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"Combate à corrupção é coerente com minha vida pessoal"

Mariana Santos18 de março de 2015

Ao lançar pacote anticorrupção, presidente diz que seu governo "não varre casos para debaixo do tapete". Medidas preveem criminalização de caixa 2 e aplicação da Ficha Limpa para cargos de confiança.

Dilma Rousseff kündigt Maßnahmen gegen Korruption an
Foto: picture-alliance/dpa/Bizerra Jr

A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quarta-feira (18/03) um pacote de medidas com o objetivo de coibir atos de corrupção e combater a impunidade. Promessa eleitoral da petista, o pacote anticorrupção prevê a criminalização de caixa 2 e lavagem de dinheiro de campanhas eleitorais; a aplicação da Ficha Limpa para todos os cargos de confiança em todos os poderes; e a responsabilização criminal de agentes públicos que não comprovem a origem de seus bens.

O pacote contém ainda uma proposta de emenda à Constituição para permitir o confisco de bens oriundos de atividade criminosa, improbidade administrativa ou enriquecimento ilícito.

Ao anunciar as medidas, agora encaminhadas ao Congresso Nacional, Dilma saiu em defesa de seu governo e afirmou que seu compromisso com o combate à corrupção e à impunidade é coerente com sua vida pessoal, com sua prática política e com sua atuação como presidente.

"Todos os brasileiros, mesmo os que não votaram em mim, sabem que a corrupção no Brasil não foi inventada recentemente", afirmou a presidente durante cerimônia no Palácio do Planalto. "O que diferencia um país do outro e um governo do outro é o fato de que alguns países – e alguns governos – criam condições para que a corrupção seja prevenida, investigada e punida", disse.

Segundo Dilma, se as notícias sobre casos de corrupção aumentaram na mídia é porque esses casos "não são mais varridos para debaixo do tapete". E assim, disse a presidente, "a luz do sol os ilumina".

Pressão popular

Mencionado na esteira dos protestos de 2013 e prometido durante a campanha à reeleição no ano passado, o pacote anticorrupção é uma resposta às manifestações de insatisfação popular diante da crise econômica e do escândalo envolvendo a Petrobras. Uma onda de protestos contra o governo levou milhares de brasileiros às ruas no domingo passado, em várias cidades do país.

O governo pretende recuperar a credibilidade junto à população num momento em que Dilma atinge o nível mais alto de reprovação de um presidente desde a época do impeachment de Fernando Collor de Mello, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo instituto Datafolha. Três meses após o início do segundo mandato, somente 13% consideram a administração Dilma ótima ou boa, enquanto 62% a classificam como ruim ou péssima.

Durante seu discurso nesta quarta-feira, a presidente defendeu seu governo e enumerou algumas ações sob sua gestão que, segundo ela, mostram que o Executivo veio agindo ao longo dos últimos anos para combater a corrupção. Entre as ações citadas estão maior autonomia à Policia Federal e ao Ministério Público e a criação do Portal da Transparência.

Confira os principais pontos do pacote anticorrupção:

- Tipificação de caixa 2

Proposta enviada ao Congresso pretende tornar crime o ato de fraudar a fiscalização eleitoral. Pena de 3 a 6 anos de prisão.

"Lavagem eleitoral" também deve se tornar crime – ou seja, ocultar a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes de fontes de recursos vedadas pela legislação eleitoral. Pena de 3 a 10 anos de prisão.

Punições deverão ser estendidas aos doadores, com multa de 5 a 10 vezes sobre o valor doado e não declarado, proporcional aos crimes praticados.

Perda de propriedade ou posse de bens

Proposta de Emenda Constitucional pretende viabilizar o confisco dos bens que são frutos de atividade criminosa, improbidade e enriquecimento ilícito.

Já um projeto de lei quer permitir a extinção de posse e propriedade de bens procedentes de atividade criminosa e improbidade administrativa, ou de bens incompatíveis com a renda ou evolução do patrimônio.

- Alienação antecipada de bens apreendidos

Proposta de lei enviada com pedido de urgência para o Congresso pretende indisponibilizar bens sobre os quais haja provas ou indícios suficientes de serem produto ou proveito de crime.

- Ficha Limpa para servidores

Exige ficha limpa para todos os servidores do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

- Tipificação de enriquecimento ilícito

Tornar crime a posse, aquisição ou uso de bens incompatíveis com a renda ou a evolução patrimonial. Pena de 3 a 8 anos de prisão.

- Regulamentação da Lei Anticorrupção

Decreto presidencial regulamenta lei que incentiva a adoção de programas de integridade (compliance) por empresas privadas, ou seja, de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes que possam detectar desvios e irregularidades contra a administração pública.

Também estabelece o rito processual em caso de violações da Lei Anticorrupção, da Lei de Licitações, entre outras.

Regula sanções e multas por prática de atos contra a administração pública.

- Criação de um grupo de trabalho

Objetivo é avaliação de propostas para agilizar processos judiciais, procedimentos administrativos e demais procedimentos para apuração de casos relacionados à prática de ilícitos contra o patrimônio público.

Grupo integrado pelo Ministério da Justiça, Conselho Nacional de Justiça, Controladoria Geral da União, Conselho Nacional do Ministério Público, Advocacia-Geral da União, Ordem dos Advogados do Brasil, com possibilidade de convidar entidades ou pessoas do setor público e privado.

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