Combatentes belarussos pró-Kiev buscam refúgio na UE
9 de dezembro de 2024Viktor (nome alterado) se apresentou como voluntário para lutar contra a Rússia em 2022 e passou um ano no Exército ucraniano. Em seguida, foi para a Polônia, onde teve um ferimento tratado e pediu asilo, pois sua participação na guerra na Ucrânia poderia o submeter a um processo em seu país natal, Belarus.
Ex-gerente de uma empresa belarussa, ele pensava que encontraria rapidamente um emprego em uma empresa ucraniana na Polônia devido ao seu envolvimento na Ucrânia. No entanto, as agências de recrutamento o recusaram com o argumento de que ele é cidadão de Belarus. Elas também temiam que Viktor pudesse desenvolver transtorno de estresse pós-traumático ou provocar sentimentos de vergonha em seus colegas.
"Eles disseram que havia ucranianos na empresa que não tinham lutado e que, se me contratassem, eles se sentiriam envergonhados ou desconfortáveis na minha frente – em resumo, eles estavam preocupados com o ambiente na equipe", diz o ex-combatente.
Como Viktor ficou sem economias depois de apenas alguns meses, ele arrumou um emprego em uma oficina mecânica. Dois meses depois, recebeu uma oferta de emprego de sua antiga empresa belarussa para continuar trabalhando para ela na Polônia.
Segundo ele, nem todos os ex-combatentes conseguem se reintegrar à vida civil. Isso é particularmente difícil para os jovens veteranos que foram para a guerra sem nenhuma formação profissional.
"Eles pensam em trabalhar como entregadores de aplicativo ou operários da construção civil. Depois se perguntam desesperadamente pelo que lutaram: ficar sentado em uma bicicleta por 12 horas? É assim que a visão de mundo deles começa a mudar", diz Viktor. Ele conhece casos em que problemas psicológicos levaram à falta de moradia e até mesmo ao suicídio.
Sem direito de permanência na Ucrânia?
Anton (nome modificado) também já trabalhou em Belarus, como gerente. Ele se alistou nas Forças Armadas ucranianas no primeiro mês da guerra e passou dois anos na frente de batalha, onde sofreu ferimentos na cabeça, entre outros. Hoje, o jovem de 29 anos vive em Varsóvia e está esperando há nove meses por uma resposta para sua solicitação de asilo.
Ele deixou o Exército ucraniano porque perdeu a motivação, diz. Inicialmente, queria ficar na Ucrânia, mas não havia perspectiva de obter uma autorização de residência no país.
"Ouvi muitas histórias de meus amigos e percebi que não era realista conseguir um status legal. Até mesmo homens que têm esposas ucranianas foram recusados. Se funciona, provavelmente só funciona com corrupção. A guerra não é o melhor momento para a vida e o desenvolvimento. Mas ainda sou jovem", diz Anton, que ainda não encontrou um emprego fixo na Polônia.
Questão militar ou humanitária?
De acordo com Andrey Kushnyerov, da Associação de Voluntários Belarussos, a maioria dos belarussos não pôde permanecer na Ucrânia depois de deixar o Exército ucraniano, principalmente porque não atendiam aos requisitos para obter uma autorização de residência. Alguns deles tinham passaportes belarussos vencidos, mas não puderam solicitar novos passaportes. E a Ucrânia não emitiu nenhum documento para eles, explica Kushnyerov.
Por isso, muitos dos veteranos se mudam para um país da UE – geralmente para a Polônia, já que, segundo o Acordo de Dublin, esse é o primeiro país de entrada na União Europeia onde eles devem solicitar refúgio. A maioria dos que vão para a Lituânia são aqueles que viviam lá antes da guerra da Rússia contra a Ucrânia, explica o ativista e ex-voluntário belarusso Aleksandr Klotshko.
Ele acha que os veteranos deveriam receber mais apoio da sociedade civil belarussa. "Se um caso tem algo a ver com o Exército, muitas vezes há reservas quanto a lidar com ele", diz Klotshko e lamenta que essa atitude também afete os familiares de ex-combatentes. "Como pode a família de um voluntário belarusso morto ser vista como uma questão militar?", questiona o ativista, enfatizando que esse é um problema humanitário.
Falta de apoio financeiro
Os ex-voluntários belarussos na Ucrânia estão sendo ajudados pelo Centro de Reabilitação Lanka, fundado pela ativista belarussa Tatyana Gazuro-Yavorskaya. Não há nenhuma iniciativa comparável na UE, segundo Andrei Kushnyerov. "Precisamos de um programa sistemático de criação de empregos para centenas de pessoas, mas falta financiamento", lamenta.
Sua organização de veteranos foi criada por voluntários belarussos em 2023. De acordo com Kushnyerov, ela abrange até 200 combatentes, tanto antigos quanto ativos. A Associação de Voluntários Belarussos está registrada na Polônia, mas ainda não conseguiu obter apoio financeiro de outras organizações de veteranos na UE.
Entretanto, os ativistas encontraram psicólogos que trabalham como voluntários para cuidar dos veteranos belarussos e de suas famílias. Eles ajudam com aconselhamento e busca por emprego. Kushnyerov estima que cerca de 30% dos veteranos têm problemas para se integrar à vida civil. Na maioria dos casos, eles não conseguem encontrar trabalho porque não podem exercer sua antiga profissão devido às consequências da guerra e precisam fazer cursos profissionalizantes.
Responsabilidade da diáspora
Vadim Kabanshuk, opositor declarado do regime de Lukashenko e responsável por defesa e segurança nacional no gabinete exilado da líder da oposição belarussa Svetlana Tikhanovskaya, que vive na Lituânia, também vê a necessidade de ajudar os afetados. "Se dissermos que esses são nossos veteranos belarussos, então a diáspora também deve assumir a responsabilidade por eles, porque hoje eles estão defendendo a honra do povo belarusso aos olhos dos ucranianos", diz Kabanshuk.
De acordo com ele, há centenas de belarussos envolvidos. "Tivemos muitas reuniões com parlamentares, ativistas de direitos humanos e autoridades ucranianas. Foram aprovadas leis para facilitar a legalização, a obtenção de documentos e cidadania, assim como a obtenção de patentes de oficial para o serviço militar", diz Kabanshuk. Ele está se referindo a uma lei que entrou em vigor na Ucrânia em 24 de novembro "sobre a situação legal de estrangeiros e apátridas que participam da defesa da integridade territorial e da inviolabilidade da Ucrânia".
De acordo com essa lei, os não ucranianos que lutarem pela Ucrânia poderão obter uma autorização de residência, mesmo que seus passaportes estejam vencidos. Os russos e belarussos que obtiverem um passaporte ucraniano por esse caminho teriam que renunciar à sua cidadania original no prazo de um ano após o fim da lei marcial.