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Começa Festival de Teatro do Vale do Ruhr

Stefan Keim (ca)30 de abril de 2014

A começar no Dia do Trabalho, a ex-área mineira se torna metrópole cultural. O Festival de Recklinghausen é um dos maiores da Europa. O programa deste ano, dedicado às ilhas, vai de Shakespeare a uma sátira sobre Merkel.

Foto: Souheil Michael Khoury

De 1° de maio a 15 de junho, o Festival de Teatro do Vale do Ruhr, em Recklinghausen, une teatro de qualidade e entretenimento. No inverno de 1946-47, em pleno pós-guerra, os mineiros locais contrabandeavam carvão para ajudar os profissionais de teatro em Hamburgo, ludibriando as forças de ocupação aliadas. Desde então, o evento no norte da região do Vale do Ruhr é mantido.

Seu programa é extenso. Além de clássicos teatrais, há muitos textos inéditos, poéticos shows circenses, noites de kabarett (a standup comedy alemã), concertos e um Fringe Festival para os novos talentos, nos moldes do evento homônimo em Edimburgo, Escócia.

Neste ano, o diretor do festival, Frank Hoffmann, proclamou como slogan "Terra à vista", dedicando-o a produções que têm a ver com ilhas.

"A tempestade", direção de Gísli Örn GarðarssonFoto: Andreas Pohlmann

Shakespeare na câmara de tortura

Logo vem à cabeça a hermética comédia A tempestade, de William Shakespeare. Prospero, velho mago e ex-duque de Milão, é o senhor de uma ilha, à qual um naufrágio leva aqueles que o baniram, muitos anos atrás.

A montagem do islandês Gisli Örn Gardarsson transcorre, no entanto, numa masmorra de torturas. Trata-se de uma encenação ousada, que suscita controvérsias desde sua estreia no Residenztheater de Munique.

"Mutti", direção de Hasko WeberFoto: Thomas Müller

Chanceler federal em retiro

Recklinghausen também é palco de numerosas estreias. O Festival de Teatro do Ruhr tem colaboração estreita com vários teatros, que posteriormente colocam as novas peças em sua programação. Por exemplo, o Teatro Estatal de Stuttgart traz a a comédia Purpurstaub (Poeira púrpura) do irlandês Sean O'Casey. E o Teatro Nacional de Weimar estreia a sátira Mutti, de Juli Zeh e Charlotte Roos.

"Mutti"(Mamãe) é o apelido da chanceler federal alemã, que aqui se retira em conclave, junto com seu gabinete de governo, enquanto o país desmorona ao redor. A peça se passa em meados de 2014, ou seja, praticamente no presente.

Em "Eh Joe", de Beckett, Michael Gambon é dirigido por Atom EgoyanFoto: Anthony Woods

Espaço para Beckett

O Festival do Ruhr faz quase uma retrospectiva da obra Samuel Beckett (1906-1989). As absurdas visões de desorientação existencial do dramaturgo irlandês, das quais emana um estranho calor humano, há muito são clássicos do teatro universal.

Além de Esperando Godot e Fim de partida, as obras mais conhecidas, há uma noite com os monólogos breves. OGateTheatre de Dublin, um dos mais importantes teatros irlandeses, apresenta I'll go on eEh Joe. Para protagonista desta última, o renomado cineasta Atom Egoyan (O doce amanhã) escolheu o inglês Michael Gambon, que se tornou conhecido internacionalmente no papel do Professor Dumbledore dos filmes de Harry Potter.

"Cenas de um casamento", clássico bergmaniano encenado por Jan BosseFoto: Bettina Stöß

Estrelas do cinema alemão

Estrelas não faltam em Recklinghausen, e alguns dos rostos mais conhecidos do cinema alemão estão presentes. Joachim Król atua em Cenas de um casamento, de Ingmar Bergman; Juliana Köhler participa da inédita Phosphoros, do jovem dramaturgo Nis-Momme Stockmann, bastante aclamado no momento.

Hannelore Elsner, Katja Riemann e Ulrich Matthes, igualmente astros do cinema e TV alemães, oferecem recitais de leitura. A série literária das manhãs de domingo faz incrível sucesso, geralmente lotando o grande teatro do festival. O último evento do ciclo lembrará o recém-falecido ator Maximilian Schell, presença assídua no festival.

Cena de "Island One Way'" com direção de Christian SchäferFoto: Volker Zimmermann

Islândia vem de Gütersloh

Particularmente interessantes são as numerosas pequenas montagens, entre as quais se escondem algumas pérolas. Por exemplo, Island One Way, uma comédia criada no Teatro Gütersloh, cujo novo diretor, Christian Schäfer, quer começar a promover produções próprias, quebrando a tradição da casa. Assim, ele conheceu o compositor de canções islandês Svavar Knútur e o convidou para a cidade no oeste alemão.

A peça conta a história de um jovem casal alemão que vai para a ilha dos gêiseres e das grutas, para tentar renovar seu relacionamento em frangalhos. Porém os dois saltam de uma situação absurda para outra. Com enorme verve cômica, Svavar Knútur representa todos os islandeses com que os turistas se deparam.

Tenda serve de locação para o Festival de Teatro do RuhrFoto: Ruhrfestspiele Recklinghausen

Recorde de público

Há muito, as peças não são encenadas apenas no chique teatro em Recklinghausen: no decorrer dos anos, o festival passou a ocupar uma série de locais de apresentação. Além das várias tendas teatrais espalhadas pelos gramados, um pavilhão industrial foi transformado em palco, assim como o Palácio de Herten, e há também espetáculos no teatro da vizinha Marl.

Sob a direção de Frank Hoffmann, a cada ano o evento bate novos recordes de público. A razão para tal está na boa mescla de grandes espetáculos, muitas estreias e experimentos, com shows, kabarett e diversão. O Festival de Teatro do Ruhr não é um ritual para a elite cultural, mas sim um panorama de artes cênicas aberto a todos.

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