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PolíticaMianmar

Começa julgamento de San Suu Kyi em Mianmar

14 de junho de 2021

Chefe de governo deposta pelo golpe militar é acusada de desrespeitar regras contra a pandemia, de incitação a protestos e de posse de walkie-talkies não registrados. Apoiadores afirmam que há motivações políticas.

Cartaz de Aung San Suu Kyi durante protesto em Mianmar
Manifestantes protestam contra o golpe militar e a prisão de Aung San Suu Kyi Foto: REUTERS

O julgamento da líder deposta de Mianmar, Aung San Suu Kyi, começou nesta segunda-feira (14/06) em Nepiedó, a capital administrativa do país. O tribunal pretende encerrar o julgamento em 180 dias.

A organização Human Rights Watch afirmou ser pouco provável que ela tenha um julgamento justo, pois as restrições impostas fazem com que ela seja impedida de ter acesso aos advogados num tribunal controlado pela Junta Militar.  

Além de San Suu Kyi, de 75 anos e em prisão domiciliar desde o golpe militar de 1º de fevereiro, são também julgados o ex-presidente Win Myin e o ex-governador da capital Myo Aung.

Acusada em vários processos

A antiga conselheira de Estado e ministra do Exterior é acusada de não respeitar as normas de segurança estabelecidas para combater a propagação da pandemia de covid-19, podendo ser condenada a três anos de prisão. 

San Suu Kyi é também acusada de incitação à mobilização pública e de ter importado seis walkie-talkies sem registro. Por isso ela pode ser condenada a até dez anos de prisão e, nesse caso, não poderia concorrer numa nova eleição, que foi prometida pelos militares.

A líder deposta enfrenta ainda um segundo processo, este no Tribunal Supremo, por violação da lei de informações secretas, com pena máxima de 14 anos, e cujo julgamento deverá começar na terça-feira.

Na sexta-feira passada, ela também foi acusada de corrupção e de ter recebido 600 mil dólares e 11 quilos de ouro.

Os advogados de San Suu Kyi negam todas as acusações. Eles somente puderam se encontrar duas vezes com ela depois da detenção.

Fim da democracia

O golpe militar liderado pelo general Min Aung Hlaing em 1º de fevereiro acabou com dez anos de transição democrática no país. San Suu Kyi era a chefe de governo de facto.

Protestos contra o golpe estão sendo duramente reprimidos: mais de 800 pessoas já foram mortas pela violência militar, e outras 6 mil estão detidas.

Os militares justificam o golpe com uma suposta fraude na eleição de novembro passado, que foi vencida pelo partido de San Suu Kyi por larga margem. Mas observadores internacionais disseram que o pleito foi legítimo.

Os advogados e apoiadores de San Suu Kyi disseram que o julgamento tem motivações políticas e que o objetivo dos militares é retirá-la da política.

San Suu Kyi recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1991. Ela passou mais de 15 anos em prisão domiciliar durante o governo militar anterior, até ser libertada em 2010.

A reputação internacional dela caiu muito depois de ela defender o Exército de Mianmar das denúncias de atrocidades e limpeza étnica da minoria muçulmana rohingya. Após o golpe de fevereiro, ela recuperou parte do seu prestígio como ícone democrático de Mianmar.

as/ek (Lusa, Efe, AFP, Reuters)

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