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Com pandemia, PIB cai 1,5% e volta a patamar de 2012

29 de maio de 2020

Economia brasileira tem maior recuo trimestral desde 2015, e projeções pioram cenário da década perdida. Setor de serviços, que responde por dois terços do PIB e dos empregos, apresenta pior retração desde 2008.

Funcionário trabalha em fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais
Governo prevê queda de 4,7% no PIB em 2020; entidades internacionais falam em recuo de mais de 5%Foto: picture-alliance/dpa

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 1,5% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com os últimos três meses de 2019, segundo divulgou o IBGE nesta sexta-feira (29/05), apresentando já um impacto da paralisação de parte da economia a partir de meados de março, diante da pandemia de covid-19.

É a maior queda trimestral desde 2015, quando houve recuo de 2,1% no segundo trimestre. Com isso, interrompe-se uma sequência de quatro altas, e o PIB volta a patamar semelhante ao registrado em 2012. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a economia recuou 0,3%. A queda já estava dentro do esperado em sondagens do mercado.

Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves Lima, a retração só não foi maior porque houve um efeito pontual de aumento de investimento, em razão da importação de plataformas de petróleo. "Mas, claramente, esse efeito já não virá no segundo trimestre", disse à DW Brasil. A expectativa do Fator é que o PIB recue 7,4% em 2020, e 2,5% em 2021.

Os serviços, setor mais afetado pelas medidas de isolamento e que responde por dois terços do PIB e dos empregos do país, caíram 1,6% de janeiro a março ante os três meses anteriores. A indústria também caiu, 1,4%. Somente a agropecuária teve avanço, de 0,6%. Pela ótica da despesa, a pandemia impactou negativamente o consumo das famílias, que teve queda de 2%.

Pandemia piora cenário da década perdida

Apesar de outros países também terem registrado quedas importantes no PIB do primeiro trimestre – com destaque para a China, com um recuo de 9,8%, com a ressalva de que parou sua economia muito antes –, o caso do Brasil torna-se mais dramático por vir de três anos de uma recuperação lenta, que não havia sido capaz de repor a riqueza perdida na última crise.

Soma-se a isso a crise política vivida no país, que tende a deixar mais nebuloso o cenário de retomada, já que se torna mais difícil atrair investimentos em um contexto instável.

"Para você ter uma ideia, se neste ano o PIB cair 5,4% [conforme projeção], nos últimos sete anos seria uma queda média de 1,2%. Há sete anos, é como se andássemos para trás todo ano", diz o economista Marcel Balassiano, da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV)

De acordo com uma análise do economista, 64% dos 190 países que o Fundo Monetário Internacional (FMI) acompanha terão desempenho melhor que o Brasil em 2020 e, na média, no biênio 2020/2021, em torno de 80% dos países terão desempenho melhor, indicando uma dificuldade maior da retomada.

Segundo Balassiano, mesmo sem a pandemia, com a recessão e a recuperação lenta, agravadas ainda pela crise política, o país já teria uma década perdida. "Se o Brasil crescesse 2% neste ano, a média de aumento anual do PIB entre 2011 e 2020 seria de 0,8%, a pior da história", afirmou à DW Brasil.

Na década de 1980, que foi dramática para a economia brasileira, o aumento anual foi de 1,6%. Agora, considerando a projeção do Ibre de encolhimento de 5,4% da economia em 2020, o país terá crescimento médio de 0%, ou seja, estagnação.

Segundo a Economist Intelligence Unit, que analisou um grupo de 19 países, o Brasil deve ser a economia mais afetada pela pandemia. A consultoria comparou as perspectivas de crescimento do PIB desses países antes e após a pandemia, e o Brasil é o que tem a maior disparidade: antes, esperava-se crescimento de 2,4% em 2020, agora a estimativa é de queda de 5,5%.

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