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Combates entre governo e separatistas forçam êxodo no leste da Ucrânia

Jeanette Seiffert (md)2 de junho de 2014

Governo ucraniano fala em operação antiterrorismo. Os russos, em guerra civil. Para a população no leste da Ucrânia, o nome tanto faz: a única opção de muitos é fugir da região.

Foto: picture-alliance/dpa

Passados alguns dias da eleição presidencial na Ucrânia, pouco resta da esperança de que a situação no leste do país melhorasse após o pleito. No centro da disputa está o reduto separatista Slaviansk, onde a chamada operação antiterrorismo do governo ucraniano está em pleno andamento. Policiais e unidades militares do governo enfrentam grupos separatistas fortemente armados, e cada vez mais pessoas fogem da cidade. O fotógrafo Petr Shelomovskiy é uma das testemunhas desse conflito. "Vejo muitas famílias com filhos que procuraram abrigo nos hotéis dos arredores, tentando escapar da zona de guerra", relata.

"São histórias perturbadoras, que ouvi nos resorts localizados fora da cidade", acrescenta o jornalista. "Moradores se escondem à noite nos porões porque suas casas são bombardeadas todas as noites. Nas cercanias de Slaviansk, há aldeias inteiras destruídas", afirma. Ele conta que alguém lhe informou que o filho de um amigo da família foi baleado por não ter parado num posto de controle. Não só aqueles que são contra os separatistas fogem da cidade. "Acabei de falar com uma família que é absolutamente pró-russa e que apoia os separatistas. Mas dizem que não podem mais ficar porque sua casa tem sido alvo de tiros", ressalta.

Posto de controle governista nos arredores de SlavianskFoto: Vasily Maximov/AFP/Getty Images

O que está ocorrendo no leste ucraniano é uma operação antiterrorista, como afirma o governo em Kiev, ou uma guerra civil, como alega o governo russo? Shelomovskiy comenta que, para a população, o nome não faz muita diferença. O fato é que há combates por toda a parte. "Especialmente as pessoas que vivem nas áreas de conflito desejam apenas que as batalhas acabem. Suas casas são arrasadas, seus parentes são mortos, suas vidas são destruídas. E muitos dos que até agora eram contra o novo governo em Kiev e que não queriam mais fazer parte da Ucrânia agora já não têm tanta certeza disso."

Duzentos dólares para pegar em armas

Para Shelomovskiy, o governo não pode mais simplesmente ignorar que cada vez mais homens armados atravessam a fronteira. Mas ele também não pode confirmar informações de que combatentes da Chechênia estariam em atividade no leste da Ucrânia. "Mas eu vejo que a maioria deles é composta de homens com grande experiência de combate. Podemos ver na cara deles que eles amam a guerra. E encontrei combatentes que vêm da Ossétia, ou seja, do Cáucaso do Norte."

Ele relata que homens são recrutados para combater ao lado dos separatistas. "Chegaram a me oferecer 200 dólares para que eu tomasse parte nos combates. Eles me disseram que eu receberia o dinheiro assim que segurasse uma arma."

Membros das forças separatistas detêm pessoas nos arredores da cidade de KramatorskFoto: picture-alliance/dpa

Mas o que o governo ucraniano pode fazer contra esses combatentes que chegam do exterior? A repórter Lidiya Huzhva acompanha a operação antiterrorista de Kiev na área de Donetsk. Ela se autodenomina uma "ativista", pois participou há alguns meses dos primeiros protestos na Praça da Independência. em Kiev. Na opinião dela, o que está acontecendo na Ucrânia também é uma guerra de informação. "Os meios de comunicação russos divulgam informações falsas de forma deliberada", aponta. Por isso, ela diz ver como sua tarefa mostrar o que acontece no local.

Desilusão em relação aos separatistas

Huzhva acompanha uma unidade de voluntários da polícia, que planeja suas operações a partir de um local nos arredores de Donetsk. "De vez em quando são realizadas, a partir de lá, operações em Donetsk, em que eles sequestram combatentes do lado oposto e atacam separatistas." Ela diz não saber se as tropas governistas terão sucesso, mas acredita que a intervenção com meios militares é uma opção certa. "É importante que as pessoas aqui tenham a impressão de que a Ucrânia está fazendo algo", ressalta.

Ela avalia que, a cada dia que passa, a população fica mais consciente de que os separatistas não vão proporcionar uma vida melhor. "Até agora eles acreditavam que sua situação não poderia piorar. Mas agora percebem que ela se tornou pior. Na autoproclamada República de Donetsk, criminosos dominam as ruas, e as pessoas começam a perceber que, em comparação com a situação que prevalece aqui agora, a vida como parte da Ucrânia não era tão ruim assim."

Do ponto de vista militar, a situação é outra. "As forças ucranianas estão muito mais mal armadas. Os separatistas constantemente recebem ajuda da Rússia, eles têm as armas mais modernas, e novos combatentes chegam ininterruptamente, vindos do outro lado da fronteira. A Ucrânia não tem capacidade alguma de conseguir enfrentar isso." Ela observa que faltam não só armas adequadas como também uma estrutura clara de liderança.

Situação fora de controle em Donetsk

Certo é que a situação em Donetsk também está cada vez mais fora de controle. Há cada vez mais combatentes armados na região. "Os habitantes foram proibidos de sair às ruas porque podem ser sequestrados ou baleados", relata Huzhva. E, também lá, cada vez mais pessoas deixam a cidade, a maioria segue em direção ao oeste da Ucrânia. "Todos aqueles que têm a chance de sair, para morar com membros da família em outros lugares, já se foram. Os que ainda permanecem em Donetsk são os que não têm para onde ir."

Militantes pró-russos ocupam o aeroporto de DonetskFoto: picture-alliance/dpa

Shelomovskiy tem opinião semelhante. "Tudo indica que a situação vai se agravar e que Donetsk se tornará uma nova Slaviansk", avalia. Agências humanitárias internacionais também temem que, nas próximas semanas, tenha início uma onda de refugiados no leste da Ucrânia, semelhante à que foi vista na Crimeia, de onde até agora 10 mil pessoas já fugiram, a maioria tártaros.

"No entanto, a maioria das pessoas que fugiu até agora das áreas de conflito o fez de forma temporária", afirma Shelomovskiy. "Muitos pais de família viajam todos os dias de volta a Sloviansk, para ver se tudo está em ordem em suas casas. Pelo menos por enquanto", relata o fotógrafo.

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