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Começa julgamento de casal que vendia menino para sexo

Rebecca Staudenmaier
11 de junho de 2018

Garoto de nove anos teria sido oferecido para sexo na darknet por sua mãe e seu parceiro. Ambos enfrentam múltiplas acusações. Caso gera indignação também contra as autoridades locais, que falharam em proteger a criança.

Indignação não apenas contra os abusadores, mas também contra as autoridades que não conseguiram protegê-loFoto: picture alliance/dpa

Em janeiro, foi revelado que a polícia estava investigando uma rede de pedofilia na cidade de Staufen, no sudoeste da Alemanha, perto de Freiburg, onde um menino de nove anos de idade foi abusado por dois anos por sua mãe e seu parceiro. O caso chocou a Alemanha, incluindo a polícia, que descreveu o cenário como um dos piores casos de abuso sexual infantil já investigado no país.

O parceiro também postou material pornográfico do garoto na chamada darknet – páginas na internet que só podem ser acessadas por meio de softwares especiais – e ofereceu a criança para ser abusada sexualmente em troca de dinheiro, tudo com a anuência da mãe.

Foram necessárias três horas para os promotores lerem a acusação de mais de 100 páginas no tribunal, nesta segunda-feira (11/06), contra a mãe do menino e seu parceiro, que são os dois principais suspeitos. Ambos enfrentam acusações de estupro, prostituição forçada e outras ofensas em mais de 50 ocasiões.

Promotores afirmam que a mãe teve um papel importante em facilitar e até participar dos abusos contra seu filhoFoto: picture-alliance/dpa/P. Seeger

Indícios desde o início

Embora haja vários suspeitos acusados de envolvimento na rede de pedofilia, os promotores afirmaram que Berrin T., a mãe de 48 anos do menino abusado, e Christian L., o parceiro de 39 anos, eram os principais perpetradores.

Mas havia sinais de alerta prévios ao abuso em Staufen. De acordo com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, Christian L. recebeu em 2005 uma sentença suspensa de um ano de prisão por ter pornografia infantil em seu computador e em seu smartphone. Alguns anos depois, em 2010, Christian L. foi condenado a mais quatro anos de prisão por abusar sexualmente de uma menina de 13 anos.

Em ambas as vezes, ele foi ordenado a fazer terapia e afirmou que estava dispostos participar das sessões. Após sua liberação em 2014, ele foi considerado um indivíduo com um alto risco de recaída e foi impedido de ter contato com crianças ou jovens – apenas sob a supervisão dos pais da criança ou algum responsável legal.

No início de 2015, Christian L. e Berrin T. se tornaram um casal e, logo em seguida, ele começou a abusar sexualmente do filho da parceira, segundo os promotores. A petição de Christian L. para que sua proibição de contato com crianças fosse suspensa foi negada em agosto de 2016. No entanto, mesmo assim, ele foi morar com Berrin T. e seu filho algumas semanas depois, na cidade de Staufen.

Os promotores alegaram que, durante esse período, Berrin T. também permitiu que Christian L. abusasse sexualmente de uma menina com deficiência mental de três anos, que estava temporariamente sob os cuidados de Berrin T. A mulher filmou os incidentes.

Apesar dos avisos da polícia, autoridades locais não conseguiram manter Christian L. afastado do menino Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger

Christian L. continuou com os abusos contra o filho da parceira. Além de postar imagens pornográficas do menino na darknet, o casal também decidiu começar a oferecer o garoto para abusos físicos, agressões e estupros a usuários alemães e de outros países europeus em troca de dinheiro.

De acordo com os promotores, Berrin T. costumava levar o filho aos encontros com os homens. Ela forçava o garoto a participar com ameaças de que ele acabaria num orfanato caso não consentisse. Supostamente, ela também participou das agressões sexuais propriamente ditas.

Erro de julgamento das autoridades

Em março de 2017, o departamento local de assistência social da juventude entrou em cena e assumiu a custódia do menino, depois que um detetive da polícia relatou às autoridades que Christian L. estava morando no apartamento com ele.

Berrin T. se opôs à decisão e, eventualmente, ganhou a causa na Justiça. Depois de poucas semanas, seu filho estava de volta a casa. No entanto, ela foi ordenada a não permitir que Christian L. entrasse novamente no apartamento. Ele também foi impedido de ter contato com o menino, mesmo com a presença de Berrin T. O casal ignorou a ordem judicial e Christian L. continuou tendo contato com o garoto.

Tribunais locais e o departamento responsável pelo bem-estar juvenil tentaram se eximir de culpa depois que a terrível situação veio à tona – o departamento de assistência social da juventude afirmou que o menino não mostrava sinais de abuso na época.

Em maio, um soldado alemão de 50 anos foi condenado a oito anos de prisão por abusos sexuais contra o meninoFoto: picture-alliance/dpa/P. Seeger

Rede de pedofilia desmantelada

Em setembro de 2017, houve um avanço significativo no caso. Uma denúncia anônima enviada ao Departamento Federal da Polícia Criminal afirmava que o menino de nove anos havia sido abusado sexualmente. Investigadores então abriram uma investigação maciça sobre o casal, que resultou na detenção de Christian L. e Berrin T. Nas semanas seguintes, outras seis pessoas foram presas em conexão com a rede de pedofilia. Ao todo são oito réus. Todos estão sendo julgados separadamente.

Vários dos homens que abusaram do menino compareceram ao tribunal. Um alemão de 41 anos foi condenado a 10 anos de prisão por estupro e abuso sexual grave em meados de abril. Um soldado de 50 anos do Exército alemão foi condenado em maio a oito anos de prisão por estuprar o garoto duas vezes, além de filmar e divulgar o material pornográfico na internet.

Um terceiro homem, um suíço de 37 anos, confessou no início de junho ter agredido sexualmente o garoto em três ocasiões, por um preço total de 50 euros, além de ter dado ao menino um cheeseburguer u um computador usado.

Nesta segunda-feira, começou o julgamento de um alemão de 44 anos que fez uma oferta a Christian L. na darknet, na qual perguntou se ele poderia agredir sexualmente o garoto e depois matá-lo.

À medida que mais detalhes horripilantes sobre os dois anos de abusos contra o garoto eram divulgados, crescia a indignação da opinião pública alemã – não apenas contra aqueles que participaram dos abusos sexuais, mas também contra as estruturas e as autoridades que não conseguiram protegê-lo.   

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