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Efeitos da crise

29 de dezembro de 2010

A crise consome Portugal, e o governo aperta o cinto das finanças. Com as medidas austeras, o Banco de Alimentos passou a ser mais acessado pelos portugueses.

Banco de Alimentos em LisboaFoto: DW

Na filial de Lisboa do Banco de Alimentos contra a Fome, o trabalho é intenso: voluntários empilham pacotes de arroz, macarrão e latas de conservas. Fora do prédio, carros e caminhões são carregados. Tudo é meticulosamente registrado: as caixas de arroz e batatas para a Cruz Vermelha, latas de atum e legumes para a Cáritas, por exemplo.

O Banco de Alimentos não é uma instituição bancária convencional. Em vez de emprestar dinheiro, o banco distribui gêneros alimentícios, explica Isabel Jonet, fundadora e diretora. A entidade recolhe produtos que sobram nas indústrias do setor, na agricultura e supermercados, e que seriam destruídos por razões comerciais.

"Esses alimentos não são distribuídos por nós diretamente aos necessitados, mas vão para as organizações que trabalham e ajudam nos próprios locais", explica Jonet. Conservas com a data de vencimento próxima, pacotes de batatas fritas que agora são vendidas em embalagens diferentes, saladas que não encontraram compradores nos supermercados – esses produtos chegam primeiro ao Banco de Alimentos, e depois seguem para as entidades sociais.

Isabel Jonet, fundadora e diretora da entidadeFoto: DW

Efeito crise

Desde que a crise financeira em Portugal se agravou, os voluntários do Banco de Alimentos quase não conseguem mais dar conta do trabalho. Cada vez mais pessoas estão passando fome, diz Isabel Jonet. "Existem 18 bancos de alimentos em Portugal, que abastecem 1.830 organizações. Essas entidades, por sua vez, garantem ao menos uma refeição quente por dia para 280 mil pessoas."

Para muitos, as condições em Portugal estão cada vez mais precárias. Cerca de um milhão de aposentados portugueses sobrevivem com menos de 300 euros por mês, sendo que a média de salários no país é de 800 euros. E o número de desempregados disparou. Como Portugal precisa economizar, os já escassos serviços sociais sofrem ainda mais deterioração.

O sociólogo José Maria Castro Caldas explica que "os custos da crise são divididos de forma muito desigual e afetam, sobretudo, os desempregados. Eles correspondem a 10% da população, pelo menos. E se o dinheiro do seguro desemprego diminuir, cerca de 600 mil portugueses não terão mais segurança social".

O aumento dos impostos e o desemprego também afetam duramente a classe média portuguesa. Cada vez mais professores, bancários e advogados são jogados para abaixo da linha da pobreza, afirma Isabel Jonet. "Muitos membros da classe média perderam seus empregos e se encontram numa situação de desespero. Eles também não vêem chance de encontrar outro trabalho", comenta. Segundo ela, professores, médicos e docentes se encontram em dificuldades financeiras e pedem ajuda ao Banco de Alimentos.

Carga e descarga de alimentos: mais trabalhoFoto: DW

Vai ficar pior

Especialistas das áreas econômica e política concordam: a situação portuguesa deve piorar no futuro próximo. Por isso, o número de portugueses que deixa o país é cada vez maior, como aconteceu na década de 1960, embora ainda não haja números precisos.

Desta vez, são os jovens que investem na imigração, pois não encontram emprego no país. Como Margarida Paes, casada, que pensa seriamente em emigrar. "Se eu ou o meu marido recebermos uma boa proposta, certamente iríamos embora."

Margarida trabalha como freelancer num escritório de advocacia e ganha 500 euros por mês, sem qualquer seguro social ou de aposentadoria. Seu marido ganha cerca de mil euros. É difícil para o casal, que tem dois filhos, sobreviver nessas condições. Quando o salário não é suficiente, eles contam apenas com a ajuda da família.

Até mesmo o salário-família foi cortado pelo ministério de Finanças. E isso aconteceu porque, seguindo as orientações da União Europeia a Portugal, o país precisa economizar porque tempos mais difíceis virão.

Autor: Jochen Faget (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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