato socialista às eleições presidenciais de 2012. Embora perdendo, chamou a atenção para si e, na função de porta-voz da campanha de François Hollande, contribuiu decisivamente para a vitória do hoje presidente, sendo posteriormente premiado com a pasta do Interior.

Homem de ação

Os franceses veem em Valls um político enérgico e de ação – ao contrário de Ayrault, seu antecessor na chefia do governo, repetidamente acusado de hesitação e falta de planejamento.

Como ministro, Valls conquistou uma reputação de "homem da lei e da ordem". Com suas aparições em público, em situações de catástrofe ou durante ações policiais, logo conquistou os corações dos franceses. No tradicionalmente conservador Ministério do Interior, também ganhou boa reputação por seu curso linha dura contra os imigrantes ilegais.

Governo Hollande sob o signo da indefiniçãoFoto: Reuters

Ao mesmo tempo, Valls fez adversários entre os esquerdistas. Suas observações ofensivas contra os ciganos levaram organizações de direitos humanos a acusá-lo de incitação popular, e a União Europeia o repreendeu. Entre a maioria da população, porém, suas declarações foram bem recebidas.

"Ele é um político muito ambicioso, muito enérgico, que não teme falar claramente e que nem sempre se expressa de forma politicamente correta. E, muitas vezes, tem suscitado rachas dentro do partido", relata Uterwedde.

Eletrochoque para os socialistas

Enquanto representante da ala mais à direita do Partido Socialista, Manuel Valls tem gerado polêmica. Para ele, não têm futuro as conquistas trabalhistas da esquerda como a jornada semanal de 35 horas ou a aposentadoria aos 60 anos. Se dependesse dele, se eliminaria o conceito "socialista" do nome e do programa do partido.

Jean-Marc Ayrault (e) e seu sucessor, Manuel Valls (d)Foto: Reuters

Entretanto, apesar da oposição intrapartidária, Henrik Uterwedde considera acertada a nomeação de Valls como primeiro-ministro. "Na situação desastrosa em que se encontra Hollande e seu partido, é preciso uma espécie de eletrochoque."

Valls será chefe de governo de uma França em crise, em que a taxa de desemprego ultrapassa os 10% e o endividamento estatal supera 90% do PIB. O novo premiê precisará dar vida e forma ao "pacto de responsabilidade", o qual – anunciado por Hollande e malvisto pela esquerda – prevê benefícios fiscais para as empresas em troca da criação de empregos.

Valls terá também que avançar no desbaste das dívidas do Estado. E tanto seu partido quanto a opinião pública esperam a solução mais social possível de todos os problemas. Uma missão nada fácil, segundo Uterwedde.

"Desse ponto de vista, é preciso aqui um político robusto, que não tema enfrentar críticas e oposição. Pois esse curso é altamente controvertido entre os eleitores de esquerda e entre a ala esquerdista do partido", diz o cientista político. Justamente por isso, afirma, é preciso um premiê perseverante, que leve o projeto até o fim.

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