Juramento marca transição do sistema parlamentarista para o presidencialista, tornando o presidente o líder mais poderoso da história moderna do país. Em discurso, ele se compromete a impulsionar a defesa e a economia.
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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tomou posse nesta segunda-feira (09/07) para iniciar seu segundo mandato no cargo, marcando oficialmente a transição de um sistema parlamentarista para o presidencialista no país, com os poderes concentrados nas mãos do chefe de Estado.
"Nós, como Turquia e como povo turco, estamos construindo um novo começo aqui e agora", afirmou Erdogan em cerimônia no Parlamento. "Estamos deixando para trás um sistema que, no passado, custou ao nosso país um preço alto em caos político e econômico."
Segundo o presidente, seu governo usará a oportunidade de comandar com plenos poderes – como dita o sistema presidencialista – "da melhor forma possível", a fim de erguer um "Parlamento forte, um governo forte e uma Turquia forte".
Ele defendeu que o novo sistema é vital para impulsionar o crescimento econômico, garantir a segurança após a tentativa de golpe militar em julho de 2016 e proteger a Turquia do conflito ao longo de sua fronteira sul, na Síria e no Iraque. Ele também prometeu estabelecer uma poderosa indústria de defesa.
Erdogan se comprometeu ainda a suspender o estado de emergência em vigor no país desde o golpe fracassado há dois anos, que levou a uma perseguição em grande escala na Turquia, incluindo a demissão de cerca de 150 mil funcionários públicos e a prisão de 50 mil pessoas.
Neste domingo, véspera da posse e antes da suspensão do estado de emergência, o governo publicou um decreto demitindo outros 18 mil funcionários públicos, incluindo milhares de agentes policiais. Críticos acusam o governo de usar a tentativa de golpe como desculpa para reprimir a oposição.
Na tentativa de suprimir essas críticas, o presidente prometeu que, em seu novo mandato, "a Turquia irá muito além em termos de liberdade, direitos, fundamentos democráticos e investimento econômico". "Estamos aqui não para ser mestres, mas servos do nosso povo", afirmou.
Após vencer as eleições presidenciais por uma pequena maioria no fim de junho, Erdogan assume agora um novo mandato de cinco anos. O juramento no Parlamento foi seguido por uma cerimônia no palácio presidencial atendida por dezenas de líderes internacionais – entre eles o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, segundo a agência de notícias estatal Anadolu.
Erdogan governa a Turquia desde 2003 à frente do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do qual é fundador e presidente. Ele assumiu a presidência do país em 2014, após dez anos como primeiro-ministro – cargo que foi abolido com o novo sistema presidencialista.
Polarizador, o político de 64 anos é o líder mais popular da história moderna da Turquia. Sua figura é idolatrada por milhões de turcos, sobretudo a ala muçulmana mais conservadora, que atribui a ele os anos de crescimento econômico.
Mas, para a oposição e seus críticos, Erdogan é também o responsável por destruir a independência dos tribunais, corroer a liberdade da imprensa e o respeito aos direitos humanos no país.
O sistema presidencialista, que dá plenos poderes executivos ao chefe de Estado, foi aprovado pelos turcos em referendo em abril do ano passado, após ampla campanha de Erdogan.
Com sua oficialização nesta segunda-feira, abre-se uma nova era no país: uma poderosa presidência executiva, com a prerrogativa de emitir decretos para regular ministérios – que foram reduzidos de 26 para 16 – e nomear ou remover funcionários públicos de alto escalão, tudo isso sem aprovação parlamentar.
Além do poder exclusivo sobre o Executivo, ele também vai controlar o aparato jurídico, através de sua autoridade para determinar os membros mais importantes do próprio Judiciário.
Apesar da crise de relacionamento, Europa e Turquia têm muito em comum. Istambul, por exemplo: a metrópole de 15 milhões de habitantes não é apenas geograficamente parte da Europa. Uma viagem pela cidade dos contrastes.
Foto: Rena Effendi
Para além das categorias convencionais
Istambul é a única cidade do mundo localizada em dois continentes: Europa e Ásia. Na metrópole do Bósforo, tradição e modernidade, religião e estilo de vida secular colidem como em nenhum outro lugar. Muitos dizem que exatamente isso faz a magia da cidade.
Foto: Rena Effendi
Quase 3 milênios de existência
Uma história de mais de 2.600 anos molda a paisagem urbana da Istambul de hoje. Diversos líderes se alternaram na luta pelo poder: persas, gregos, romanos, otomanos. "Constantinopla" era o centro do Império Bizantino e posteriormente do Império Otomano. Só em 1930 a cidade foi batizada "Istambul".
Foto: Rena Effendi
Entre mundos
O Bósforo é a alma azul de Istambul. O estreito separa a parte europeia da parte asiática da cidade. Todos os dias, balsas levam dezenas de milhares de um lado para o outro. Gaivotas gritam ao vento. A bordo, há chá e "simit" (anéis de gergelim). A travessia leva cerca de 20 minutos, de Karaköy, na Europa, para Kadiköy, na Ásia.
Foto: Rena Effendi
Pontes conectam
A partir da ponte Galata, é possível observar bem os navios – e outras coisas mais. Aqui, pescadores se apinham na esperança de uma boa pesca. Entre eles: comerciantes, turistas, engraxates, vendedores de milho. A primeira ponte foi construída aqui em 1845 – quando Istambul ainda se chamava Constantinopla.
Foto: Rena Effendi
"Europa é um sentimento"
"Meu nome é Vefki", diz um dos pescadores, acenando. "Eu me sinto europeu. Queremos mais liberdade, e por isso a Turquia e a UE devem se aproximar." Vefki é aposentado e a pesca é seu hobby, mas também uma renda extra. Por dois quilos de peixe, ele consegue no mercado o equivalente a cerca de oito euros.
Foto: Rena Effendi
Minaretes no coração da cidade
Na Praça Taksim, no coração da cidade, zunem máquinas de construção. Aqui, uma nova mesquita é erguida a alta velocidade, com uma cúpula de 30 metros de altura e dois minaretes. Tudo deve estar pronto até as eleições de 2019. Críticos acusam o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de impor uma nova identidade à praça: islâmico-conservadora e neo-otomana, ao invés de secular e europeia.
Foto: Rena Effendi
Europeia e devota
O tom é mais conservador no bairro de Fatih, apesar de ele se situar na parte europeia de Istambul. Muitos que vivem aqui imigraram da Anatólia, procurando trabalho e uma vida melhor. Alguns também chamam Fatih de "bairro dos devotos": aqui são muitos os adeptos fiéis do presidente turco e de seu partido conservador-islâmico AKP.
Foto: Rena Effendi
Compras à sombra da mesquita
Quarta-feira é dia de mercado em torno da mesquita de Fatih. Tem empurra-empurra e regateio por eletrodomésticos, roupas, lençóis, frutas e legumes. Os preços são mais baixos do que em outros lugares, assim como os aluguéis. Atualmente muitas famílias sírias vivem em Fatih. Desde o início da guerra, em 2011, a Turquia recebeu mais de 3 milhões de refugiados – mais do que qualquer outro país.
Foto: Rena Effendi
"Pequena Síria" no coração de Istambul
Fatih é agora conhecida por seus restaurantes sírios: O kebab daqui vem com alho extra. "Misafir" (hóspedes) é como os refugiados são oficialmente chamados na Turquia. O status de asilo vigente na UE não existe aqui. Mas o governo prometeu cidadania turca para dezenas de milhares de sírios. Críticos veem nisso uma tentativa de angariar votos adicionais.
Foto: Rena Effendi
Vida noturna em "Hipstambul"
Quem quiser sair, fazer festa, beber álcool, tem que procurar outros bairros de Istambul. Por exemplo Kadiköy, do lado asiático. Ou vir aqui para Karaköy, um dos bairros mais antigos, mas hoje extremamente encarecido. Moradores e turistas se encontram em cafés, lojas conceituais e galerias. A política islâmica conservadora do governo não encontra muitos entusiastas por aqui.
Foto: Rena Effendi
Esperança no turismo
"Istambul mudou muito", diz Ayşegül Saraçoğlu. Ela trabalha numa loja de grife no bairro turístico de Galata. "Há alguns ano,s muitos europeus vinham para cá de férias", agora são principalmente turistas árabes. "Isso é ruim para o nosso negócio", reclama, "espero que mude em breve".