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Com Threads, Meta mira na supremacia do Twitter

6 de julho de 2023

Aplicativo lançado por empresa de dono do Facebook quer atrair usuários da plataforma de Elon Musk. Recentes mudanças no Twitter podem impulsionar produto rival.

Tela do aplicativo Threads, da Meta, exibido em smartphone. Ao fundo, tela de computador com a página do perfil de Elon Musk no Twitter.
Novo aplicativo conseguirá "roubar" os usuários do Twitter?Foto: Mateusz Slodkowski/ZUMA Press/picture alliance

No final de junho, Elon Musk, proprietário do Twitter, e Mark Zuckerberg, dono da Meta, aceitaram se enfrentar numa numa luta. Quando ou mesmo se eles realmente vão entrar no ringue, ninguém sabe. O que é certo é que nesta quinta-feira (06/07) tem início outro duelo entre as plataformas digitais dos dois bilionários com o lançamento do aplicativo Threads, da Meta.

Através do Threads, que já pode ser baixado nas lojas de aplicativos fora da União Europeia (onde o aplicativo está suspenso por questões de leis de proteção de dados), os usuários poderão compartilhar opiniões, discutir, curtir e comentar posts — exatamente como acontece no Twitter.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, tem enfrentado obstáculos para lançar seu novo aplicativo na UEFoto: Kay Nietfel/dpa/picture alliance

O Twitter na corda bamba

Nos últimos meses, porém, o Twitter vem passando por dificuldades. Estima-se que a plataforma possa perder mais de 32 milhões de usuários no próximo ano, dos mais de 360 milhões em 2022. E as estimativas nem levam em consideração as últimas restrições impostas a usuários não verificados.

Para o especialista em mídias, Phillip Müller, de Mannheim, há muitas razões para os problemas da plataforma: "As declarações políticas de Musk, bem como a reativação simbólica da conta de Donald Trump, são alertas para muitos usuários e um motivo de decepção", avalia.

Isso sem contar com os cortes de custos promovidos por Musk, que afetaram escritórios da empresa no mundo todo. Entre as medidas impopulares, está a demissão de 80% da equipe do Twitter, desencadeando uma série de problemas com as principais funções do aplicativo.

O anúncio de outras mudanças também foi motivo de indignação, a exemplo da introdução de modelos de pagamento como o Twitter Blue e, mais recentemente, a decisão de limitar a apenas usuários verificados o uso do Tweetdeck — usado por muitos empresas e organizações noticiosas para monitorar a produção de conteúdo mais facilmente.

Alguns dias atrás, Musk também limitou o número de tuítes que podem ser lidos gratuitamente em 1.000 por dia e apenas 500 para novas contas. "Isso vai contra a ideia fundamental de uma plataforma de mídia social", disse Müller à DW.

Elon Musk, o homem mais rico do mundo, comprou o Twitter por US$ 44 bilhões em outubro de 2022Foto: Patrick Pleul/AP Photo/picture alliance

O Threads pode preencher uma lacuna no mercado?

Já existem várias alternativas ao Twitter, tais como Mastodon, T2, Bluesky e o notório Truth Social, de Trump. Essas plataformas, no entanto, têm lutado para construir uma ampla base de usuários.

O Mastodon, por exemplo, é uma rede social livre de publicidade e sem fins lucrativos, tornando-a pouco atraente para os anunciantes, explica o especialista de Mannheim. "O mercado carece de uma alternativa ao Twitter que seja grande e orientada para o comércio", diz Müller.

E é exatamente esse o trunfo do Threads. Ao se somar à grande família de aplicativos da Meta, que inclui Instagram, Facebook, Messenger e Whatsapp, a nova plataforma deverá usufruir de um amplo know-how construído pela empresa de tecnologia para atrair usuários.

A interface do Threads sugere funções semelhantes ao Instagram, além de adotar as mesmas cores da plataformaFoto: Instagram, Inc.

Além disso, a empresa se gaba de ter um caixa volumoso – ao contrário do Twitter, que enfrentava problemas financeiros antes mesmo de Musk assumir o comando, em outubro do ano passado.

O Threads deverá ainda alavancar a popularidade do Instagram, que conta com mais de 1 bilhão de usuários. Segundo a empresa, o login no Threads poderá ser feito através das próprias contas do Instagram, permitindo ainda a importação de toda a rede de seguidores do usuário.

Obstáculos para Mark Zuckerberg

No entanto, essa mesma vantagem também leva Müller a duvidar se o Instagram é o meio mais adequado para desafiar a hegemonia do Twitter. Em termos de conteúdo, afinal, as duas plataformas diferem muito entre si.

"No Instagram, há muita comunicação positiva e não tão política. O Twitter, por outro lado, é um meio para comunicação profissional. Dependendo da plataforma, é bem provável que as pessoas sigam contas muito diferentes", aponta Müller.

No passado, a Meta já havia tentado imitar plataformas populares, mas com resultados nem sempre positivos. Um aplicativo inclusive com o mesmo nome foi lançado no início de 2019. O antigo Threads permitia o compartilhamento privado de imagens, vídeos e mensagens nos moldes do Snapchat, mas a empreitada fracassou.

Já o Reels, formato de vídeo curto inspirado no sucesso do TikTok, tem sido um sucesso.

Mas ainda há alguns obstáculos regulatórios pela frente. O lançamento do Threads teve que ser adiado na UE devido a questões de privacidade e informações pessoais dos usuários. Em uma disputa com a Meta, o Tribunal Europeu de Justiça (ECJ) determinou nesta terça-feira que as autoridades antitruste dos Estados-membros da UE têm o direito de verificar se as empresas de tecnologia cumprem as regras de proteção de dados.

Por fim, uma questão ainda paira no ar: qual será a reação dos usuários? Na opinião do especialista digital alemão Dennis Horn, as pessoas são mais propensas a mudar de plataforma quando veem seus colegas fazendo o mesmo. Em última análise, o futuro do Twitter, portanto, deverá depender de quantos usuários migrarão para o Threads para discutir sobre política e sociedade.

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