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EsporteAustrália

Com visto cancelado, Djokovic fica retido na Austrália

6 de janeiro de 2022

Tenista número um do mundo recorre na Justiça após ser barrado por não comprovar vacinação. Premiê australiano diz que "ninguém está acima das regras". Presidente sérvio acusa "caça às bruxas".

Novak Djokovic
Tenista sérvio pretendia disputar o Aberto da Austrália sem apresentar comprovante de vacinaçãoFoto: Patrick Semansky/AP/dpa/picture alliance

O tenista Novak Djokovic teve sua entrada na Austrália negada na quarta-feira (05/01) por não fornecer "evidências adequadas para atender aos requisitos de entrada no país", comunicaram as autoridades australianas, acrescentando que o visto do número um do tênis foi "cancelado". O sérvio vinha se recusando a comprovar se foi vacinado contra o coronavírus.

A expectativa é que ele seja deportado. Advogados do tenista entraram com um pedido de liminar para impedir sua deportação. O atleta foi levado a um hotel que aloja pessoas que tiveram a entrada negada no país, onde aguarda a deliberação da Justiça sobre o recurso, prevista para ocorrer na segunda-feira.

Após o anúncio da decisão de barrar o tenista, o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, comentou no Twitter: "Regras são regras. Ninguém está acima das regras. Nossas rígidas políticas fronteiriças têm sido fundamentais para que a Austrália tenha uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo por covid-19. Continuamos vigilantes."

Depois de desembarcar nesta quarta, Djokovic chegou a passar mais de oito horas isolado numa sala do aeroporto Tullamarine, em Melbourne.

O pai do tenista, Srdjan Djokovic, acusou as autoridades australianas de manter o sérvio preso no aeroporto, sem contato com sua equipe ou acesso ao celular. "Esta não é apenas uma luta por Novak, mas uma luta mundial", disse ele em um comunicado.

O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, por sua vez, classificou nesta quinta-feira (06/01) de "infame" o tratamento dado a Djokovic na Austrália, afirmando que o esportista é vítima de uma "caça às bruxas" e de perseguição política. 

"Temo que esta perseguição política implacável contra Novak continue até que ele possa provar algo", disse. "Porque se você não pode derrotar alguém, você recorre a tais coisas", acrescentou o chefe de Estado, criticando as declarações do premiê australiano, Scott Morrison e acusando o governante de participar da "perseguição" contra Djokovic, "fingindo que as regras são válidas para todos".

A viagem de Djokovic para a Austrália tem sido motivo de controvérsia há semanas. O tenista viajou ao país para participar do Australian Open e buscar seu décimo título na competição.

O primeiro torneio do Grand Slam da nova temporada começa em 17 de janeiro em Melbourne, e apenas jogadores que são vacinados contra o coronavírus ou têm uma licença médica especial estão autorizados a participar.

Na terça-feira, o tenista de 34 anos finalmente anunciou que recebera uma isenção para jogar o torneio e afirmou que estava a caminho do país.

A federação de tênis australiana Tennis Australia e o governo do estado de Victoria, onde fica Melbourne, chegaram a afirmar que Djokovic foi apenas um de um "punhado" de candidatos bem-sucedidos entre as 26 pessoas que tentaram a isenção de vacinação, e que ele não recebeu nenhum tratamento especial no processo de inscrição anônima. 

O governo federal, responsável pelas fronteiras do país e pelos vistos, não tomou parte no processo de isenção.

As críticas não tardaram num país em que mais de 90% das pessoas com mais de 16 anos receberam duas doses de vacina contra a covid-19. O premiê australiano disse que Djokovic teria que apresentar provas de que não pode se vacinar contra a covid-19. "Se essa evidência for insuficiente, ele não será tratado de forma diferente de ninguém e estará no próximo avião para casa. Não deve haver regras especiais para Novak Djokovic. Nenhuma, de jeito algum", ressaltou Morrison na terça-feira

A jornalista Samantha Lewis escreveu no Twitter que era "uma obrigação patriótica" de todos os torcedores vaiar Djokovic durante todo o tempo em que ele estivesse no país.

Melbourne teve o lockdown mais longo do mundo para conter o coronavírus, e um surto da nova variante ômicron levou os números de casos a níveis recordes.

Ceticismo sobre pandemia e vacina

Djokovic havia dito antes que não tinha certeza se iria competir no torneio devido a preocupações com as regras de quarentena da Austrália.

"Nós entendemos completamente e temos empatia com as pessoas que estão chateadas com o fato de Novak vir, por causa de suas declarações nos últimos dois anos sobre a vacinação", disse Tiley a repórteres. "No entanto, em última análise, cabe a ele discutir com o público sua condição, se ele decidir fazer isso, e as razões pelas quais ele recebeu a isenção."

Desde o começo da pandemia da covid-19, o sérvio tem se mostrado cético sobre os riscos da doença e em relação à vacinação.

Em junho de 2020, ainda na primeira onda de covid-19 na Europa, o tenista ajudou a organizar um torneio exibição na Sérvia e na Croácia que provocou controvérsia por não incluir regras de distanciamento social ou uso obrigatório de máscaras. Ás vésperas de terminar, o evento foi suspenso por conta de um surto de casos de covid entre torcedores, treinadores e jogadores. Pouco depois, Djokovic e sua mulher também testaram positivo para o coronavírus.

jps/md/lf (Reuters, DW, ots)

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