1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Comboios tentam furar bloqueio de Maduro

23 de fevereiro de 2019

Alguns veículos com ajuda humanitária foram incendiados ao tentar cruzar fronteira entre a Colômbia e a Venezuela. Regime chavista anuncia rompimento de relações diplomáticas com Bogotá.

Kolumbien Hilfslieferungen für Venezuela
O líder da oposicao Juan Gauidó ao lado de um caminhao com ajuda humanitária em Cúcuta, na Colômbia. Foto: Getty Images/AFP/G. Munoz

Protestos, confrontos, deserções de militares e tensão na fronteira da Venezuela com a Colômbia vem marcando o "Dia D” de distribuição de ajuda humanitária organizado pela oposição venezuelana e pelos adversários internacionais do regime de Nicolás Maduro.

Na tarde deste sábado (23/02), militares venezuelanos usaram gás lacrimogênio e balas de borracha na cidade fronteiriça de Ureña para dispersar centenas de pessoas que tentavam atravessar a divisa, que foi fechada na sexta-feira por ordem do regime chavista para bloquear a entrada de ajuda humanitária. Vários manifestantes reagiram e atiraram pedras nos militares.

O líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela em janeiro, se dirigiu à Colômbia, apesar de uma ordem do judiciário chavista que o proíbe de deixar o país. Em Cúcuta, do lado colombiano, Guaidó discursou ao lado do presidente Ivan Duque.

"Estamos recolhendo toneladas de ajuda humanitária, em uma ação que busca salvar vidas. É um chamado pacífico, mas firme, para garantir o avanço da ajuda humanitária até a Venezuela", disse Guaidó, que foi reconhecido como presidente da Venezuela por 50 países, entre eles Estados Unidos e Brasil.

Guaidó ainda fez um apelo para que os membros das Forças Armadas venezuelanas se juntem à oposição.

"O chamado é muito claro às Forças Armadas: bem-vindos ao lado correto da história. A anistia é um fato para todos esses militares que estiverem dispostos hoje a ajudar o povo venezuelano e resgatar a nossa Constituição", disse Guaidó.

No momento, o líder da oposição tenta organizar a passagem de um comboio de dez caminhões carregados com ajuda humanitária que tentam cruzar a ponte Simón Bolívar a partir de Cúcuta. O autoritário governo chavista não vem permitindo a entrada desse tipo de ajuda, apesar da grave crise econômica e social que atinge o país.

Pelo Twitter, Guaidó afirmou que os caminhões já atravessaram a linha da fronteira, mas que a passagem vem sendo bloqueada pelo "regime usurpador”.

Segundo a ONG World Central Kitchen, dois caminhões com ajuda foram incendiados enquanto tentavam cruzar a ponte Francisco de Paula Santander, outra estrutura que liga a Colômbia à Venezuela. 

A oposição acusou grupos paramilitares chavistas pelos incêndios. 

Mais cedo, o presidente da Colômbia afirmou que Maduro será responsabilizado caso haja qualquer episódio de violência na fronteira e pediu que a ajuda humanitária seja entregue em solo venezuelano.

"Exigimos que se permita a entrada dessa ajuda, de forma pacífica em território venezuelano", disse Duque. "Impedir que isso aconteça é um atentado aos direitos humanos e poderia constituir uma crise de lesa-humanidade", completou.

Tropas do regime e manifestantes se enfrentaram em Ureña, na fronteira da Venezuela com a ColômbiaFoto: AFP/J. Barreto

Ainda na fronteira entre Colômbia e Venezuela, o movimento de oposição a Maduro registrou algumas pequenas vitórias simbólicas, como a deserção de pelo menos 23 militares das tropas chavistas - entre eles um major - que abandonaram suas formações e se dirigiram para a Colômbia. Já em Cúcuta, o major venezuelano Hugo Parra Martinez disse que vai acompanhar "o povo venezuelano em sua luta” e que reconheceu Guaidó como presidente.

Em um dos episódios, quatro desertores que cruzaram uma das duas pontes que liga a Venezuela à Colômbia usaram um blindado de para romper barreiras que haviam sido instaladas na estrutura para bloquear a entrada de ajuda. 

Também neste sábado, Maduro organizou um comício de apoiadores do regime em Caracas. Em discurso, ele lançou acusações contra os Estados Unidos e anunciou o rompimento das relações exteriores da Venezuela com a Colômbia. "Eu decidi romper todas as relações políticas e diplomáticas com o governo fascista da Colômbia e todos os seus embaixadores e cônsules devem partir em 24 horas da Venezuela. Saia daqui, oligarquia!", afirmou Maduro.

Tensão na fronteira com o Brasil

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, que está fechada desde quinta-feira, também foram registrados incidentes após protestos. Segundo a imprensa brasileira, tropas chavistas dispararam gás lacrimogênio contra manifestantes na cidade de Santa Elena de Uairén, próximo de Pacaraima, em Roraima. 

 Assim como a Colômbia, o governo brasileiro também organizou na fronteira um ponto de distribuição de ajuda humanitária.

Neste sábado, dois caminhões com ajuda se dirigiram até Pacaraima. Mais cedo, Guaidó chegou afirmar que um veículo havia conseguido atravessar a fronteira sem incidentes, mas relatos de jornalistas que estão no local apontam que o caminhão atravessou a linha de demarcação, mas ainda não superou o bloqueio militar mais à frente.

Na sexta-feira, relatos locais apontaram que dois índios venezuelanos morreram após tentarem impedir a passagem de um comboio militar das tropas chavistas que se dirigiam a fronteira para reforçar o bloqueio na fronteira.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que está em Pacaraima, afirmou que a expectativa era que as forças de segurança da Venezuela permitam a entrada dos primeiros caminhões com a ajuda humanitária a partir do lado brasileiro.

O chanceler brasileiro ainda afirmou que a ajuda humanitária é exclusivamente humanitária e que não se trabalha com a perspectiva de que haja qualquer conflito na fronteira.

"Não há menor expectativa de conflito, claro que o Exército está preparado (para agir) caso isso possa se materializar”, ressalvou o ministro das Relações Exteriores.

O governo em Caracas insiste em negar a existência de uma crise humanitária nacional. A afirmação contradiz os dados mais recentes das Nações Unidas situando em 3,4 milhões o atual número de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo.

Maduro encara a entrada dessa ajuda humanitária como um "cavalo de Troia", supostamente dando início a uma intervenção militar dos americanos, além de ter justificado a carestia nacional com as sanções impostas por Washington.

Na véspera, o Brasil reafirmou que vai manter a operação de entrega de ajuda humanitária à Venezuela através da fronteira brasileira neste sábado e nos próximos dias, mesmo com o bloqueio anunciado por Maduro.

O chanceler brasileiro ainda afirmou que a ajuda humanitária é exclusivamente humanitária e que não se trabalha com a perspectiva de que haja qualquer conflito na fronteira.

"Não há menor expectativa de conflito, claro que o Exército está preparado (para agir) caso isso possa se materializar”, ressalvou o ministro das Relações Exteriores.

JPS/ots

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube 
WhatsApp | App | Instagram | Newsletter

Pular a seção Mais sobre este assunto