Com visto cancelado, Djokovic fica retido na Austrália
6 de janeiro de 2022O tenista Novak Djokovic teve sua entrada na Austrália negada na quarta-feira (05/01) por não fornecer "evidências adequadas para atender aos requisitos de entrada no país", comunicaram as autoridades australianas, acrescentando que o visto do número um do tênis foi "cancelado". O sérvio vinha se recusando a comprovar se foi vacinado contra o coronavírus.
A expectativa é que ele seja deportado. Advogados do tenista entraram com um pedido de liminar para impedir sua deportação. O atleta foi levado a um hotel que aloja pessoas que tiveram a entrada negada no país, onde aguarda a deliberação da Justiça sobre o recurso, prevista para ocorrer na segunda-feira.
Após o anúncio da decisão de barrar o tenista, o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, comentou no Twitter: "Regras são regras. Ninguém está acima das regras. Nossas rígidas políticas fronteiriças têm sido fundamentais para que a Austrália tenha uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo por covid-19. Continuamos vigilantes."
Depois de desembarcar nesta quarta, Djokovic chegou a passar mais de oito horas isolado numa sala do aeroporto Tullamarine, em Melbourne.
O pai do tenista, Srdjan Djokovic, acusou as autoridades australianas de manter o sérvio preso no aeroporto, sem contato com sua equipe ou acesso ao celular. "Esta não é apenas uma luta por Novak, mas uma luta mundial", disse ele em um comunicado.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, por sua vez, classificou nesta quinta-feira (06/01) de "infame" o tratamento dado a Djokovic na Austrália, afirmando que o esportista é vítima de uma "caça às bruxas" e de perseguição política.
"Temo que esta perseguição política implacável contra Novak continue até que ele possa provar algo", disse. "Porque se você não pode derrotar alguém, você recorre a tais coisas", acrescentou o chefe de Estado, criticando as declarações do premiê australiano, Scott Morrison e acusando o governante de participar da "perseguição" contra Djokovic, "fingindo que as regras são válidas para todos".
A viagem de Djokovic para a Austrália tem sido motivo de controvérsia há semanas. O tenista viajou ao país para participar do Australian Open e buscar seu décimo título na competição.
O primeiro torneio do Grand Slam da nova temporada começa em 17 de janeiro em Melbourne, e apenas jogadores que são vacinados contra o coronavírus ou têm uma licença médica especial estão autorizados a participar.
Na terça-feira, o tenista de 34 anos finalmente anunciou que recebera uma isenção para jogar o torneio e afirmou que estava a caminho do país.
A federação de tênis australiana Tennis Australia e o governo do estado de Victoria, onde fica Melbourne, chegaram a afirmar que Djokovic foi apenas um de um "punhado" de candidatos bem-sucedidos entre as 26 pessoas que tentaram a isenção de vacinação, e que ele não recebeu nenhum tratamento especial no processo de inscrição anônima.
O governo federal, responsável pelas fronteiras do país e pelos vistos, não tomou parte no processo de isenção.
As críticas não tardaram num país em que mais de 90% das pessoas com mais de 16 anos receberam duas doses de vacina contra a covid-19. O premiê australiano disse que Djokovic teria que apresentar provas de que não pode se vacinar contra a covid-19. "Se essa evidência for insuficiente, ele não será tratado de forma diferente de ninguém e estará no próximo avião para casa. Não deve haver regras especiais para Novak Djokovic. Nenhuma, de jeito algum", ressaltou Morrison na terça-feira
A jornalista Samantha Lewis escreveu no Twitter que era "uma obrigação patriótica" de todos os torcedores vaiar Djokovic durante todo o tempo em que ele estivesse no país.
Melbourne teve o lockdown mais longo do mundo para conter o coronavírus, e um surto da nova variante ômicron levou os números de casos a níveis recordes.
Ceticismo sobre pandemia e vacina
Djokovic havia dito antes que não tinha certeza se iria competir no torneio devido a preocupações com as regras de quarentena da Austrália.
"Nós entendemos completamente e temos empatia com as pessoas que estão chateadas com o fato de Novak vir, por causa de suas declarações nos últimos dois anos sobre a vacinação", disse Tiley a repórteres. "No entanto, em última análise, cabe a ele discutir com o público sua condição, se ele decidir fazer isso, e as razões pelas quais ele recebeu a isenção."
Desde o começo da pandemia da covid-19, o sérvio tem se mostrado cético sobre os riscos da doença e em relação à vacinação.
Em junho de 2020, ainda na primeira onda de covid-19 na Europa, o tenista ajudou a organizar um torneio exibição na Sérvia e na Croácia que provocou controvérsia por não incluir regras de distanciamento social ou uso obrigatório de máscaras. Ás vésperas de terminar, o evento foi suspenso por conta de um surto de casos de covid entre torcedores, treinadores e jogadores. Pouco depois, Djokovic e sua mulher também testaram positivo para o coronavírus.
jps/md/lf (Reuters, DW, ots)