Com tanques de Israel em Gaza, conflito entra em nova fase
27 de outubro de 2023
Incursão "preparatória" em território palestino controlado pelo Hamas durou poucas horas. Em Bruxelas, líderes da União Europeia pedem "corredor humanitário" e "pausas" nos bombardeios.
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Anunciada por Israel como preparativo para uma iminente invasão da Faixa de Gaza, a incursão de tanques israelenses vista nesta quinta-feira (26/10) no território palestino inaugura uma nova fase da guerra que o país trava contra o grupo radical islâmico Hamas desde os atos terroristas de 7 de outubro.
Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF), a ação no norte do enclave, deflagrada na madrugada, durou algumas horas e avançou cerca de um quilômetro fronteira adentro, investindo contra alvos do Hamas, que controla a região.
O objetivo, informaram os militares, era localizar sistemas de túneis e testar a capacidade de resposta do grupo. Ao menos um tanque israelense teria sido alvo de munição pesada durante a operação, mas sem registro de baixas.
"Eliminamos terroristas, neutralizamos ameaças, destruímos explosivos, neutralizamos emboscadas de modo a viabilizar as próximas etapas da guerra para as forças terrestres", anunciou um porta-voz da IDF.
Imagens divulgadas pela instituição mostram uma coluna de ao menos doze tanques de batalha e outros blindados avançando por uma parte aberta da fronteira e disparando contra uma área próxima repleta de prédios danificados.
UE pede criação de "corredor humanitário" e "pausas" temporárias nos bombardeios a Gaza
A operação veio após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assegurar que a ofensiva por terra estava sendo preparada, sem detalhar "quando ou como", e em meio a tratativas entre líderes da União Europeia para pedir a criação de um "corredor humanitário" e "pausas" temporárias nos bombardeios para viabilizar ajuda humanitária em Gaza.
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"O Conselho Europeu reitera a importância de assegurar a proteção de todos os civis em todos os momentos, em linha com o direito humanitário internacional, e rejeita todas as perdas civis", consta de um rascunho acordado pela UE na noite desta quinta durante uma reunião de cúpula em Bruxelas.
Segundo informações do Ministério da Saúde de Gaza – órgão controlado pelo Hamas –, o total de vítimas no lado palestino passa de 7.000, dos quais 2.913 crianças. Israel contesta os números, que não podem ser verificados de forma independente. Há temores de que o número de mortes possa aumentar em caso de uma invasão por terra.
Sitiada, Gaza encontra-se em uma "situação humanitária deteriorada", consta do texto da UE, que afirma que o bloco "irá trabalhar junto com parceiros na região para proteger civis, fornecer assistência e facilitar o acesso a alimentos, água, cuidados médicos, combustível e abrigo, assegurando-se de que essa assistência não seja explorada por organizações terroristas".
A declaração formal do bloco de 27 países, a ser emitida ao final da reunião que segue até esta sexta, deve mencionar ainda o apoio à autodefesa de Israel "conforme a lei internacional" e a uma conferência de paz sobre a solução de dois Estados.
Segundo o jornal britânico The Guardian, um diplomata europeu envolvido na redação do texto expressou preocupação de que uma eventual "pausa" nos bombardeios a Gaza pudesse permitir ao Hamas recompor as suas forças e executar um novo ataque, comprometendo o direito de Israel à autodefesa.
Mais de 1,4 milhão de deslocados no lado palestino, afirma ONU
A incursão-relâmpago em Gaza também ocorreu em paralelo a bombardeios da IDF contra o território, alguns em Khan Younis, ao sul do enclave.
Sob a justificativa de preservar a vida de civis em Gaza, as Forças Armadas israelenses haviam instruído a população a se deslocar para o sul, na fronteira com o Egito, mas sustentam que o Hamas tem seguidamente sabotado esses esforços e usado inocentes como escudo humano.
Classificado como organização terrorista por diversos países do Ocidente, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido e pela União Europeia, o Hamas também tem disparado milhares de foguetes contra Israel.
Os bombardeios israelenses contra Gaza, que já caminham para a terceira semana, são uma resposta aos ataques terroristas de 7 de outubro, quando integrantes do Hamas invadiram Israel e mataram 1.400 pessoas, a maioria civis, além de fazer outras centenas reféns.
Segundo dados mais recentes de Israel, seriam 224 – outros quatro foram liberados; o Hamas alega que 50 já teriam sido mortos por bombardeios israelenses – a IDF não comentou a declaração, e não é possível verificar as informações de forma independente.
Os confrontos deslocaram 1,4 milhão dos pouco mais de 2 milhões de moradores de Gaza, segundo as Nações Unidas, que afirmaram nesta quinta não haver lugar seguro no território. No lado israelense, segundo o Ministério de Defesa, 250 mil pessoas foram evacuadas de regiões próximas do enclave e da fronteira com o Líbano, também alvo de bombardeios.
A ONU alertou ainda para a piora da situação humanitária em Gaza com a falta de combustível na região, essencial para a operação de usinas de energia. Em resposta, as forças militares israelenses reagiram afirmando que o Hamas ainda teria estoques vultosos de diesel para apoiar civis em Gaza.
ra/rk (DW, AP, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.